Questão de atitude

Por Glauco Fonseca * Eu era contato comercial da Rádio Atlântida. Isso lá em 1987. Gostava de vender e o rádio sempre foi uma …

Por Glauco Fonseca *
Eu era contato comercial da Rádio Atlântida. Isso lá em 1987. Gostava de vender e o rádio sempre foi uma coisa que funcionou, desde que o cliente tivesse um mínimo de estratégia e não se limite a simplesmente colocar um comercial no ar e esperar atrás do balcão. Em outra hora, eu falo mais sobre isso.
Em 87 já tinha computador no Brasil. Mas as propostas a gente ou fazia em máquina de escrever ou, de vez em quando, no Wordstar. Nada mais. O negócio era no gogó mesmo, "pasteando", como sempre me ensinava o Augustão.
Ao lembrar do professor Augustão lembrei-me de dois episódios muito especiais, um em que ele protagonizou e outro em que a estrela fui eu, a partir dos ensinamentos do guru. Ambas têm muito a ver com os dias de hoje.
A primeira: Augustão gritou no salão da Correa Lima: "Vâmo pasteá gordinho". E fomos os dois gordinhos "pastear". Chegamos a uma agência pequena na Protásio Alves, cujo nome e o dono são de meu total esquecimento. Sentamos diante do cara e o Augustão: E aí, fulano, como vão os negócios?
Praquê. O cara começou a desfiar as maiores agruras, azares, tormentos e pesadelos que tinha tido nos últimos anos e, passados menos de cinco minutos, o Augustão me pega pela mão e me levanta da cadeira. "Bom, tamo indo embora". Eu não entendi o porquê da pressa e, na escadaria, aos tropeços, me disse o Augustão: "Vâmo gordinho, porque nós que somos pasteiros precisamos manter o astral alto e não podemos perder tempo com urucubaca. Quando o astral do fulano melhorar, a gente volta".
Passados 17 anos desta Augusta parábola, lamento ainda encontrar pessoas mais ou menos importantes, mais ou menos talentosas, mais ou menos ricas, falando mal do mercado, da cidade, do estado, da vó do Badanha. Estão todos se esquecendo de dar exemplo, de criar padrões mais elevados e, pior, estão se acostumando a falar sem parar de suas tristezas e insucessos. É que nem o cara chato que só vai ao teatro quando está com tosse.
Eu tenho um parente assim. Bastava perguntar como é que ele ia que ele se desdobrava em contar todos os seus problemas. Um dia, chamei-o num canto e pedi que, quando eu perguntasse se estava tudo bem, que ele, então, mentisse.
Outra historinha é decorrente da primeira (eu ainda Contato Comercial da Rádio Atlântida), envolvendo atitude e também ética. Fui visitar um grande cliente. Sentei-me à frente do cara, escritório bacana e tudo. E ele lascou: "É verdade que o cara aquele da rádio tal é viado?". Minha primeira reação foi um sorriso em tons pastéis puxando para o mediterrâneo. Em seguida, disse para o cara: "Escuta, Seu Cicrano, com todo o respeito e correndo o risco de nunca mais fazermos negócio, não é agradável este tipo de conversa a respeito dos meus colegas. Não é legal e sei que entendes, pois não gostarias que teu pessoal agisse desta forma". Bom, resumindo, o cara achou legal da minha parte partir para a defesa do companheiro, fechamos muitos negócios, naquele dia e durante bastante tempo, até que um dia ele foi preso por sonegação?
Atitude e ética é legal manter em alta.

Experimenta!
P.S. "Pastear" era sair para vender, com a pasta, as tabelas, planos, etc,. e pasteiro é como se chamavam os Contatos Comerciais de veículos. Os bons, é claro.
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