Cérebros e célebros

Por Fraga

O cérebro tem mais funções que qualquer celularzinho 8G. O problema é que qualquer criança investiga o celular até deslindar milhares de funções. O ser humano, basicamente, utiliza 4 ou 5: acordar, dormir, comer, beber, transar. Quando transam, quero dizer.

(A Rachel Welch dizia que a mente é uma zona erógena. O Einstein, que aparentemente mal trepava, disse que a mente era uma região alucinógena (ele não disse isso, mas não ficou parecido com uma sacada dele?); já o dr. Dráuzio Varella diz que o cérebro é uma área cancerígena mas esse, coitado, só pensa nisso.)

O cérebro, nem todos imaginam, pensa sem parar. Mesmo que o usuário não esteja pensando em pensar, o cérebro tá sempre a mil. Sua agilidade corresponde a uma calculadora, que usamos com a lerdeza de contagem feita nos dedos.

Deixar de praticar com o cérebro é perigosíssimo. O cérebro pode acabar concluindo que foi instalado numa anta. A partir daí, se adapta ao animal que você parece ser. Não que a anta seja tão estúpida quanto uma pessoa. Mas a anta e seu cérebro fazem um par perfeito, enquanto certas pessoas nem cogitam algo além do ímpar.

O valor do cérebro, do bem aproveitado, é imenso. Há circunstâncias em que ele é supervalioso. Na hora de escolher em quem votar. Ou o contrário: no momento de decidir em que não merece voto. Em quem não merece o voto justamente por alguma razão ou várias delas: 1) não tem cérebro 2) tem, mas não usa 3) usa, porém de forma incompetente 4) usa apenas pra abusar do eleitor ou da coisa pública, geralmente ambas 5) usa só a função burrice, daí os danos que as nulidades acarretam ao País.

O cérebro e o título de eleitor deviam ser mais íntimos. Eleições simuladas todo ano, ou todos os meses! Até se aprender que causa e consequência, na política - como em tudo quanto é assunto -, andam sempre xifópagas.

O cérebro, ao contrário da pessoa em volta dele, gosta do horário político. Ele tem olfato apurado: logo detecta candidatos sem cérebro. Ele manda aviso: olha, nesse idiota não vote. Não anote os números de inscrição eleitoral da maioria desses que você acabou de ouvir. É, o cérebro tá sempre alerta. Você pode desligar a TV mas não pode desligar o cérebro. Confie nele.

Já usei muito o cérebro e já votei muito com o cérebro. Nas vezes em que não adiantou a parceria, eu e meu cérebro ficamos em paz: afinal, se a confiança da gente foi traída, a traição começou a partir da urna. Cada eleição serve de experiência. O cérebro é ótimo em experimentar.

Quanto aos vices, vale lembrar: o Brasil é viciado neles. Não o seu cérebro.

 

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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