Melhorias de minorias melhoram maiorias

Alguém de outro planeta me pergunta: por que enfileirar presenças na Parada do Orgulho Gay ou qualquer outra passeata por direitos iguais? Respondo daqui …













































Alguém de outro planeta me pergunta: por que enfileirar presenças na Parada do Orgulho Gay ou qualquer outra passeata por direitos iguais? Respondo daqui mesmo: porque é uma manifestaç?o progressista - diminui hipocrisias e afasta injustiças, pra começar. E é estratégica. Hoje, a conquista é de um segmento; amanh?, doutro. Nem que seja por pressa de conquistas, temos que tirar essa reivindicaç?o do topo da lista, pra que suba a próxima. Se você n?o apoiar a luta dos diferentes de você, as diferenças continuam. E você, n?o vai querer que adejem ades?es à sua causa?


Quando gays e lésbicas tiverem de fato direitos iguais - o direito que você já tem e nem nota, que é o de tratar da sua vida como você bem entende - aí, quem sabe, poderá ser a vez de milhares de pessoas na rua pelo direito, digamos, do aborto.


O quê, Fraga? Você é a favor de interromper a vida?! Sou a favor de interromper a clandestinidade do aborto. Essa indústria rende megas senas à classe médica, sustenta funerárias, mantém católicos na Idade Média e poupa os políticos do esforço de fazer o país avançar, pelo menos, nos direitos civis. A vítima maior do aborto é a sociedade, e a sua imobilizaç?o, um feto consumado.


O que nos leva a outro movimento, o da cultura negra e a legitimaç?o do seu espaço no ensino superior. (O que me leva a uma frase de efeito, sem efeito algum: há dois tipos de cotas - as que tocam aos outros e as que n?o tocam a você.)


Justa ou n?o, a atual cota étnica nas universidades tem uma precedente no passado, essa sim definitivamente injusta: a cota de miscigenaç?o. Pois enquanto os portugueses miscigenavam as negras e as indígenas à vontade,os negros e os indígenas n?o podiam nem ter vontade de miscigenar as portuguesas. Daí a tese do dia: essa cota ancestral gerou a cota universitária. Que por sua vez pariu um monstro genético, sem cor nem cara. Na certid?o de nascimento dele, tá lá: pai, o atraso social brasileiro; m?e, a deficiência da escola pública. Sei lá qual o mais fértil, quem fecundou quem. Só sei que o rebento sem acesso cresce sem cessar. Um dia rebenta.


Na falta de orgulho próprio, siga a multid?o na Parada Gay. Atrás dela só n?o vai quem n?o tem nada a minorar.


O gabarito de um prédio é absoluto mas o gabarito
de um Plano Diretor é relativo.
.Assim, um Plano Diretor com altos e baixos pode ser bom,
mas um Plano Diretor com altos e altos é desastroso.



No Brasil, todo mundo quer enrabar todo mundo.
Pena que n?o seja sexualmente.


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Apesar de tudo, o Brasil n?o pára de progredir. Nossos
desempregados est?o cada vez mais qualificados.


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O Brasil já compensa sua má distribuiç?o de renda.
Instituiu uma farta distribuiç?o de renda-se.


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Para ampliar a sociedade emergente, o Brasil tem
manancial: é só levar inundaç?es a todo o território nacional.


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Uma coisa o Brasil tem pra ensinar aos países menos corruptos:
as ilicitaç?es públicas.



Este "Fraga" é um belo presente de Paolo Aprea, um dos raros ambigramistas italianos que conheço.
Para confirmar a habilidade dele, visite o site http://paoloaprea.altervista.org Semana que vem, as primeiras amostras, com peças maravilhosaa de vários autores. Inté.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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