Compensações descompensadas
Quem está com cara de quem comeu e não gostou, pelo menos comeu. Quem neste verão entrou numa fria está numa cela refrigerada. Quem …
Quem está com cara de quem comeu e não gostou, pelo menos comeu. Quem neste verão entrou numa fria está numa cela refrigerada. Quem levantou com o pé esquerdo foi mais longe que um entrevado. Quem deu o braço a torcer está apto ao contorcionismo. Quem está por um fio ainda não foi apanhado na teia. Quem não tem onde cair morto fica em pé mais tempo. Quem foi desta para melhor finalmente saiu da eme em que estava. Quem ficou chupando os dedo perdeu só os anéis. Quem é passado pra trás não é mais perseguido. Quem já deu o que tinha que dar, agora está livre dos pedintes. Quem caiu no conto do vigário já pagou os pecados. Quem está com a corda no pescoço não está com a garganta desagalhada. Quem subiu pelas paredes viu a crise do alto. Quem não se aguenta mais nas tamancas descalço não está. Quem chorou o leite derramado lubrificou os olhos. Quem ficou a ver navios curtiu a paisagem. Quem caiu em si foi aparado pelo ego. Quem dançou conforme a música, deu um show. Quem está desenganado não se equivoca mais. Etc.
A visita de Francisco pela América
Latina promove o castelhano:
a voz do povo é a voz do papa.
A meningite tem um efeito colateral
sobre o calendário: toda vez que
ocorre uma epidemia, como agora,
nossa época regride um século.
Protestar é muito saudável.
Reparem na saúde dos
nossos cartórios de protestos.
ENQUANTO ISSO, NUMA RUA DO CENTRO
Soneto da Insegurança Pública
(Sobre o poema de Vinícius de Moraes)
De repente nas ruas fez-se o deserto
Ameaçador e escuro como os vultos
E das bocas mudas fez-se os sustos
E das mãos ao alto fez-se seqüestros
De repente da farda fez-se ausência
Que dos olhos desfez o patrulhamento
E do camburão fez-se estacionamento
E do crime comum fez-se ocorrência
De repente, não mais que de repente
Fez-se o quartel esconderijo policial
E sem pensar se desfez o contingente
Fez-se do vigilante próximo o distante
Fez-se da vida um risco governamental
De repente, não mais que de repente.