Como entender a tendência de mudança do eleitorado

Na maior parte das pesquisas que o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião realiza nas mais variadas cidades do RS, verifica-se a tendência de …

Na maior parte das pesquisas que o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião realiza nas mais variadas cidades do RS, verifica-se a tendência de mudança. Via de regra o indicador de tendência de continuidade ou mudança estava associado aos indicadores de gestão do governante. Atualmente esses indicadores, necessariamente, não conversam mais entre si.
A investigação do fenômeno tem indicado que o conceito de tendência de mudança não está mais associado a mudança do gestor ou de seu grupo e sim há uma mudança na forma de governar. O conceito está associado a percepção de que um governante precisa conhecer a necessidade e a capacidade de melhoria dos serviços públicos  e mostre proximidade do candidato/gestor com a população. Que as estruturas sejam mais ágeis, menos burocratizadas e que atuem para melhorar a vida cotidiana da população. Em outras palavras, o eleitor está dizendo: "precisa mudar, os políticos precisam entender e respeitar a população!", "não importa quem seja o Prefeito, importa que ele faça diferente, que ele cumpra o que prometeu".
O eleitor vive o seu maior pico de ceticismo com a política, deseja confiar em um candidato que tenha condições de "cumprir o que promete" e que suas características pessoais validem este sentimento de confiança (fio de bigode) somado as condições dadas para governar (partido com credibilidade, ter equipe para governar, conhecer os problemas da cidade, ter plano de governo factível?).
Essa tendência de mudança será alimentada pela cultura política personalista do eleitor. Neste contexto o voto deve ser compreendido como uma rede de relações que transcende os domínios da política. Há uma "dimensão de naturalização" do processo eleitoral que fomenta uma situação paradoxal que permite que o eleitor, ao mesmo tempo desconfie do processo eleitoral e atribua importância ao ato. O eleitor vive em um permanente estágio de frustração e esperança. Esse paradoxo explicaria as constantes mudanças do comportamento eleitoral. A maior parte do eleitorado vive na permanente busca do "bom candidato".
No imaginário social dos eleitores, a política não possui nenhuma ligação direta com a sua existência. "Uma coisa é a política, outra coisa são os governantes". Na percepção da maioria do eleitorado, os governantes não conseguem efetivar suas "promessas" em função da "política". A política, para os eleitores, é vista como uma disputa pelo poder, onde todos os políticos são "quase iguais". Num sentido hobbesiano, é como se o "mal" fosse algo perene a todos os políticos.
Entretanto, quando se aproximam as eleições, no "tempo da política", os eleitores precisam escolher, como eles próprios definem: "o menos pior", trata-se de um movimento contingente de aproximação, na hora da escolha eleitoral e de afastamento da política, "na hora da luta diária".
Os eleitores, mesmo descrentes e desinteressados, não deixarão de ter expectativas. Essas expectativas alicerçam-se em esperanças. Esperança por dias melhores, por promessas cumpridas, por melhores condições de vida? Desprovidos de saber político, não atribuem importância à sua participação política e depositam muita importância ao governante. Cada vez mais as percepções negativas do funcionamento do sistema político tendem a produzir atitudes de agressividade em relação a vida pública.
A cada eleição, munidos unicamente de esperanças e não de mecanismos de participação política, os eleitores introjetam em seus sistemas de crenças uma "certa expectativa", "mais uma nova esperança". A cada promessa não cumprida, a cada escândalo de corrupção ou de malversação de recursos públicos, as expectativas da população revertem-se em frustrações. A esperança gradativamente transforma-se em decepção. Mas os eleitores, céticos, são constituídos por seres humanos que sonham e, por sonharem, não deixam de ter esperanças na mudança.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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