Somos todos jornalistas

A faculdade não forma assessores de imprensa, repórteres, produtores ou editores. Saímos de lá habilitados para fazer comunicação social, exercer o jornalismo. A opção …

A faculdade não forma assessores de imprensa, repórteres, produtores ou editores. Saímos de lá habilitados para fazer comunicação social, exercer o jornalismo. A opção por seguir em assessoria ou em veículo vai do gosto pessoal e das oportunidades que surgirem.
Um depende do outro e quanto mais saudável e recíproca for essa relação, melhor para os dois lados. Relacionamento se constrói com o tempo e não basta só ser simpática ou ter uma carinha bonita. Tem que ter boas pautas, ser disponível, trocar verdades e jogar limpo sempre. Infelizmente, na prática não é sempre assim.
Do lado de lá
Para escrever este texto, conversei com diferentes colegas de variados veículos, com o intuito de ter o olhar deles, já que estou do lado da assessoria. Aqui no Estado temos a sorte de contar com colegas que ao atenderem o celular e serem questionados: "Oi, pode falar agora? Está trabalhando?", respondem "Claro, sou jornalista 24 horas". - Uma pausa para dizer que estes são os que eu mais admiro.
Uma grande colega e amiga comentou que quando a pauta for quente, posso ligar até para a mãe dela. Porém, quando a ligação é para fazer follow (recebeu o email?) ou pedir divulgação de evento, perde-se uma fonte. Na conversa, ela pediu que eu salientasse que eventos quase nunca são notícias. Tem aqueles assessores que convidam um repórter especializado para comparecer a um evento que nada tem a ver com as pautas que ele produz. E pra piorar, ligam insistentemente para confirmar presença.
Soube ainda de casos em que os nomes de alguns assessores foram gravados na agenda como "não atender", por nunca terem passado alguma pauta interessante. O "timing" também foi super lembrado pelos colegas dos veículos. Ligar 15 minutos antes do início do programa ao vivo para vender uma pauta para a semana que vem?não, né?
E tem também assessores com estrelinha marcada no mailing do veículo, que fazem de tudo para conseguir responder - em tempo - o pedido do colega. É uma via de mão dupla, uma relação que tem e precisa ser positiva para os dois. "Os assessores são fundamentais para o nosso trabalho. São os nossos olhos onde não podemos estar", destacou uma das minhas fontes.
Do lado de cá
Emplacar uma pauta e depois assistir/ler/ouvir é sempre uma felicidade, como se fosse a primeira vez. Antes da veiculação, tem todo um trabalho e muita dedicação por trás. O feeling e o desafio de construir um tipo de pauta para cada veículo é um dos combustíveis dessa vida de assessoria. Facilitamos a nossa vida e a dos colegas dos veículos. Batemos pé com os assessorados sobre o que é ou não notícia e sobre tantas outras coisas que pouca gente sabe. Muitas vezes podemos, para eles, até parecer que estamos do outro lado, quando na verdade, estamos também. Lidamos com verdade, com informação, com transparência. Construímos relações.
Mas tem alguns percalços nesse caminho, devemos admitir. E o respeito e a confiança são premissas. O repórter, por si só, tem ou consegue o celular da fonte quando quiser. Mas o respeito por primeiro conversar com o assessor é bom e todo mundo gosta. Não tem coisa mais constrangedora (e indignante) para um assessor do que saber que rolou alguma entrevista/contato sem o seu consentimento. Pior ainda é saber quando já foi veiculado.
Dia desses uma situação inusitada aconteceu, quando ao tentar resolver uma questão com um cliente, uma terceira voz surgiu no meio da ligação, que então se identificou como sendo da imprensa. Ela estava na escuta, mas até hoje ainda procuro o motivo pela invasão, quando na verdade um simples contato iria esclarecer o que ela buscava de informação. Quando eu vou sugerir uma pauta pra ela? Infelizmente, o nome nem consta mais no meu mailing.
De novo insisto, somos todos jornalistas e a informação é o nosso dia-a-dia. Mascarar, inventar moda ou polemizar só vai dificultar o objetivo comum de comunicar a verdade e de prestar este importante serviço à sociedade.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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