Um jornalismo com menos lágrimas

Esse sensacionalismo exagerado, essa falta de noção da dor dos outros e essa sede de perguntar o desnecessário estão me tirando a vontade de …

Esse sensacionalismo exagerado, essa falta de noção da dor dos outros e essa sede de perguntar o desnecessário estão me tirando a vontade de ler/assistir/ouvir algumas entrevistas. Eu, que sempre fui apaixonada por noticiários, ando preferindo assistir desenho animado com meu filho de quatro anos.
Imagens do velório de alguma vítima da violência urbana, entrevistas com parentes próximos - às vezes no cemitério! -, questionamentos como "e agora, como será daqui pra frente?" não fazem parte, no meu entendimento, de um bom e saudável jornalismo. Que me perdoem os colegas que atuam nessas coberturas e que, por vezes, são pautados para realizar essas perguntas, mas não precisamos disso. Antes, eram características de alguns veículos e programas específicos. Agora, o negócio está sem freio. Vale tudo por uma lágrima.
Assisti a entrevista exclusiva com a mãe da Sophia - menina que, com quatro aninhos, perdeu a vida, supostamente assassinada pelo pai - em um dos meus programas prediletos da tevê. E, na véspera do Natal, me deparo com o repórter questionando a mãe: "e como será o primeiro Natal sem a Sophia?". Poooxa, como será que vai ser? Essa pergunta tem apenas uma resposta, caro colega. E, depois, ele seguiu perguntando como a mãe se vê de agora em diante. Convenhamos que não é difícil de imaginar como seria se pensássemos nos nossos. Li também a entrevista com o pai da Dóris - jovem assassinada em São Francisco de Paula. Baita depoimento dele, demonstrando o grau de evolução espiritual que ele carrega consigo. Mas e as perguntas? "Como foi o Natal em família? Como o senhor acredita que será a vida da sua família, daqui pra frente, sem a Dóris? E, para terminar, qual a mensagem que mandaria para a filha, se tivesse como enviar?".
Santo Deus, por quê? O desafio é para ver qual entrevistado chora mais? A tal da busca pela audiência fez a mídia perder o bom senso? Mais respeito, mais noção e menos desespero por uma entrevista, por favor. Deixa a dor se acalmar, muda o foco, busca uma foto alegre, uma pauta menos trash. Minha coluna de hoje busca um pouco de esperança para um 2016 com um jornalismo mais informativo do que apelativo.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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