O poeta que flanava

“O homem é um animal de dois pés, sem plumas, que fuma e caminha”. “La Physiologie de la Flâneur”. No dia 25 de junho …

"O homem é um animal de dois pés,
sem plumas, que fuma e caminha".
"La Physiologie de la Flâneur".
No dia 25 de junho de 1857, um escândalo causa grande comoção e agita os meios literários parisienses. Charles Baudelaire acaba de publicar um poema intitulado "Les Fleurs du Mal". O jornal Le Figaro o acusa de "afrontar a moralidade e decência". Mesmo condenado a pagar pesada multa, o poeta não se deixa intimidar e continua a desfrutar de um de seus grandes prazeres - flanar pelas ruas de Paris.

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Os ataques moralistas a Baudelaire provocam a reação de alguns notáveis da literatura de França. Gustave Flaubert e Victor Hugo lhe prestam imediata solidariedade. Victor Hugo escreve:
"Suas flores do mal brilham e cintilam como as estrelas? Aplaudo seu espírito vigoroso com toda a minha força".
Um público restrito, mas entusiasmado, reconhece que surge uma nova forma de expressão poética. Muito antes de ser considerado como o primeiro poeta moderno da França, Charles Baudelaire cria uma herança de polêmica e escândalo. Ele confronta o idealismo romântico que impera na linguagem literária, ao chocar a sociedade com temas como depressão, corrupção política, inocência perdida e os males do alcoolismo. Como resultado, o poeta e sua editora são processados por ofenderem a moral pública e seis dos poemas de "Les Fleurs du Mal" são suprimidos das novas edições.
Um final de vida amargo e melancólico o aguarda. Ao sofrer um ataque cardíaco, Charles Baudelaire fica semi-paralítico. Mas ele continua a escrever, lamentando apenas perder o prazer das caminhadas pela L?Île Saint-Louis, quando se divertia ao ver os vizinhos escandalizados com suas roupas:
"Uma camisa nova a cada dia, um vistoso colete colorido e longas calças bufantes, cobrindo lustrosos sapatos pretos".
Logo após sua morte, em 1867, os credores assediam a família, para cobrar as muitas dívidas deixadas pelo poeta. Por curiosa ironia, serão justamente os lucros de venda do amaldiçoado poema "Les Fleurs du Mal" que salvam a situação, livrando os herdeiros da prisão e da vergonha. Sobre a lápide de seu túmulo, no Cemitério de Montparnasse, admiradores costumam deixar trechos de suas poesias. Uma das mais populares pertence à "Petits poèmes en prose":
"É preciso estar sempre embriagado.
Tudo está aí: é a única questão.
Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes.
Mas embriagai-vos".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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