Deixe florir a primavera que existe em você

Nem bem a primavera começou oficialmente aqui neste hemisfério que me abriga e já reconheço seu perfume e sua transformação pelos ares. Sinto seu …

Nem bem a primavera começou oficialmente aqui neste hemisfério que me abriga e já reconheço seu perfume e sua transformação pelos ares. Sinto seu aroma nas flores que se colorem e se expõem. Idêntico sua temperatura mais amena nos pedaços de corpos que se deixam aparecer para o novo clima. Observo uma maior disposição das pessoas em passear e caminhar pelos parques e praças, mesmo que a insegurança caminhe e passeie junto. Reparo na sua chegada ao avistar as cores e os tons da natureza e suas manifestações de felicidade com o novo tempo.
Pelo que pesquisei na internet (como se vivia antes sem isto?), a estação que antecede o tropical verão e sucede o frio e enrugado inverno inicia no calendário de 2016 às 11h21 desta quinta-feira, 22 de setembro. Mas desde, digamos assim (permito-me arriscar) o começo da segunda quinzena deste mês estou totalmente primaveril. Separei umas roupitas mais leves. Arrumei no roupeiro umas blusas com estampas floridas. Limpei as sapatilhas escondidas no fundo do roupeiro. Lavei os vasos para receber as margaridas, orquídeas, gérberas (eu amo), violetas e suas parentas de todas as cores.
Antes mesmo da sua entrada triunfal, deixei florir a primavera que existe em mim. Mostro-me mais propensa a ficar na rua até um pouco mais tarde. Não é preciso enclausurar-me antes das 19h. Permito-me pequenas esticadinhas. Percebo um certo entusiasmo em programar encontros com as amigas. Pode até mesmo ser em dia de semana. Não é preciso dormir cedo toda santa noite. Tenho uma inclinação em abrir as janelas, escancarar as portas, ventilar os ambientes, perfumar o quarto, deixar o cheiro do incenso penetrar nas peças do apartamento.
Fiquei primavera mais cedo. Deixei as cores vibrantes pintarem a minha rotina antes do tempo. Senti a amenidade da estação prematuramente. Deixei os tons aromáticos perfumarem o meu cotidiano antes da data oficial. Virei os dias do calendário conforme o meu comando e fiquei primavera mais cedo. Agora ando pela casa abusada, perfumada, oferecida para a vida, florida de sentimentos e aromática de emoções. Agora caminho pelas ruas com jeito de cravos, rosas, girassóis e hibiscos. Fiquei primavera mais cedo.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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