Salve-se quem puder

A falta de educação das pessoas nos mais variados locais públicos, de lazer e estabelecimentos comerciais e bancários já deve ter sido tema de …

A falta de educação das pessoas nos mais variados locais públicos, de lazer e estabelecimentos comerciais e bancários já deve ter sido tema de alguma coluna minha neste site. Mas nunca é demais retomar o assunto e comentá-lo. Principalmente refletir sobre a ausência total de consideração que algumas pessoas demonstram em dias de chuva, ainda que esparsas, como ocorreu nesta terça-feira no início da manhã. É um individualismo preocupante que chega a assustar pelo desrespeito que é flagrante no trato com o próximo em ruas, avenidas, vias, esquinas, lojas, praças, parques, cinemas, teatros, palestras, seminários, filas, banheiros públicos, supermercados, ônibus, lotação, entre outros. Parece que se vive numa selva onde impera a lei do mais esperto, do mais aproveitador, do mais sem noção, do desmiolado, do "não to nem aí". E neste cenário, consegue sobreviver aquele que mais ignora os direitos do vizinho, do passageiro, do cidadão ao lado. Salve-se quem puder! E conseguir!
Assim que começam a cair pingos de chuva, junto com os guarda-chuvas e as sombrinhas que são abertas automaticamente nas ruas, inicia-se o show de deseducação de muitos humanos. Tem aqueles que entendem que os equipamentos protetores de chuvas são, na realidade, armas a serem disparadas contra todos que vierem em sentido contrário. Nem se dão ao trabalho de pensar em desviar, recolher um pouco ou mesmo levantar o cabo. Quem precisa dar espaço para os guarda-chuvas e as sombrinhas é o coitado (a) que não veio prevenido para as águas e além de fugir da chuva, necessita com rapidez escapar dos precavidos. E no lotação e no ônibus, o detentor dos guarda-chuvas e sombrinhas esbanja deselegância e falta de consideração com os objetos molhados torturando o passageiro vizinho que, invariavelmente, deixa o transporte completamente mais molhado do que quando entrou.
Mas a descortesia impera também nas filas de bancos, cinemas e supermercados. Quem está na frente seguidamente é importunado pelo colega de trás que não sabe esperar no seu lugar e fica quase colado no vizinho de infortúnio, sem deixar um espaço suficiente entre os corpos. Como se o ato de empurrar insistentemente fosse sinônimo de acelerar a fila. E o lance de falar no celular e trancar a fila porque resolve contar toda a sua história de vida passada, presente e futura e impede o fluxo do caixa eletrônico, do banco ou do supermercado? Sem falar que expõe para todos na fila a própria intimidade e de familiares. Insuportável. Definitivamente, existe muita gente sem a mínima noção. Gente que se acha a última bolachinha do pacote. Gente que nunca pensa como está sendo inconveniente. Gente que olha apenas para o próprio umbigo e crê, com convicção, que o mundo gira ao seu redor.
E os deseducados proliferam. Nascem e se reproduzem em todo o lugar. No cinema, é irritante e assustador a crescente aparição desta categoria de gente. São aqueles que entram na sala quando o filme já começou (facilidade criada com a marcação antecipada das poltronas) e decidem passar justamente pelo lado oposto do assinalado no seu bilhete. Todos que foram pontuais na entrada da sessão são obrigados a espremer-se, contorcer-se, recolher pernas e pés para o atrasadinho alcançar o seu lugar. É na sala de exibição dos filmes que os sem educação praticam seus atos mais cruéis e deixam os celulares ligados perturbando os que estão concentrados no desenrolar da trama. O espectador que está sentado, acomodado, prestando atenção é seguidamente molestado com aqueles toques histéricos que a tecnologia dos celulares oferece.
Nas ruas, as pessoas demonstram como são extremamente mal educadas. Resolvem parar no meio do trajeto, sem a mínima sinalização, e interrompem o desenvolvimento do caminhante que vem atrás. E nas esquinas quando eles decidem travar as mais longas conversas exatamente no momento sagrado em que o semáforo pinta de verde o redondo do sinal? Completamente irritante. Nos banheiros públicos, chega a dar nojo a falta de educação. Nem vou entrar nestes detalhes escatológicos. Mas sempre penso como será a casa deste tipo de pessoa que não mantém limpo o que é do uso alheio, que suja, não cuida e deixa tal local em péssimas condições. Deve ser um chiqueiro o banheiro na casa de gente desta categoria.
Enfim, se todos se esforçassem, pelo menos para parecer um pouco mais educados, o mundo seria bem melhor. Se todos exercessem um pouco a arte da cortesia, a rotina seria mais colorida e menos sombria. Se todos se colocassem, por minutos, no lugar do outro, que maravilha seria viver.
Esta coluna foi publicada em 5 de agosto de 2015.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários