A aceitação do próprio corpo

Vocês conseguem imaginar o que é escutar desde pequena que tu tens que emagrecer, que tens que fazer mais exercício, que tens que ir ao médico para ver se tem algum problema, que tens que disfarçar com as roupas os teus 'defeitos'? Pensem numa menina de 13 anos que se alimenta bem, faz aula de dança e esportes, e que é levada pela mãe num endocrinologista porque está engordando rápido. E o médico diz para a mãe que, na verdade, ela está crescendo. Imaginem essa mesma menina, que é um pouco mais alta e mais gorda que as amigas de colégio, tentando achar roupa para ir em festinhas da turma e precisando comprar coisas que não são para a sua idade.

Nada fácil, não é? E se ainda considerar que a família e os amigos ficam fazendo comentários maldosos sobre o corpo dela, como que fica a cabeça dessa criança? Como aceitar e gostar do próprio corpo? É assim que a maioria das mulheres passa sua infância, adolescência e boa parte da vida adulta, senão toda, escutando que não pode ser o que é e ter o corpo que tem. E, a partir disso, nascem muitos dos distúrbios alimentares e de distorção de imagem.

Mas, felizmente, tem meninas que conseguem não cair nessas armadilhas, ou saem delas ao longo do tempo, aceitando seus corpos, motivando e mostrando às outras como elas que, sim, é possível ser feliz sem parecer a Gisele Bündchen. O próprio mercado de moda tem aberto portas (ou teriam sido as mulheres a colocar o pé na porta) para modelos plus size. A supermodelo Ashley Graham, inclusive, começou um desafio nas redes sociais que convida mulheres a compartilhar como se sentem em relação ao próprio corpo e a celebrarem a sua beleza.

A ação no Instagram usa a hashtag #ImNoAngel, uma provocação às modelos dos desfiles da marca Victoria's Secret. A brasileira Fluvia Lacerda, que foi capa da Playboy por aqui, acaba de lançar seu livro 'Gorda não é palavrão - Como ser feliz gostando do seu corpo como ele é', no qual encoraja mulheres a questionarem a falta de representatividade de tamanhos na moda e na mídia e a deixarem de se submeter aos padrões alheios. E se olharmos para as redes sociais, temos blogueiras e instagrammers gordas, lindas e poderosas por todos os lados. Temos marcas colocando essas mulheres nas suas publicidades, mudando até mesmo a modelagem e a grade de tamanhos de seus produtos para atender esse público. A Renner, por exemplo, criou uma marca própria plus size que vende pelo e-commerce. Mas ainda tem muito espaço a ser conquistado pelas meninas de tamanhos grandes. Inclusive, desmistificando alguns assuntos relacionados a corpos gordos que ainda são tratados de forma errada.

Por exemplo, outro dia recebi material de um empresa de pesquisa de tendências que falava sobre oportunidades no mercado de moda plus size. Comecei a ler o texto mega empolgada até que no meio da tal newsletter tinha um parágrafo, fora de contexto, falando sobre problemas de saúde e obesidade com alguns números do Ministério da Saúde. Fiquei tão indignada que mandei um e-mail para a tal organização questionando o porquê daquilo estar ali naquele material. Claro que não recebi resposta até hoje. Mesmo sendo um nicho que está em alta, que pode e deve ser incentivado, tem um povo que ainda tem mania de achar que quem é gordo não é saudável. Que saúde existe apenas em corpos magros e dentro do padrão. Vamos melhorar, gente! Em vez de ficar policiando o corpo alheio, vamos nos preocupar com o nosso. Se cada um cuidar da sua vida, o mundo será muito mais saudável.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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