A chatice ? e não a natureza ? é Discovery

A reprodutiva reprodução animal. Os répteis têm muitos poucos recursos para o intercurso sexual mas nem por isso deixam de se multiplicar. Um dos …





















A reprodutiva reprodução animal. Os répteis têm muitos poucos recursos para o intercurso sexual mas nem por isso deixam de se multiplicar. Um dos exemplos exemplares é o camaleão de Sumatra, que utiliza a própria abstinência para atrair a fêmea. Isso acontece em certas épocas do ano, principalmente nos períodos mais chuvosos da chuvosa ilha. O camaleão escolhe uma jovem camaleoa e então fixa-se na ponta de um galho e ali instala a sua expectativa hormonal. Os dias passam, e ele imóvel, a controlar a excitação cromática a partir das suas glândulas pirilampas. Enquanto ele acumula e transpira desejo sexual, sua pretendida circula pelos arredores da vegetação. Nesse mesmo ambiente, outras espécies se preparam para procriar, como os raríssimos gafanhotos cinzentos. Tudo neles é demasiado cinza: olhos, asas, antenas, inclusive seus aparelhos reprodutores. Para atrapalhar a busca do acasalamento bem-sucedido, a fêmea tem dois esfíncteres e o macho, dois peníssulos. Já passaram-se muitos dias e o camaleão continua inerte, confiante em seus poderes de amante refreado. Quanto aos gafanhotos, para confundir ainda mais o ato, só um esfincter permite a fecundação e só um dos peníssulos é fértil. Em meio à chuva torrencial, os gafanhotos engalfinham suas serrilhas e o macho penetra a parceira às cegas, na acinzentada região abdogenital. Na letargia que se segue, consomem todo seu estoque de óvículos e espermíceos. Mas só em 0,2% dos casos ocorre uma efetiva fecundação, daí sua raridade. Passaram-se semanas e o camaleão, teso de tesão e arroxeado na escassa dieta de insetos ao redor, flutua em sua libido multicor. Ali perto, a aranha mais polpuda do planeta aguarda seu futuro companheiro. Como em muitas espécies, ele é menor, tem apenas um quinto do seu tamanho. Pra compensar, tem a extrema habilidade de evitar as enormes gotas de chuva: ele só consegue ereções se estiver completamente seco. É essa a razão pela qual a fêmea o espera sob uma marquise de folhagens. Quanto ao camaleão, passaram-se alguns meses e se encontra em seu limite estático, sem nem poder verificar por onde anda sua escolhida. Então as duas aranhas se avistam. O macho, determinado a cumprir sua fundamental função biológica, a enfrenta pela frente, para dominá-la picando um dos montículos sedutores nas laterais dos seus imensos palpos e depois escalar o corpanzil até alcançar a oculta genitália da fêmea. No entanto, a natureza criou um dos mais surpreendentes meios de garantir a perpetuação dessa espécie de aranha: assim que ele chega mais perto, ela o abocanha inteiro e, enquanto o mastiga, separa e reserva em suas bochechas os bolsilos reprodutivos dele, e engole o resto. Para o camaleão, enfim, termina a espera nupcial: a fêmea, cansada daquela estátua viva furta-cor, escolhe um outro camaleão mais próximo, menos colorido e menos rígido, e copula com ele. Uma nova geração camaleônica está a caminho. Depois de digerir o macho, a aranha inicia a etapa final da reprodução - sozinha. Primeiro, ela põe centenas de ovóides por entre um sanduíche de folhas verdes; em seguida, regurgita os bolsilos masculinos que, preservados pelas enzimas protetoras das bochechas da fêmea, estão ativos e assim que são depositados sobre os ovóides acontece a fecundação, instantânea. Como a quantidade de bolsilos fecundativos é inferior ao volume de ovóides, apenas dezenas de novas aranhazinhas surgirão sob o forte aguaceiro de Sumatra. A ilha ferve, a floresta zumbe, a temporada de acasalamentos continua.


No ritmo do séc. XIX, Marcel Proust escreveu
Em Busca do Tempo Perdido. Fosse na voragem
atual, chamaria À Procura do Prazo Irrecuperável.


Os elevadores estão cada vez mais inteligentes,
ao contrário daqueles usuários que, no térreo,
querem entrar antes dos passageiros sairem.


Decaem os valores do casamento e do consumo.
Não demora, essas decadências se encontrarão.
Será numa lojinha de R$1,99, com um cartazete na
vitrine: "Noivos, aceitam-se listas de presentes."


A desconfortável desproporção entre a anatomia
humana e a ergonomia dos assentos nos transportes
aéreos e terrestres têm explicação técnica: é
milimetricamente calculada pela régua da ganância.


Faminto ou guloso, o recém-nascido mama
um seio após o outro, até se saciar. Em seguida,
larga grande golfada de leite. É a vocação nata da
humanidade para um estrago eterno: o desperdício.


Sempre que querem ´homenagear´ um defunto
ilustre, o enterram com honras militares.
Visto que há mortos com méritos maiores,
não é justo um ato tão pouco honorável.


Etc.






Sempre que recebo meu exemplar da Gráfica, o faço circular por mãos profissionais e também por olhares não especializados em design e artes gráfica. Nuns e noutros, o efeito é igual: os queixos caem, dado o deslumbre que a revista provoca. Como ocorre, mais uma vez, agora com o dobro de prazeres visuais. A atração principal é o portfólio de 45 páginas do premiadíssimo designer Samuel Casal, que além de desenhista e ilustrador é xilogravurista, e atua em circuito internacional sem sair de Floripa. Outro destaque é o infografista, ilustrador e animador Bruno Maron, brilhante com qualquer ferramenta. Como se os olhos já não arregalassem o bastante, a revista traz ainda matérias com tipografia no Japão e na Suiça, design na Rússia, a fotografia do inglês Cecil Beaton, a arquitetura de Da Vinci e arremata tudo com a iconografia de Rugendas.Os queixos só voltam ao lugar depois que se larga essa fartura de bom gosto, magistralmente editada pelo meu






amigo Miran (já lá vão 33 anos de parcerias, que continuam - aguardem!). Como é uma publicação sofisticada, não se encontra a Gráfica em qualquer ponto de venda. No RS, poucas lojas são as seguintes: POA: Cultura, Saraiva, Livraria da UFRGS, Livraria Tresearte, Bie Livraria e Café do Porto. Canoas: Sulina Universitária. São Leopoldo: Livraria Editora e Distribuidora Cultural. Passo Fundo: Livraria das Faculdades. Pra não perder o imperdível, corra. Maiores informações, clique aqui.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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