A luta diária pelos direitos das mulheres

Por Márcia Martins

O feminismo, que é simplesmente um movimento social contra a violência de gênero e pela igualdade de direito e de condições de nós, mulheres, na sociedade, e jamais um bicho de sete cabeças como muitos pensam, exige foco, persistência e resiliência de suas defensoras. É uma luta diária e árdua, que requer coragem para enfrentar e denunciar cotidianamente situações de abuso, de desigualdade, de agressões verbais e físicas e das discriminações mais diversas que ocorrem em vários setores das sociedades patriarcais. Em qualquer cenário, é necessário protestar para mostrar que seguimos atentas.

Nos últimos dias, no futebol, as jogadoras de times que disputam o Brasileirão Feminino, deram exemplos de como se deve sempre denunciar e não aceitar mais, caladas, os abusos. Na quinta rodada, no dia 12 de abril, em Jundiaí (SP), as jogadoras do Palmeiras e Avaí com as mãos na boca durante a execução do Hino Nacional, protestaram contra o assédio no futebol feminino envolvendo o técnico do Santos, Kleiton Lima, demitido em setembro do ano passado, quando as acusações se tornaram públicas, e recontratado apesar das denúncias. Kleiton pediu afastamento do cargo na segunda-feira (15 de abril).

No jogo, as atletas de Palmeiras e Avaí tiraram fotos com o mesmo gesto, e as jogadoras Letícia e Siméia, camisas 19 dos times, viradas de costas para fixar o número 19. Até o momento, foram registradas 19 cartas relatando casos de assédio moral e sexual do então treinador do Santos. Também na sexta-feira, 12 de abril, no jogo entre Santos e Corinthians, na Vila Belmiro (SP), titulares e reservas do Corinthians mantiveram as mãos na boca durante o Hino Nacional, em protesto contra a contratação de Kleiton. E no Grenal do Brasileirão, no dia 15, representantes coloradas e gremistas repetiram os protestos.

Toda vez que, ignorando o sofrimento de uma mulher de ter sido abusada e sofrido qualquer tipo de assédio, um clube contratar alguém culpado por tal ato de violência, deve sim ser questionado, incomodado e rever a contratação. É um desaforo com a luta feminista fingir que nada aconteceu e recontratar, meses depois, um homem que já traz na sua bagagem 19 denúncias de assédios. É desmerecer uma dor imensa de não ter sido respeitada na sua condição de mulher. As atletas que protestaram merecem nossa admiração. Elas nos representam.

E já que o assunto é futebol, é preciso falar sobre o comentário machista do técnico do Vasco, Ramón Diaz, após a derrota contra o Bragantino, que fez uma referência à atuação de uma juíza no jogo anterior contra o Grêmio. "No último jogo, em casa, uma mulher interpretou um pênalti de outra maneira. É que o futebol é diferente. Principalmente que o VAR seja decidido por uma mulher. Acho complicado isso, porque o futebol é tão dinâmico", disse. Depois de tamanha asneira, o técnico disse que foi mal interpretado. Só que em momento algum direcionou seu pedido de desculpas às mulheres que ele desqualificou.

Pois saiba, sr. Ramón Diaz, que não queremos seu pedido de desculpas. E sim o respeito que todo ser humano merece. Cuide de treinar bem o seu time para que ele não perca mais os jogos e deixe as mulheres cumprirem as funções para as quais foram selecionadas e, para isso, estudaram e batalharam muito nesta vida. E sim, a vida, assim como o futebol, é complicada, sr. Ramón Diaz, mas as mulheres sabem lidar com as complicações. 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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