Aconteceu em Moscou

Por Marino Boeira

A graça de viajar por outros países está em você se sentir meio aventureiro. Outros costumes e principalmente outra língua, funcionam como desafios para

de viver quebrar sua rotina de vida sempre certinha.

Nada como um Indiana Jones, mas algum tipo de risco sempre é bom correr.

Quando chegou a hora de conhecer a Rússia, pensei nisso, mas um conselho do Santiago, a chargista, me fez mudar de ideia.

- Vai com a Tchakaya que ele organiza tudo e não fica te incomodando durante a viagem.

Foi o que fiz. Junto com a minha filha Tatiana, marcamos passagem para Frankfurt e Moscou e só ficaríamos por conta da empresa de turismo depois do desembarque.

Só que o tal desembarque já é uma aventura. O aeroporto de Demodevo é bem bagunçado, com poucas indicações em inglês pelo menos e guardas poucos dispostos a te ajudar.

Depois de mostrar nosso passaporte para um guarda, este nos mandou subir uma escada, enquanto o grupo que estava conosco no avião, inclusive uns portugueses,  seguia por outro caminho.

Ficamos na dúvida para onde ir, quando um dos portugueses nos gritou.

- O Lula fez um acordo com o Putin e vocês não precisam de visto no passaporte.

Então, ao contrário dos portugueses que entraram numa grande fila, nós seguimos em frente para uma Moscou chuvosa e gelada daquele final de março.

Uma semana em Moscou passou rápido. O guia era ótimo. Falava um português perfeito e nos levou para ver o que era preciso ver: o Kremlin obviamente, a grande universidade, as fantásticas estações do metrô e até mesmo um passeio para fora da cidade, ao que ele chamou de o Vaticano Russo, uma vila murada com igrejas, museus e seminários da igreja Ortodoxa, onde está o túmulo do seu santo principal, São Sérgio.

No último dia, tínhamos a tarde livre e à noite iríamos por conta própria para o Teatro Bolshoi, já com os ingressos comprados.

Como sobrava tempo, decidimos ir de metrô. Foi uma péssima ideia.

Com tudo escrito em cirílico, sem alguém que pudesse dar uma informação, acabamos nos perdendo.

Como cada estação é bem distante da seguinte, perdemos um tempo enorme.

Ameaçados de perder o horário no Bolshoi, voltamos à superfície. à procura de um táxi. Enquanto a Tatiana entrava num hotel de bandeira americana para se fazer entender, eu abordava um taxista.

Com a mão recheada de cédulas de rublos, gritava para o taxista:

- Bolshoi, bolshoi

O homem me olhava espantado como se eu fosse um louco.

A Tatiana foi mais feliz e conseguiu um táxi. Chegamos no teatro em cima da hora.

No dia seguinte descobri com o guia porque o taxista tinha me achado meio louco, gritando Bolshoi, Bolshoi, sem parar.

Simples: bolshoi significa grande em russo e ele jamais poderia pensar que eu apenas queria ir para o grande teatro.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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