Desarmando

Atualmente, é politicamente incorreto ser contra o desarmamento. Quem é contra o desarmamento está sendo classificado como a favor da violência, quando isto não …

Atualmente, é politicamente incorreto ser contra o desarmamento. Quem é contra o desarmamento está sendo classificado como a favor da violência, quando isto não é verdade. Sou contra o desarmamento na forma proposta pelo governo por alguns motivos: entendo que está sendo feito de forma precipitada, sem amplo debate; dá a idéia de que são as armas as únicas responsáveis pela violência, quando não são; ter de escolher de forma binária, um ou outro.


Um por um: a forma precipitada. Este tipo de assunto não pode ser simplesmente lançado a um plebiscito sem que haja uma profunda discussão (e, mais do que isto, compreensão) por parte da sociedade do que está em jogo. Sem que se ouçam todas as partes envolvidas, detalhando os prós e contras, e que este debate chegue a todos (ou à maior parte possível) cidadãos brasileiros. Este aprofundamento não ocorreu, a carreta está bem na frente dos bois.


As armas são as únicas responsáveis pela violência? Óbvio que não. A violência é intrínseca ao ser humano. O ser humano é tão violento que foi ele quem desenvolveu armas letais e até cruéis. Isto sem falar mesmo que violência é a fome, a miséria. Violência é ter um filho chorando de fome sem ter o que dar para ele comer; de dor, sem poder ser atendido em um hospital decente, no tempo necessário. Assim, as armas são parte de um processo de violência.


Acredito ainda que muitas pessoas optarão pelo "sim" no plebiscito como forma de atenuar seus próprios instintos violentos, uma maneira enviesada de limpar a consciência pelos impulsos agressivos que todos temos. Isto sem falar na grande pressão da sociedade para que todos sejamos politicamente corretos. Só que o politicamente correto está nos transformando, em determinados momentos, em verdadeiros chatos, que só querem fazer o "certinho".


A humanidade precisa de transgressores. Depende deles para evoluir. Se só tivermos politicamente corretos, estaremos ferrados como espécie. Dependemos de gênios criativos e ousados, que nos permitam ver aquilo que não vimos até então. Não se trata de promover uma sociedade da desordem. A ordem é extremamente necessária para a vida em sociedade. Sem ela, viveríamos no tempo das cavernas. Porém, ela não pode tomar conta de nossos cérebros como se ousar fosse pecado.


Votar contra ou a favor do desarmamento é uma decisão pessoal, de foro íntimo. Porém, as informações que receberemos para tomar esta decisão são fundamentais. Não podem nem devem ser parciais, tampouco superficiais. O tema, pela gravidade envolvida, está sendo tratado de forma precipitada. Desarmemos, antes, os espíritos, abrindo-os ao verdadeiro debate. A guerra deve ser de idéias, que não mata ninguém.

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