É carnaval, mas não se esqueça que não é não!

Por Márcia Martins

Em alguns locais do Brasil, o carnaval não começa só no sábado. As ruas enfeitadas já estão em festa em várias cidades, recebendo foliões e folionas coloridas e alegres. Os blocos de rua também estão espalhando felicidade e animação nos principais bairros das capitais. E os trios elétricos fazem seus circuitos no Nordeste. No final de semana, começam os desfiles das escolas de samba do Grupo Principal de São Paulo e Rio de Janeiro e no sábado, 10 de fevereiro, é dada a largada oficial do carnaval de 2024. Não importa o local da folia, o tipo de festa e a fantasia. É carnaval, mas é preciso não esquecer que não é não!

É época de muito riso, alegria e mais de mil palhaços no salão, mas ninguém vai beijar outra pessoa sem consentimento só porque é carnaval e alguém se acha um Pierrot apaixonado. Não é sempre não! Nem pensar dar uma de Napoleão, que tinha mão boba e ultrapassar o sinal. Sem consentimento, sem autorização, qualquer movimento é assédio, comportamento inoportuno e violência sexual. Não é sempre não! Nas ruas, nos blocos, nos salões e nas avenidas, faça como a filha da Chiquita Bacana: não entre em furada porque você é família demais e aprendeu que no seu corpo só toca quem você deixar.

Apesar de muitos avanços, ainda é elevado o número de mulheres que passam por constrangimentos sexuais no cotidiano. E, no carnaval, num ambiente que supostamente pode sugerir libertinagem e um certo despudor, o macho alfa escroto, alimentado numa sociedade patriarcal, se acha no direito de partir para o ataque, escorregar a mão boba na barriga de fora da sambista, tacar um beijo de surpresa na foliona no baile. Importante reforçar que tal comportamento não é aceitável nunca. Mas vale reforçar que a fantasia, a folia e a alegria carnavalesca não são passaportes para assédios.

Mulheres: fiquem atentas. Não aceitem nenhum tipo de atitude que não foi consentida. Para ir adiante, é necessário o sim. Não se inibam de sair para brincar no carnaval com uma roupa mais ousada. A roupa não nos define e nem é uma licença para uma mão atrevida. Para ir adiante, é necessário o sim. E nem fiquem culpadas de rebolar, saracotear, sambar e ser feliz nos quatro dias (ou mais) da folia de carnaval. A dança pode ser sensual. Porque o corpo é seu. Para ir adiante, é necessário o sim.

Não é porque é carnaval que o desrespeito está permitido, que o assédio foi liberado, que a nossa vontade não será ouvida, que o nosso grito não ecoará e a nossa voz será calada. Aproveite que é carnaval e, se algum homem lhe importunar, ponha a boca no trombone.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários