É preciso falar de racismo

Por Renato Dornelles

Chegamos a mais uma Semana da Consciência Negra. Na verdade, já estávamos, desde o dia 1º, no mês da Consciência Negra. No próximo dia 20, teremos o dia que marca os 328 anos da morte de Zumbi, líder de Palmares, o mais expressivo quilombo e símbolo da resistência contra a escravidão.  

É sempre necessário lembrar que o Dia da Consciência Negra foi estabelecido a partir de uma longa batalha iniciada em 1971, em Porto Alegre, mais precisamente na esquina da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros, muito antes de esse local ficar conhecido como Esquina Democrática.

Naquela época, em plena ditadura civil-militar, quatro jovens negros que se reuniam naquele ponto - Antônio Carlos Cortes, Oliveira Silveira, Ilmo da Silva e Vilmar Nunes - entendiam que a data representativa para os negros brasileiros deveria ser o 20 de Novembro e não o 13 de maio, data em que, na teoria, os negros foram libertados do regime de escravidão.

A ideia de mudança da data prosperou e tornou-se nacional. Em algumas cidades, foi decretado feriado municipal. Em Porto Alegre, houve mais de uma tentativa neste sentido, mas todas encontraram grande resistência por parte de determinados grupos. 

O 20 de Novembro e seus dias próximos têm sido marcados por campanhas e eventos que relembram que vivemos em um país com muita desigualdade racial. O cenário ainda é marcado por disparidades significativas.

Por exemplo: a taxa de desemprego entre negros é mais alta, a renda média é menor, e o acesso a serviços básicos como saúde e educação apresenta desigualdades profundas. Os números são discrepantes também quando se fala em casos de violência policial, de prisões, de preconceitos e estereótipos. Em todos os casos, desfavoráveis aos negros.

Essa situação persistente ao longo dos anos justifica e reforça a necessidade de busca de políticas públicas e ações afirmativas para combater a desigualdade racial e promover a inclusão de forma igualitária. Combater o racismo estrutural que, enraizado nas estruturas raciais, perpetua a discriminação, é extremamente necessário. Viva o 20 de Novembro. 

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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