Famoso Who?

Alguns assuntos são recorrentes por aqui como vocês já sabem: as minhas causas feministas e de aceitação, que defendo com unhas, dentes e o resto todo do corpo, e a questão do marketing de influência. Sobre este último, andaram acontecendo alguns fatos nas últimas semanas que levantaram à velha questão de quem influencia quem, como se pode medir isso e por que alguns que se intitulam influenciadores digitais (já sabemos que quem dá este "título" ou não é o mercado e não o ser que pilota blogs e instagrams) acham que são famosos ao ponto de fazerem as marcas gastarem rios de dinheiro ou fazerem permuta mesmo sem ter certeza que irão receber o investimento de volta. Sim, vamos combinar que, por mais que se entrega número de alcance e visualizações, o que interessa mesmo para uma marca é reverter imagem em negócios. E isso no marketing de influência é bem complexo de ser mensurado, assim como no PR.

Comecemos relembrando o caso da "youtuber" Elle Durby, que se intitula influencer, e tem como credenciais 87 mil pessoas inscritas no seu canal do Youtube e 76 mil seguidores no Instagram e entrou em contato com o um hotel de Dublin, o The White Moose Café, para oferecer uma parceria. Ela pediu cinco diárias cortesias para que ela e o namorado pudessem passar o Valentine`s Day no estabelecimento. Em troca, iria mostrá-lo nos vídeos e nas postagens no Instagram e no Instagram Stories, prometendo levar clientes para o hotel e que já teria feito isso com um albergue na Flórida e que havia sido "incrível para eles". O responsável pelo hotel irlandês acabou respondendo publicamente num post do Facebook sobre a proposta, sem revelar quem seria a influenciadora, questionando quem pagaria os funcionários, os custos fixos e afins caso ele oferecesse as cinco diárias. Apesar de não ter revelado que era a influenciadora, Durby se sentiu ofendida com a atitude e fez um vídeo falando sobre o assunto.

Depois do auê todo, o responsável pelo hotel fez um post dizendo que todos os influenciadores estavam banidos de qualquer relação com o estabelecimento. Ele errou em expor essa situação? Por um lado, acho que não tinha necessidade, que podia ter apenas respondido para ela e OK. Por outro, me coloco no lugar dele recebendo mil e uma propostas deste tipo, até que cansou e chutou o balde. Ela errou em fazer um vídeo para reclamar sobre a exposição? Na minha opinião, não precisava, já que ninguém disse que era ela. A única certeza que eu tenho é que se o responsável achava que ela não influenciaria o suficiente para investir na parceria, não tinha mesmo porque fazê-la.

Outro caso foi de um suposto influencer sem nome e que se apresenta como um perfil que recomenda restaurantes e os pontua, pediu para comer de graça no Diverxo, um restaurante com três estrelas Michelin, segundo tornou público seu dono, o chef Dabiz Muñoz. Será mesmo que um restaurante premiado, no Brasil ou fora daqui, precisaria de um influenciador digital para movimentar o seu negócio? Quem seria o formador de opinião indicado para uma parceria deste tipo com estabelecimentos já consagrados e com lugar já fixado no mercado? Com certeza não teria a ver com número de seguidores apenas ou promessas de entrega de alcance, curtidas e visualizações.

Quando pensamos em ações para clientes, antes de tudo pensamos no objetivo do relacionamento, se é para fazer buzz em cima da marca, se é para criar giro no estabelecimento, se é para incrementar a venda de um determinado produto e, a partir disso, que se vai em busca dos blogs e Instagrams que têm mais a ver com a proposta. Há pouco tempo usava-se como parâmetro de escolha o número de seguidores e de engajamento. Hoje, tem muito mais fatores envolvidos e um deles, confesso, é a quantidade de vezes que um influencer pede alguma coisa apenas por pedir, para o seu bel prazer, sem um propósito específico pensado para a marca. Entrar em contato com uma marca para mostrar o teu trabalho, o teu portfólio, até onde tu alcanças o teu público e como é a tua interação com ele não é o problema. A questão é achar que é um ser super famoso, quase uma celebridade, pedir apenas por pedir e ainda sair falando mal da marca quando recebe um não. Precisamos falar mais sobre isso, mas continuamos outro dia, porque este aqui já virou textão.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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