Guerra às drogas não reduz o lucro dos barões

Por Renato Dornelles

Incrível e, aparentemente, sem limites a criatividade dos agentes do tráfico internacional de drogas. Agora, foi identificado um esquema no qual grandes navios estavam rebocando drogas para a Europa, a partir de portos dos três Estados da Região Sul do Brasil.

Mas não era o transporte normal, com a droga sendo levada em meio à carga legal. O esquema envolve mergulhadores, encarregados de prender, com cordas, bolsas com drogas, principalmente cocaína, nos cascos dos navios. Sem que a tripulação soubesse, os navios seguiam para a Europa, onde outros mergulhadores se encarregavam de resgatar a droga, ainda submersa.

Não é à toa que o tráfico internacional de drogas seja um dos negócios de maior movimentação financeira. De acordo com estimativas da ONU, por ano, são movimentados entre US$ 400 bilhões e US$ 500 bilhões no mundo. E muito desse total circula por negócios lícitos, na lavagem de dinheiro, e no mercado financeiro.

O Brasil, por ser um país com dimensões continentais, milhares de quilômetros de fronteiras, terrestres - por solo ou rios - ou marítimas, e por ter ligações por meios aéreos e marítimos com outros continentes, é uma das rotas preferidas pelos grandes cartéis.

Diante de dados como esses, é de se refletir e questionar o porquê de as prisões brasileiras estarem lotadas de jovens de periferia, presos com pequenas quantidades de drogas, vendidas no varejo, e praticamente vazias de grandes patrões, que têm suas generosas  fatias nos  US$ 400 bilhões ou US$ 500 bilhões anuais. 

São coisas da chamada política da guerra às drogas, responsável por milhares de mortes, por cadeias superlotadas - o que favorece às facções -, sem que ao longo de muitas décadas não tenham  sido percebidas quedas na movimentação financeira e na lucratividade gerada pelo tráfico. Muito antes pelo contrário.      

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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