IN FORMA

Por Marino Boeira

Porto Alegre/Buenos Aires

Uma semana em Buenos Aires não dá a ninguém elementos para uma sólida comparação política entre Brasil e Argentina e entre Porto Alegre e Buenos Aires, mas permite algumas observações.

Começando pelas duas cidades: Buenos Aires tem mais de 13 milhões de habitantes e Porto Alegre, pouco mais de 1 milhão e 300 mil, mesmo assim a capital argentina parece muito mais preparada para a vida civilizada do que a nossa cidade. Claro que a comparação é feita com aquela Buenos Aires da área central mais meia dúzia de bairros, onde ficam os turistas, contra toda a Porto Alegre, mas mesmo assim dois pontos destacam a diferença entre elas: a limpeza e as opções de serviços.

Buenos Aires é uma cidade extremamente limpa, sem a sujeira presente em quase todas as ruas de Porto Alegre e muito menos fios elétricos espalhados pelas calçadas que estão em toda a parte por aqui.

Quanto aos serviços, é como comparar o Internacional com o Fortes e Livres de Muçum. Buenos Aires tem dezenas de livrarias e centro culturais espalhados por toda a cidade, enquanto aqui em Porto Alegre eles são muito poucos, isso para não falar dos museus, onde a diferença é imensa.

Em matéria de restaurantes, até que Porto Alegre não faz feio levando em conta o tamanho de sua população, mas quando se pensa em café, bares e padarias e confeitarias, Buenos Aires fica muito à frente de Porto Alegre.

Agora, em algo que Buenos Aires e Porto Alegre se aproximam é na visão política da média dos seus habitantes. Se você pergunta a um taxista de Porto Alegre em que ele votou nas últimas eleições, 90% diz Bolsonaro. Em Buenos Aires, o percentual é o mesmo em favor de Miley.

A diferença está em que a esquerda néo peronista de Menem, Duhalde, Kirchner, Cristina e Fernandez enterrou em definitivo o sonho de uma nova ordem social mais justa, em meio a inúmeros escândalos e justificaram a chegada das propostas da direita de Miley, enquanto o Brasil ainda está num vai-e-vem entre Lula e Bolsonaro, os dois representando, com pequenas nuances, o mesmo projeto de país.

Em Buenos Aires, as esquerdas estão nas ruas para protestar contra o governo de Miley enfrentando inclusive a violência da polícia. Aqui, as pessoas estão em casa vendo o Jornal Nacional e aceitando todas as conciliações de classe que o Lula promove, "porque com o Bolsonaro seria muito pior"

Mas, o mais importante: Buenos Aires preserva a história do seu passado, o que é fundamental para se construir o futuro. Enquanto lá se conserva a arquitetura tradicional sempre muito bem conservada, aqui se ergue um espigão em cada esquina, onde antes havia um prédio centenário (quando muito se mantém sua fachada). E o mais importante, não apenas em Buenos Aires, mas em várias cidades argentinas se criaram museus para lembrar suas ditaduras com seus centros de tortura e extermínio. Em Porto Alegre e no Brasil inteiro não existe um museu sequer para lembrar uma ditadura que durou 21 anos e o próprio presidente manda esquecer o passado.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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