Nunca peça desculpas por ser quem você é

Durante muito tempo, fui do tipo de pessoa que tentava sempre agradar, não irritar as pessoas, não entrar em conflito, sempre fui do "deixa assim". Sempre senti que para ter reconhecimento eu precisava o tempo todo da aprovação das pessoas. Não me importava de estar em uma situação desconfortável, se o outro estivesse satisfeito. Preferia ajudar o povo a resolver os seus problemas em vez de pensar nos meus. Se pudesse, pegava pela mão para fazer o caminho junto. Sempre carreguei sentimentos que não eram os meus. E, por causa disso, sempre me cobrei muito, queria estar disponível sempre, exigia de mim mais do que os outros. E só fui parar para analisar isso há pouco tempo.

Há pouco mais de dois anos, terminei um namoro longo. Daquele tipo que quem olha de fora acha tudo incrível, casal maravilhoso, mas que, por dentro, é um turbilhão. Sempre fui dos relacionamentos longos e, talvez pelo ascendente em Câncer, deixava passar muita coisa, apaziguar outras, tentando deixar tudo em harmonia. Se ele estivesse bem, eu estaria bem também. Mas nem sempre eu estava e passava por cima disso com muita facilidade. Um mês depois, eu reencontrei um amigo do coração que sempre me falava de uma prática budista da qual ele fazia parte e queria que eu fosse num dos encontros. E, a partir dali, eu comecei um processo de autoconhecimento profundo que inclui mais do que somente eu. Faz compreender muito mais sobre o lugar onde eu estou, minha família e com quem eu me relaciono.

No último sábado, estive numa das reuniões que acontecem na casa de outros praticantes deste tipo de budismo. No final do encontro, sempre fazemos um "ritual" no qual quem está presente pode falar um pouco sobre suas conquistas, sobre o que a prática trouxe de mudanças na sua vida e também sobre suas angústias. E uma das mulheres começou a fazer seu relato e comecei a me enxergar perfeitamente no que ela dizia. Era a Cris de dois anos atrás. Quando chegou a minha vez de falar, pude compartilhar com ela que é difícil, mas a gente consegue parar de pedir desculpas por quem a gente é. É um processo demorado e complexo, mas ele é bem possível. Nestes últimos anos, aprendi a me reconhecer, a entender quais eram os meus anseios, procurei saber quais são as minhas limitações - e como superá-las - e o que  realmente me faz feliz.

Ainda tenho a tendência a querer consertar a vida dos outros, a mostrar que é possível mudar e fazer um caminho diferente. Mas não pego mais pela mão. E tento me afastar quando vejo que estou entrando num problema que não é meu. Continuo me cobrando muito e acabo cobrando dos outros também na mesma intensidade. Tenho exercitado bastante para entender que eu não posso esperar que os outros pensem e ajam como eu. As necessidades e expectativas na vida são diferentes, cada um tem o seu mundo, sua forma de fazer e eles devem ser respeitados. Por mais que às vezes eu tenha vontade de sacudir as criaturas. Sim, ainda tenho que trabalhar muito nisso.

Bom, se eu for ficar falando de tudo que a prática me trouxe de bom, vou ficar dias e dias por aqui. Mas tem algumas coisas que ainda são necessárias dizer: 1. A gente não nasceu para ser panda: ser fofo, querido e agradar a todos. Até mesmo porque um panda continua sendo um urso e tem garras; 2. Ninguém pode fazer o caminho do e pelo outro. Cada um tem que correr atrás do que quer pra sua vida. A responsabilidade é sua. O movimento tem que partir de ti. Como diria Delia Steinberg Guzmán, "há uma lei muito prática para levarmos em conta: o movimento chama ao movimento, a imobilidade chama ao estancamento"; 3. Tente descobrir quem você é, as coisas que gosta, seus medos, seus desejos, o que realmente te importa. Aceite quem você é e assuma isso para o mundo. E, jamais, em hipótese alguma, peça desculpas por quem você é.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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