Quanto mais difícil o cenário, maior a importância do povo

Imagine você sendo questionado por um entrevistador do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião sobre "o que existe ou acontece no RS que te enche de orgulho?". Ao realizar este questionamento para uma amostra dos gaúchos, verificou-se que 1/3 dos gaúchos cita os simbolismos do Estado (tradicionalismo e os ícones que representam a cultura gaúcha). Até aqui, nenhuma novidade!

O interessante é que outro 1/3 dos entrevistados destaca o fator humano (o povo, a solidariedade do povo e a união do povo) como motivo de orgulho, são pessoas declarando orgulho de outras pessoas. Cabe registrar que a 'história/povo de história' e os times de futebol aparecem com menos de 10% cada.

A tradição e os simbolismos do povo gaúcho são marcados pela integração, pelo sentimento de comunidade, pela percepção de pertencimento. Os elementos identitários de integração estão presentes nas batalhas rememoradas ou na forma de socializar o alimento, como chimarrão e o churrasco: que motivam a ação coletiva e o compartilhamento.

Se, de um lado, a atual conjuntura econômica e política ampliam a descrença nas instituições, de outro lado, a sociedade aposta no sentimento de igualdade e solidariedade com seus pares. A população se compadece assistindo a cada noticiário: com as vítimas de violência, com os doentes que não conseguem atendimento e, até mesmo, com os funcionários públicos que não recebem o salário em dia.

O cenário de decepção, com as mazelas do Estado e de apatia com a política, alimenta o sentimento de frustração e favorece a necessidade da crença. É um círculo vicioso, assim como a alegria precede a tristeza, a esperança precede a frustração. O gaúcho acredita que a esperança está na cooperação, na reciprocidade, na confiança, no companheirismo e nas atitudes positivas.

O povo gaúcho se orgulha de seus símbolos e de suas virtudes e esta combinação é essencial, matéria-prima para a construção de uma associação cívica em prol do fortalecimento das instituições e da democracia. Agora, o detalhe: para ativar esta matéria-prima, para ter a adesão e apoio do povo é necessário: propósito e liderança.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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