Walmor Bergesch: Um protagonista da televisão

Pioneiro e autodidata, ele é personagem que faz parte da história da TV no Rio Grande do Sul

Mais do que um pioneiro e estudioso sobre a televisão no Rio Grande do Sul, o jornalista, radialista e empresário Walmor Bergesch é um personagem que faz parte da história da televisão no Estado, desde o seu início. Muito jovem, recém-chegado do Interior, foi um dos profissionais que atuou na instalação e na inauguração das três primeiras emissoras de TV de Porto Alegre, além de ter participado da primeira transmissão a cores do Brasil. "Este impacto foi imensurável", avalia, sobre o surgimento da nova mídia, na época.


Autodidata, sempre estudou muito sobre TV: assinava exatamente 40 revistas, americanas e européias. "Eu sempre busquei o conhecimento, onde ele estivesse", destaca. Nasceu na cidade de Estrela, em 10 de abril de 1938, e 16 anos depois estava atuando na emissora local, a Rádio Alto Taquari. O adolescente, que todos os domingos freqüentava o programa de auditório, foi convidado para se apresentar e demonstrar sua habilidade musical: tocar gaita de boca. Logo, surgiu a oportunidade de fazer um teste para locutor e redator de notícias. Assim, começava a traçar sua trajetória profissional.


Rumo à Capital por uma oportunidade


Passaram-se alguns meses e o ano chegou ao fim. Walmor tinha planos de ir para Porto Alegre, continuar os estudos. Graças ao seu talento e vocação, foi possível seguir na área. Teve a ajuda do superintendente da Rede de Emissoras Reunidas do Interior, Paulo Amaro Salgado, que perguntou se teria interesse em uma vaga na Rádio Progresso, no Vale do Sinos, ou até mesmo na Rádio Farroupilha, na Capital. "Lembro que na época eu pensei: não é possível! Porque a Farroupilha era ?a Globo??", compara. Era início de 1955 quando Walmor veio para Porto Alegre, morar em pensão, e foi até a emissora para falar com o diretor geral da Rádio, Dinarte Armando. O jovem fez teste para locutor com José Salimen Junior, que já trabalhava lá, e foi aprovado. "Daí começou uma amizade que vai até hoje", relembra.


Depois disso, o diretor musical ainda descobriu que o jornalista sabia tocar gaita de boca. Acabou ganhando outro contrato na Farroupilha, o de solista. E conforme Walmor foi aprimorando seu desempenho na locução, foi crescendo e ganhando mais espaço. Passou a atuar, também, na redação de notícias e a fazer reportagens. Na emissora ele ficou até surgir a televisão, em 1959. Neste ano, foi um dos 16 selecionados, entre os profissionais do Diário de Notícias, Farroupilha e Difusora, a pedido de Assis Chateaubriand, diretor dos Diários e Emissoras Associados, para ir ao Rio de Janeiro fazer um curso sobre televisão. Walmor passou cerca de seis meses na TV Tupi, aprendendo tudo, na teoria e na prática, a respeito da nova mídia, que já operava desde 1950 e 1951 em São Paulo e no Rio.


A TV no Estado e na vida de Walmor


Na volta, com o conhecimento adquirido, integrou a equipe que instalou e inaugurou a TV Piratini em dezembro de 1959. Walmor produzia três programas e apresentava dois deles. "A TV Piratini foi a grande formadora de profissionais de televisão na década de 60, quando surgiram os três primeiros canais no Estado", lembra, referindo-se à TV Gaúcha e TV Difusora, que surgiriam na seqüência. Nesta época, o jornalista, que continuava na Farroupilha, foi um dos fundadores das empresas Sul Produções - que depois passou a se chamar Spot e existe até hoje - e Pampa Produções.


No final de 1961, produziu e gravou, juntamente com Paulo Ruschel, o primeiro VT do Rio Grande do Sul. A TV Piratini já havia recebido o equipamento, mas só usaria em janeiro do próximo ano. Walmor se prontificou a estrear a tecnologia. O jornalista reuniu todos os amigos em casa para o tão esperado momento, mas ninguém conseguiu assistir. "Passei 15 minutos desesperado, tentando sintonizar. Tinha som, mas a imagem começou a ?correr??", conta. Até que resolveu ligar para a emissora e descobriu que, graças às configurações feitas pelo inexperiente técnico no estúdio, a exibição foi um fracasso.  "Depois a gente ria? mas o pioneirismo tem disso", avalia o jornalista. Antes disso, tudo era feito ao vivo.


Em 1962, a TV Gaúcha estava se preparando pra entrar no ar. A convite de Maurício Sirotsky, o fundador do Grupo RBS, o profissional foi chamado para atuar na inauguração da emissora como chefe de programação. Nesta ocasião, Walmor deixou de lado todos os trabalhos que vinha fazendo - rádio e produtoras - para se dedicar integralmente à nova oportunidade. "Foram momentos de grandes inovações. Nós recrutamos os melhores profissionais. Foi uma experiência muito boa", considera. Em 1967, viajou para os Estados Unidos para conhecer emissoras e aprender tudo o que faltava sobre televisão. Após 40 dias de imersão, voltou dominando técnicas e procedimentos para aprimorar a programação e disseminar conhecimento.


Muito ambicioso, em 1969 aceitou proposta para trabalhar na inauguração do terceiro canal de Porto Alegre: a TV Difusora. "Era irrecusável", explica. Assumiu como superintendente geral da emissora, tratando das áreas de operação, produção e programação, ao lado de Salimen, que era responsável pela parte de mercado, administrativo e financeiro. "Mais uma vez, montamos uma equipe maravilhosa, espetacular", conta. Em 1972, participou da primeira transmissão a cores do Brasil, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul. O canal disponibilizou imagens para todas as emissoras do país que quiseram transmitir. Walmor ficou na Difusora até 1973.


Como já tinha "feito tudo" na área de televisão no Estado, o jornalista tinha convite para atuar no Rio e São Paulo, mas resolveu dar tempo ao tempo, sem nunca se desligar, claro, de sua grande paixão. Por isso, até 1975, realizou um sonho: conheceu muitos lugares. Estagiou nas principais televisões do mundo. Quando achou que já era o suficiente, sossegou e resolveu investir em algo diferente e se associou à Cotiza, empresa de empreendimentos imobiliários e de lazer. Além de sócio, era diretor de Marketing. E para isso, o autodidata estudou muito sobre esta área da comunicação. A experiência durou sete anos.


Sempre com novos projetos


Nesta mesma época, em que era crescente a produção de vídeos independentes nos EUA, fez um projeto para instalação, em São Paulo , da primeira produtora independente de vídeos no Brasil. Mais uma vez em parceria com Salimen, passou a buscar recursos e apresentar a idéia a investidores. Até que Nelson e Maurício Sirotsky tomaram conhecimento do projeto e, neste meio-tempo, enquanto não se consolidavam os apoios, Walmor foi convidado a retornar ao Grupo RBS. Era 1982 quando ele deixou a Cotiza.


"Treze anos depois, o bom filho à casa torna", considera o jornalista. De volta à empresa, criou a diretoria de Marketing, que teve como primeiro grande projeto mudar a marca Rede Brasil Sul de Comunicação para RBS. Depois, à medida que foram desenvolvendo a marca, foi a vez das emissoras de televisão terem suas nomenclaturas simplificadas. Aos poucos, os nomes originais indígenas, que caracterizavam as regiões do Interior - com a TV Imembuí, em Santa Maria -, foram deixando de existir, passando a ser o nome da cidade agregado ao RBS TV.


Em 1987, com uma grande reestruturação, passou a ser diretor da RBS TV para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, logo em seguida, superintendente de Mídia Eletrônica - Rádio e TV. Em 1990, criou a área de Novos Negócios que, a partir de projeto de televisão por assinatura, em parceria com a Globo, deu origem à Net. Assim, em 1995, através dele, surgiu a idéia da TVCom e, no ano seguinte, do Canal Rural. Em 2000 e 2001, Walmor ainda participou do projeto, com sede em São Paulo , de implantação e operacionalização da TV a cabo, com fundos americanos e sócios brasileiros, no Nordeste.


Na RBS se aposentou, em 1998, mas ficou até 2000 exercendo o cargo de vice-presidente da área de TV por assinatura. Hoje, acompanha de perto seu mais recente projeto, a obra "Os Televisionários Gaúchos - 50 anos TV no Sul". O livro, que vai trazer o depoimento de mais de 100 protagonistas da televisão no Estado, discorrerá sobre o passado, o presente e o futuro da área, além de trazer muitas fotos de todas as épocas. A intenção do autor é lançá-lo no segundo semestre de 2009.


Atualmente, também está à frente de outro projeto, desta vez ligado à inclusão digital através de uma rede nacional de outernet. São quiosques multiuso com telefonia e Internet de fácil acesso. Sem poder falar muito, adianta que o pré-lançamento será no primeiro trimestre de 2009, numa cidade do Interior de São Paulo. Durante seis meses, a idéia será testada em 250 terminais.


Atividades extra-jornalismo


É casado há 10 anos com Marilene Bittencourt, 43 anos, empresária de design de móveis. Do primeiro casamento, Walmor tem três filhos: Mylene, de 46 anos, César, 45, e Fernando, 40. Todos são empresários e moram em Santa Catarina. Tem cinco netos, com idades entre 21 e dois anos. Em casa, duas vezes ao ano, realiza saraus musicais beneficentes. Cada convidado leva um alimento não-perecível, destinado a ser entregue a alguma instituição. São reuniões com apresentações de canto ou piano, entre outras atrações especiais, para cerca de 60 pessoas. "Mas também valorizamos a prata da casa", brinca, lembrando que sempre algum dos participantes acaba demonstrando seus talentos.


Não cozinha, mas aprecia degustar um bom vinho. Tem preferência pelos franceses e italianos, chilenos e argentinos. "Fora estes, somente o Villa Bari, da vinícola Barichello, do meu amigo Luiz Alberto Barichello", brinca. Em música, prefere Beethoven, Mozart, Frank Sinatra e Nat King Cole, além de grandes orquestras, música instrumental e do tradicional rock and roll. Gosta dos clássicos do cinema francês e é fascinado pelos filmes americanos. "Sou fanático por cinema americano, dos mais antigos aos mais recentes", resume. Seus diretores preferidos são Billy Wilder, John Houston, Woody Allen, Steven Spielberg e Scorsese.


Obviamente, gosta de ler. "Eu leio muito, eu leio muito mesmo. Sobre TV, comunicação, mídia e até psicologia", detalha. Seu projeto para o futuro é cursar Filosofia. Também pretende viajar muito mais, para conhecer lugares como a China e a Índia. Ainda quer conhecer melhor seu país de origem, a Alemanha. Portugal é um país que gostaria de, quem sabe, morar. Os lugares que conheceu e que mais gostou e sempre acaba voltando são Los Angeles, Nova Iorque, Londres e Itália. "Não vou a lugares que não tenho certeza que eu vá gostar."


Pelo menos quatro vezes por semana, Walmor pratica exercícios físicos. Para isso, tem uma academia completa em casa. Também faz corrida três vezes por semana. Gosta muito de viajar e passear com a esposa na Serra, no litoral catarinense, para visitar os filhos, ou até mesmo ir a exposições.


Zen, sempre


Já há alguns anos, Walmor faz meditação, acupuntura e lê muito sobre Buda. E esta é a sua filosofia de vida. "Não que eu seja budista, mas sigo muito os conceitos de tranqüilidade? viver o agora, o hoje, estar bem com a família e amigos, sempre em busca da qualidade de vida", explica. E acrescenta que, para ele, o segredo do sucesso está em sonhar e planejar com persistência e disciplina, além de muita comunicação.


E aí, com tudo isto e tanto pioneirismo, sente-se realizado? "Tá louco, eu quero fazer muito mais coisas. Não me sinto realizado, mas sou muito feliz. Tenho amigos, uma família e um trabalho maravilhosos! Eu só faço o que eu tenho paixão", afirma. "Quando fiz 60 anos, renovei meu contrato com o ?velhinho? por mais 60? ele que se vire", conta brincando, ao mesmo tempo em que demonstra a alegria de viver e a satisfação em fazer o que gosta.

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