Leudo Costa: O resgate de um comunicador

Polêmico e irreverente, Leudo Costa revela as conquistas e as frustrações de quem ainda tem uma carreira a retomar


Por Sílvia Costa

Leudo Costa é considerado um personagem polêmico por excelência. Na juventude, quando se envolveu na vida política de Santiago, como advogado, defendendo os direitos individuais de minorias, como comunicador e como empresário, sempre deixou sua marca por onde passou. E se diverte com isso: "As pessoas gostam ou não gostam de mim". Simples e direto.

Natural de Santiago, Leudo nasceu em 19 de outubro de 1955. Filho de uma professora, dona Cely, e de um dono de armazém, seu Virgílio, foi criado em uma região pobre da cidade, junto com o irmão, Virgílio Costa. Estudou no Colégio Estadual Cristóvão Pereira. "Sou o aluno mais ilustre daquela escola", brinca.

"Minha mãe conta que, com três anos, eu narrava futebol em uma latinha de massa de tomate", diverte-se Leudo, que cresceu ouvindo futebol no rádio, ao lado do pai. "Depois, passava o dia inteiro no fundo do pátio com uma latinha na mão, repetindo o nome dos jogadores", recorda. Torcedor do Grêmio, até há pouco tempo sabia de cor o nome de todos os times do Tricolor.

Começou a trabalhar em rádio por uma brincadeira do destino e por "absoluta vontade". Aos 13 anos, tocava surdo na banda da escola. Um dia, antes do ensaio, Adão, maestro da banda e o mais importante locutor da Rádio Santiago, pediu ao guri: "Vai lá na rádio e avisa ao Capito que eu vou atrasar 20 minutos". Chegando lá, Leudo deu o recado. O Capito, não querendo sair depois seu horário, ensinou o guri a trocar o disco, mudar o canal e modular o volume. Ali, o Leudo ficou.

Foi assim que ele começou, achando que ia trabalhar de locutor, mas era para fazer os pagamentos da emissora. "Quando voltava do banco, eu me metia no estúdio para aprender", conta. Dois meses depois, ele estava operando o equipamento da rádio. Com 15 anos, foi locutor, narrador futebol, de desfile de miss, da Semana Farroupilha.

Vida rodeada por mulheres

Apaixonado confesso por comunicação, nas horas vagas Leudo gosta mesmo é de cozinhar. "Sei fazer 19 tipos de risoto, um melhor que o outro", gaba-se. Casou em 1981, em Porto Alegre, com a filha do prefeito de Santiago, Sandra Medeiros, então estudante de Arquitetura em Porto Alegre. "Uma das mulheres mais talentosas que já conheci", afirma. E faz questão de ressaltar: "Não aceitei ser o namorado da filha do prefeito e continuar trabalhando na Prefeitura. Não sabia o que era nepotismo, mas sabia que era errado".

Hoje, Leudo é rodeado por mulheres. A mãe, dona Cely, 92 anos, mora com ele. Tem duas filhas: Maria Luiza, 19 anos, que faz Jornalismo na PUC e trabalha na Secretaria da Copa, e Taís, 17. A atual mulher, Terezinha, é colega no escritório de advocacia. "Cuido de todas essas mulheres", ressalta, sem esquecer de citar as quatro cadelas. Talvez a convivência com o mundo feminino tenha revelado a sensibilidade do profissional aventureiro, corajoso e combativo: "Não gosto de magoar ninguém e fico muito triste quando me magoam, quando me fecham uma porta".

A passagem pela política

Foi em Santiago que Leudo também descobriu outra vocação: a política. Foi presidente do grêmio estudantil e vice-presidente da União Gaúcha de Estudantes (Uges). Aos 20 anos, foi secretário de Gestão da Prefeitura Municipal de Santiago, atendendo ao convite do então prefeito José Carlos Medeiros (Arena, partido situacionista da época). "Tínhamos entre 20 e 30 anos e transformamos a cidade", conta. Sem ter ideia do que estavam fazendo, conseguiam levar serviços municipais para o interior do município. "Recolhemos os ônibus velhos, reformamos e montamos os troles da saúde", lembra.


Leudo também conta que, por não fazer parte do grupo dominante da Prefeitura, sentiu-se rejeitado em vários momentos. "Era um apêndice no grupo", lembra. Passados mais de dois anos do ingresso na Prefeitura de Santiago, em 1979, foi para Porto Alegre, aceitando convite do governador Amaral de Souza. Na Capital, trabalhou no Palácio Piratini, na Secretaria de Educação - aos 24 anos, foi gestor da Área Estudantil da SEC - e na Secretaria da Fazenda.

Um ano emblemático

"Em 1984, dei uma virada na minha vida. Decidi que não queria nem ouvir falar em política", revela, acrescentando que a decepção com o comportamento das pessoas foi o motivo da reviravolta. Uma oferta de emprego publicada no Estado de S. Paulo foi o início da nova etapa. "A partir daí, tive uma vida de cigano", conta.

Já casado com Sandra Medeiros, hoje uma das mais importantes executivas de marketing da Coca-Cola, Leudo fez as malas e foi com a mulher para Maceió (AL). Ela passou a trabalhar no jornal A Gazeta. Ele fez "algumas incursões na TV A Gazeta". De Maceió, foram para Goiânia. De lá, Leudo voltou para Porto Alegre.

Trabalhou na Rádio Guaíba, onde foi repórter, repórter especial, chefe de reportagem, apresentador de programa. Ali diz que criou o horário de jornalismo noturno no Rio Grande do Sul, com o Programa Espaço Aberto. Também foi o primeiro a colocar um aparelho de televisão dentro de um estúdio de rádio em Porto Alegre.

Sentado em seu elegante escritório da Leudo Costa Advogados, ele conta suas histórias. E logo fica evidente que o assunto preferido é a televisão. "Sou apaixonado por televisão", afirma. "A televisão mudou o comportamento do mundo e vai continuar alterando todos os padrões." E critica a falta de profissionalização dos gestores da área de comunicação: "A visão comercial é muito mais importante que o conteúdo. Mas a visão de conteúdo tem que estar em primeiro lugar. No Brasil, a área comercial é extremamente agressiva e conservadora", avalia. E também critica a falta de conteúdo do jornalismo produzido pelas grandes mídias. Opiniões como essas fazem dele uma pessoa polêmica. A ponto de sofrer ameaça de morte, segundo revela.

A disputa pela TV Cristal

Leudo relembra um episódio importante na sua carreira como comunicador e como advogado: a disputa judicial pelo controle da TV Urbana/TV Cristal, que dura mais de um ano. Em 2006, conta que foi procurado em seu escritório por Airton Neves, um dos fundadores da TV Urbana, de Porto Alegre, "que todo mundo dizia que não tinha legitimidade para estar no ar".

Na ocasião, Neves pediu a liquidação da emissora, em função de dívidas com o governo federal. Leudo propôs sanar as despesas da TV Urbana e ficar com o controle acionário da emissora. "Formatamos isso em um documento. A família dele ficou com 46% e eu com 54%. Injetei dinheiro de toda ordem na televisão", recorda. "Na hora de fazer a transferência, o Airton disse que não tinha vendido, que ele só tinha feito um documento para enganar a ex-mulher", afirma.

Em setembro deste ano, Leudo foi reconhecido como presidente da TV Urbana, que voltou a se chamar TV Cristal. No entanto, em novembro, o canal volta a se chamar TV Urbana e Airton Neves retorno ao seu comando. "É evidente que isso vai ser revertido", garante. "Mas eu não sei se eu quero a TV Cristal depois de regularizar a situação. Estou tão entristecido. Não admito que, com a minha experiência, eu tenha sido enganado. O Airton transferiu o bem pela dívida, com plena consciência, para viabilizar o negócio. Quer saber? Eu sou um bobalhão", admite.

O advogado

Em Porto Alegre desde 1979, Leudo Costa fez vestibular e ingressou na universidade. Fez dois cursos ao mesmo tempo: Direito, no qual se formou em 1986, e Jornalismo, que não chegou a concluir. Por ser um comunicador apaixonado, parece difícil entender como o Direito entrou e tomou conta da sua vida. "Foi uma exigência", conta. O Leônidas Ribas, que era secretário da Educação, aconselhou que ele deixasse o Jornalismo de lado. "É uma bobagem", ouviu, na época. "Vai fazer Direito". E ele fez.

Fez e foi correspondente em escritórios de advocacia em Brasília durante 10 anos, fazendo a sustentação oral nos tribunais superiores. O escritório em Porto Alegre tem 10 anos. "Sempre fui um defensor intransigente dos direitos individuais", comenta. Leudo foi o primeiro advogado da primeira casa gay de Porto Alegre, a Caliente. Também foi o autor do primeiro processo por assédio em favor de um grupo homoafetivo em Porto Alegre. "Mexi com pessoas e com interesses que não podia", reconhece.

A paixão pela polêmica

Desde a juventude, Leudo Costa é considerado polêmico. Na verdade, ele é um apaixonado. E a paixão pode gerar sentimentos antagônicos naqueles que não a entendem. Ele declara abertamente: "Sou fascinado por comunicação. Criei um pouco de juízo quando fiz Direito", diverte-se. Mas, falando sério, Leudo sabe que a carreira de comunicador ainda não aconteceu como ele gostaria: "Meu prazo de validade está vencendo".

Nos seus planos para o futuro, breve, Leudo quer resgatar o curso de Jornalismo. "Tem algumas coisas que quero escrever, colocar no papel. Para isso, o curso vai me ajudar. Sempre fui um cara de microfone, de improviso, não um cara de redação", avalia. Ele ainda quer ter um programa de televisão semanal, para tratar de política, com conteúdo do mais alto nível. "E também quero ser dono de uma emissora de televisão respeitada em Porto Alegre, quero ter uma rádio AM e FM. O Roberto Marinho começou com 64 anos, eu só tenho 56. Agora eu estou pronto, estou entendendo qual é o meu espaço", garante.
Imagem

Comentários