Mauro Saraiva Júnior: Estrada do bem

Na trajetória de jornalista, Mauro Saraiva Júnior buscou ser um interlocutor da população e agora investe em novos projetos

Inquieto, de relacionamento fácil, emotivo e, como um virginiano típico, perfeccionista. Mauro Saraiva Júnior dedicou quase 25 anos de trabalho ao Jornalismo, grande parte desse período como repórter aéreo multimídia. Entre pousos e decolagens, conviveu com tragédias quase diariamente, viu suas críticas serem revertidas em realizações para a população e até salvou uma vida. "Sou uma cara de coração muito grande. Ainda não descobri o que eu odeio, mas amo muita coisa", define-se o jornalista, que agora se aventura na política, como pré-candidato a deputado estadual.
A contabilidade era a profissão à qual pretendia seguir quando, adolescente, prestou vestibular para Unisinos. A área de atuação, assim como o Direito, predominava na família; entretanto, ainda no primeiro semestre constatou que estava no curso errado. Um teste vocacional indicou aquilo que os amigos mais próximos já sabiam: a comunicação era seu lugar. A graduação em Jornalismo foi concluída em 1990, com direito a láurea. Formado, ingressou no Correio do Povo, onde era responsável por selecionar e distribuir o conteúdo recebido por telex entre as editorias. Mais tarde, passou a ocupar o cargo de repórter de Educação.
O desempenho levou a uma colocação na editoria de Polícia e, depois, como repórter da Rádio Guaíba. Foi em 1996, precisamente em 6 de maio daquele ano, que iniciou a trajetória de 18 anos no Grupo RBS: tornou-se repórter aéreo da empresa jornalística, que recém comprara seu primeiro helicóptero. O desafio era grande, especialmente para quem tinha medo de altura, como era o caso de Mauro, mas foi aos poucos superado. "Tinha que me preocupar com a linguagem das rádios - Gaúcha, mais jornalística; Cidade, mais jovem, Farroupilha, popular; Rural, gaudéria -, que até esqueci desse medo e acostumei", relata. Logo, ganhou mais espaço nos veículos do grupo, passou a apresentar boletins de trânsito em diversas rádios, a colaborar com telejornais e assinar coluna no jornal Zero Hora.
Em novembro passado, deixou o Grupo RBS para se dedicar a novos projetos. Entre eles, está a pré-candidatura a deputado estadual pelo PSDB. Conta que, em um primeiro momento, relutou a aceitar o convite, mas após conversas com amigos e familiares decidiu que era hora de fazer mais. Crê que em toda a carreira profissional trabalhou como um interlocutor entre a comunidade, a sociedade, as autoridades, órgãos de trânsito e políticos. "Fui uma espécie de "voz da sociedade", contribuindo para muitas conquistas. Do ponto que tinha muitos acidentes e precisava de lombada, sinaleira, agentes fiscalizando o trânsito, a locais inseguros que pediam mais policiamento contra assaltos", afirma.
A melhor recompensa
No Jornalismo, não foram poucos os momentos de realização e furos de reportagem, que até lhe renderam premiações. Um dos mais marcantes aconteceu em 1995, quando noticiou em manchete no Correio do Povo que a Brigada Militar assumiria o controle interno de presídios no Estado. Após a publicação, a informação foi negada pelo então secretário de Segurança, José Eichenberg, em coletiva de imprensa. "Todo mundo falava que era a maior barriga dos últimos anos", recorda. Em certo dia, faltando minutos para a meia-noite, várias viaturas da BM entraram nos presídios Central, de Alta Segurança de Charqueadas (PASC) e penitenciárias Estadual do Jacuí (PEJ) e de Charqueadas (PEC), para a troca de guarda. "Aprendi naquela noite que fonte era a coisa mais importante para jornalista", diz.
Já o trabalho ao qual atribui o título de o mais emocionante da carreira foi produzido um ano depois, em 1996, ainda no primeiro ano como repórter aéreo. Sobrevoava a região Sul do Estado quando recebeu a informação de que um menino de 9 anos, chamado Luiz Carlos Becker, perdera-se na Lagoa dos Patos, havia quatro dias. A mãe insistia que o filho estava vivo, embora ele não soubesse nadar e o Corpo de Bombeiros anunciasse o encerramento das buscas, após localizar o barco, os remos e a mochila do menino.
Com a intenção de informar sobre o local de buscas, repórter e piloto rumaram para a região em que os Bombeiros relatavam ter encontrado o barco. Não localizaram embarcação alguma, mas sim um menino, que abanava em uma ilhota. Mauro contatou a produção da Rádio Gaúcha e, enquanto falava, o helicóptero pousou na ilha. "Estava nervoso, gaguejava, e quando cheguei perto dele, perguntei seu nome. Ele falou: "Luiz Carlos Becker, muito obrigada por salvar minha vida". Comecei a chorar."
A revelação interrompeu entrevista com o chefe do Corpo de Bombeiros na Rádio Gaúcha e pôs abaixo a tese da corporação. A reportagem resultou em vários prêmios, no entanto, acredita Mauro, nenhum é comparável à possibilidade de salvar uma vida.
O cachorreiro
Filho de Marisa, atuante na Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), e Mauro Saraiva, atuante na área de perícia judicial, é o único homem entre quatro irmãs - Marlise, Lisiane, Fabiana, Gabriele e Daniele. "Sou o protegido, pode haver desavenças, mas o irmão é o rei todo-poderoso delas", brinca. De personalidade inquieta desde os tempos de criança, desfrutou de todo tipo de brincadeira, vencendo até torneio de natação e Campeonato de Futebol Citadino pelo Teresópolis Tênis Clube. Tanta diversão também resultou em alguns contratempos. Ele calcula que até os 13 anos, tenha ido ao Pronto Socorro 13 vezes. Os motivos vão de deslocamentos ósseos a incisões que precisaram de vários pontos. "Posso dizer que tive uma infância sadia e ativa", resume.
Porto-alegrense, reside há três anos em Viamão, dividindo a casa com três cães da raça Golden Retriever: Hanna, Gerson e Olga. Os cachorros, motivos que o levaram a deixar o apartamento na Capital, entraram para a vida do jornalista de forma repentina. Mauro não se considerava um "cachorreiro" - e nem tinha um - até que resolveu justificar a demora em responder a um chamado para um boletim na Rádio Cidade, dizendo que estava alimentando seu cachorro. Não esperava que a apresentadora Regina Lima questionasse sobre o nome do mascote, dando início a um movimento entre ouvintes, que acabou por batizar o cão fictício de Chuchureco.
Certa vez, ao criticar a situação da Avenida Baltazar Oliveira Garcia, Mauro disse que não podia nem passear pela calçada com o cachorro. Meses depois, foi surpreendido pela então governadora Yeda Crusius, que em uma coletiva de imprensa, afirmou que iria reinaugurar a avenida junto com Chuchureco. A saída foi comprar um cachorro. "Estava tão preocupado que esqueci e comprei uma fêmea. Quem inaugurou a Baltazar foi a Hanna", lembra. Hoje, a família de Golden Retriever está na terceira geração. O dia a dia dos cães é constantemente retratado por Mauro nas redes sociais.
Fazer e crescer
Reunir os amigos em casa, sair para jantar e passear pelo Parque Saint Hilaire com seus cachorros são algumas das maneiras com que aproveita os momentos de lazer. Os filmes de comédia são os preferidos para distrair e até amenizar o impacto das tragédias vistas no cotidiano. "Sou uma pessoa muito emotiva, daquelas que chora com Caldeirão do Huck", revela, explicando que dispensa as produções que chocam.
O gosto musical define como eclético, pois acredita que existe o bom e o ruim em todos os gêneros. A diversidade de estilos é comprovada pelos CDs que tem em casa, que incluem de artistas nativistas a rock e MPB. Entre as favoritas estão canções de Jorge Dexler, The Lumineers, Coldplay, Paul McCartney, Jack Johnson e Pink Floyd. "Não tenho simpatia por rock metal, mas sei apreciar. Não tenho paixão por música tradicionalista, mas gosto de muitas", exemplifica.  O mesmo vale para a literatura. Admite que o perfil agitado dificilmente permite parar para desfrutar da leitura, mas quando o faz costuma seguir as sugestões do professor Paulo Ledur. "Ele me manda livros diversos, e eu leio e não me arrependo."
Mauro considera-se uma pessoa solidária, sem problemas em se relacionar e de fácil convívio, alguém que privilegia a companhia ao invés do ambiente. "Não faço diferença entre estar em restaurante cinco estrelas e numa carrocinha de cachorro-quente. Vou estar bem onde estiver a turma com que eu me sinto bem", diz.
Continuar progredindo, independentemente da área em que estiver trabalhando, está entre os planos para o futuro. Defende que nunca se deve afirmar que atingiu a plena satisfação; e sim, estar sempre aberto ao novo. Foi com esse pensamento que decidiu encarar a política. "Quero crescer, contribuir, prosperar, do lado que a vida me levar; mantendo meu caráter, ideologia e pensamento", conclui.
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