Almir Freitas: O equilibrista do cotidiano

Jornalista há mais de 30 anos e dividindo-se entre docência, mercado e família, Almir Freitas afirma que está em um momento de reflexão

Por Márcia Farias
Professor, empresário, pai, marido, cozinheiro e colorado. São muitas as atividades que preenchem a vida de Almir Freitas, mas, além de todas essas, tem uma que o faz falar por cerca de uma hora - e poderia falar ainda mais: ser jornalista. Homem alto e de voz imponente, à primeira vista não se parece em nada com a pessoa calma, divertida e sorridente que se mostra durante a conversa. Quem o ouve falar da profissão, da sala de aula e dos caminhos da comunicação não consegue entender o que o levou a prestar, por três anos, vestibular para Medicina. "Algo lá em cima me olhou e disse 'isso não é para ti'", brinca, explicando que, ao realizar um teste vocacional e saber que o resultado levava para áreas persuasivas, ouviu o conselho da irmã mais velha e decidiu que seria psiquiatra. Mais tarde, finalmente o Jornalismo passaria a ser a sua realidade. Os 30 anos de profissão fizeram com que, hoje, o sócio-diretor da Uffizi Consultoria em Comunicação não tenha dúvida de estar na área certa.
O pai de Caetanno, 23 anos, fruto do primeiro casamento, e de Felipe, 1 ano e 8 meses, vive um momento de reflexões, fase motivada pela diferença de idade entre os meninos. Enquanto o primogênito está prestes a concluir a faculdade de Jornalismo (escolha que foi surpresa para ele), o caçula diverte-se ao som de Eliana, Xuxa, Companhia Lúdica, entre outras atrações infantis. Apesar de reviver a paternidade aos 50 anos, Almir revela que a esposa, a publicitária Cristina Louro Gigante, às vezes o questiona quem é realmente a criança da relação. "Em alguns sábados, são 22h30, hora de criança estar dormindo, e eu estou fervendo com o Felipe na sala", conta, visivelmente empolgado.
Com o ritmo acelerado, o jornalista explica que tenta constantemente encontrar um equilíbrio entre todas as funções: "Sou um terço empresário, um terço professor e um terço família". E com todas as atribuições que lhe cabem ele não se sente realizado, pois significaria estar acomodado. Sente-se um profissional em realização.
A consistência da academia
Os tempos da faculdade, vividos com bastante intensidade, foram cursados na Católica de Pelotas, e o período o fez ter diversos momentos em que precisava se dividir: o quartel, onde passou um ano; a casa dividida com outros estudantes, em que teve que aprender a se virar sozinho; o trabalho em Rio Grande, que o fazia percorrer 120 quilômetros todas as noites para estudar; entre outras experiências. A universidade, porém, nunca foi vista como um possível local de trabalho, mas aconteceu. Há seis anos, ministra, na Famecos, as disciplinas de Assessoria de Imprensa, Jornalismo Especializado e Redação em Relações Públicas.
Almir explica que atuar na universidade e no mercado de forma simultânea o faz sentir um profissional mais completo. Se tivesse que escolher entre as duas atividades, porém, diz que não gostaria da ideia de se afastar de clientes e colegas, mas acredita que, hoje, a docência é um local mais seguro e com vida mais prolongada. E por falar em tempo, ele não quer envelhecer trabalhando: "Não quero que as pessoas me olhem e digam 'olha aquele jornalista velhinho, coitadinho, ainda trabalha'. Quero saber o tempo das coisas". À equipe já declarou: "Vai chegar um momento em que terão de comprar a minha parte na empresa". Quando a hora chegar, afirma, talvez ajude com uma consultoria ou outra, mas apenas isso.
A sala de aula, segundo conta, é a consistência que o mercado não dá: "Nele, os profissionais ficam à mercê do processo; nas aulas, este processo é muito mais concreto: ou é, ou não é e pronto". Outra experiência interessante relatada por Almir foi ter sido professor do próprio filho. Nas duas vezes em que se encontraram nesta condição, o jornalista fez questão de contar para a turma a relação dos dois, mas garantiu que não corrigiria seus textos e que se esforçaria para dividir as situações. "Acabei tendo o Caetano como um crítico. O que foi bom, pois, pude perceber a minha postura por outros olhos, às vezes até de forma dura, mas também de forma estimulante para o nosso crescimento."
Dos dois lados do balcão
Enquanto universitário, Almir recebeu a primeira proposta para atuar em comunicação no Grupo Ipiranga, onde permaneceu por três anos. Foi o primeiro contato com comunicação empresarial e onde iniciou a intimidade com a área. Após outras experiências, atuou por sete anos com assessoria de imprensa, na empresa Insider2. Em meados de 1998, decidiu seguir na área, mas com o próprio negócio: nasceu a Uffizi e, com ela, o início de uma fase de bastante trabalho. Após um período trabalhando basicamente na gestão da empresa, hoje, faz questão de participar ativamente da produção e de envolver-se com a maioria dos clientes que atende - divididos nas áreas: assessoria de imprensa, produção de conteúdo e redes sociais.
Apesar da larga experiência com comunicação empresarial, a carreira não foi traçada somente neste setor. Recém-formado, desejou conhecer como funcionava uma redação e como as notícias aconteciam em veículo. O jornal Agora, de Rio Grande, foi o primeiro destino, mesmo ganhando 40% do que recebia de salário no Grupo Ipiranga. Era o começo de uma vida profissional recheada de passagens por O Globo (na sucursal de Rio Grande), Zero Hora, Rádio Pampa e Diário do Sul (projeto da Gazeta Mercantil), passando por editorias de Geral e Economia. Já na Uffizi, chegou a se afastar da empresa por cerca de um ano, para colaborar com a jornalista Bela Hammes em um projeto na Zero Hora, mas retornou para 'casa'.
O porto seguro de Almir
Nascido em Rio Grande, em março de 1959, Almir é o segundo filho de uma prole de três e o único homem. O pai, Edalmiro, era industrial e a mãe, Hilda Carolina, dona de casa. Na família, cada um enveredou para um lado, a irmã mais velha é psicóloga e empresária, já a mais nova é artista plástica e professora municipal. Da infância na cidade natal, ele lembra de algo que remete ao paladar: o chocolate do Seu Couto. Quando fala na antiga loja chega a suspirar e conta que, recentemente, esteve em Rio Grande, passou na frente do local, comentou com Cris (como chama a esposa) e chegou a sentir novamente o gosto dos chocolates de lá. Também recorda dos amigos, que foram "altamente importantes", conforme define. "Eram relações que não se constroem mais. Amigos da rua, da quadra, da casa da frente", comenta, para em seguida registrar: "Ir para uma festa do outro lado da cidade e voltar a pé cerca de 25 quadras era uma grande brincadeira".
A família de Almir é chamada de porto seguro, pois é onde pode se esconder, se energizar, chorar, sorrir e ser ele mesmo. Sábado, por exemplo, é um dia sagrado de lazer, pois se permite dormir até mais tarde, sair com Felipe, almoçar com Caetano e fazer diversos programas diferentes. Já domingo, dia que chama de "uma pasmaceira", se permite resolver questões profissionais, mas somente quando necessário e de uma forma muito leve. E se tem algo que faz Almir feliz, é estar com os filhos e a esposa. Ver Caetano e Felipe convivendo de forma tão amorosa, então, nem se fala. "Eles se gostam muito. O Felipe faz uma festa quando sabe que o 'mano' está chegando e o Caetano adora o irmão, inclusive dando suas opiniões na criação dele."
Em busca da tranquilidade
Enquanto fala da família e da necessidade em tê-los por perto, o jornalista faz uma revelação: adora cozinhar. E não o faz sozinho, a companhia de Cris é sempre um prazer. "Nossa relação passa pela cozinha. Este é um momento de diversão e a gente inventa muitas coisas", conta. Camarão e outros peixes é que o mais gosta de fazer, tanto, que vai a Rio Grande abastecer-se dos crustáceos para ter o ano inteiro. Apesar de não saber dizer o prato que Cris mais gosta que ele cozinhe, sabe o que ela menos gosta: "O mocotó nos separa. Quando faço, ela diz que devo comê-lo em uma sala, enquanto ela ficará com seu sanduíche em outra". O apreço pela gastronomia é tanto que até mesmo os programas de TV favoritos remetem à culinária. "Gosto de aprender coisas novas, decorar os pratos, ou seja, é um prazer para mim", resume.
Em fase de maior tranquilidade, ou ao menos tentando buscá-la, Almir reflete o que gostaria de retomar na vida. Quer ter mais tempo para dedicar-se à prática do Bonsai, a qual considera uma arte milenar que traz um processo bastante interessante para dentro de si - ele já cultivou 12 bonsais, mas acabou os perdendo e, hoje, restam dois. Outra atividade que o faz ser mais sereno é o Espiritismo. Gosta de música sim, especialmente a popular brasileira, além das infantis (as mais ouvidas ultimamente), mas a verdadeira "válvula de escape" do jornalista é o centro espírita: "É ali que passo a ser apenas alguém que ajuda quem precisa. Colaborar com os outros é extremamente necessário para mim. É o momento que percebo o quão pequenos são os meus problemas."
Apesar de viver um momento mais zen, tem algo que tira toda e qualquer tranquilidade: o time do coração. Colorado convicto, assim como a esposa, vai aos jogos sempre que pode ao lado de Cris. Passa esta paixão ao Felipe de todas as maneiras, inclusive ensinando-o a beijar o símbolo do time. "Infelizmente não consegui transferir isso ao Caetano, mas o Felipe não escapa", brinca, contando em seguida que o mais velho tenta influenciar o irmão de todas as maneiras, até mesmo prometendo levá-lo à Arena, assim que o novo estádio tricolor ficar pronto.
Para resumir-se, ele diz ser alguém que tenta aprender com os erros e entender os acertos, mas, acima de tudo, alguém que está repensando muitas coisas, pois, segundo define, "estamos vivendo num mundo de mudanças". E diz mais: "Sou alguém em processo de adaptação, para que este mundo não passe por cima de mim". Se tem um lema que define seu momento? Sim: "Existem homens que lutam um dia e são bons; têm homens que lutam um mês e são melhores; mas existem os homens que lutam a vida toda, estes são os imprescindíveis".
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