Cláudia Coutinho: Entre Olimpíadas, finanças e prefácios

Jornalista com mais de três décadas de atuação tem na carreira passagens por três áreas igualmente significativas para ela

Crédito: Henrique Alonso

Desde o momento em que colocamos os pés pela primeira vez em uma escola, somos instruídos a decorar o hino. O motivo? Precisamos saber cantar, em alto e bom tom, todos os versos durante os mais diversos eventos. E, mesmo depois de tanto tempo, é impossível esquecer da letra. Contudo, para a jornalista Cláudia Coutinho, significa muito mais do que recordações, afinal, vem da música em homenagem ao Colégio João XXIII a frase que carrega até hoje, como uma espécie de lema de vida: "É a autenticidade que nos dá nobreza".

Do local onde estudou durante todo o período escolar, situada no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre, ainda traz outra parte fundamental da sua história: a escolha da profissão. Isso porque a ideia de cursar Jornalismo se deu quando estava no que, atualmente, seria o segundo ano do Ensino Médio, e tinha como professor de Filosofia o consagrado jornalista Ruy Carlos Ostermann

Em dado momento, entenderam que a escola precisava ter um jornal que colocasse o ponto de vista dos alunos. Então, foi criado um grupo para escrever o que chamavam de 'A Voz do Morro'. "Ali, tive as primeiras lições de Jornalismo com o Ruy e tive a certeza de que era a profissão que queria seguir", relata. Alguns anos mais tarde, 'O Professor', como é conhecido, continuou a ajudando e conversando sobre pautas, quando Cláudia passou a trabalhar no Grupo RBS.

Graduada em Jornalismo no início dos anos 1990, pela Famecos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), hoje Cláudia se sente muito realizada com as cerca de três décadas de carreira. Afinal, não são todos os profissionais que conseguem encaixar três adorações pessoais - esportes, economia e literatura - durante todos os anos dedicados ao trabalho. 

Paixão esportiva

Se chegar ao ápice de um jornalista que trabalha com esportes é cobrir uma Olimpíada, Cláudia conquistou duas medalhas de ouro. Presente no evento tanto em Barcelona, quanto em Atlanta, analisa: "É o ponto máximo do nosso trabalho, quando somos mais desafiados". Conforme ela, não somente pelo lado profissional, mas especialmente por um envolvimento emocional - que começou ainda criança.

Apesar de se considerar "um zero à esquerda na prática esportiva", desde pequena sempre gostou muito de assistir. Acordava cedo para ver Fórmula 1, acompanhava disputas das mais variadas modalidades, como tênis e natação, frequentava tanto o Beira-Rio quanto o Olímpico - mesmo sendo colorada - e, como indício do futuro, era fanática pelo Esporte Espetacular, da Rede Globo.

O que ela não sabia é que todos esses momentos seriam fundamentais quando foi repórter e editora de Esportes durante três passagens pelo Grupo RBS, bem como quando decidiu empreender e abriu uma assessoria de Comunicação e Marketing Esportivo. "Foi uma época muito legal, quando trabalhei com diversas equipes e atletas", recorda.

Emoção e ensinamentos

Além de muita emoção e alegria, carrega também lembranças de quando cobriu momentos marcantes para a história do esporte brasileiro, como durante o primeiro título de Gustavo Kuerten, o Guga, em Roland Garros. Ela não estava na França, mas fez uma cobertura rica em detalhes. Isso porque, apesar de terem sido proibidos telefonemas da imprensa para o atleta, Cláudia conhecia o irmão dele, Rafael, e todas as noites ligava para saber como havia sido aquele dia de treino do tenista.

O que mais traz de legado até hoje são os ensinamentos. "Conforme fui me envolvendo com a cobertura esportiva, fui entendendo a importância do Esporte na vida das pessoas", conta, ao recordar de uma situação que teve um grande impacto na vida dela. No começo da carreira, durante uma entrevista com o bicampeão mundial de Boxe Éder Jofre, sempre muito sincera, ao ser questionada pelo atleta se gostava do esporte, disse que não. Foi então que Jofre salientou: isso se devia porque ela nunca havia aprendido a assistir, ao passo que a ensinou quais eram os movimentos nos quais tinha que prestar atenção durante as lutas. A partir de então, passou sempre a acompanhar a modalidade.

Contudo, nem tudo foram flores e houve muitos desafios. Certa vez, fez a cobertura do campeonato mundial de punhobol - esporte coletivo de origem germânica, semelhante ao vôlei. Precisou se preparar e buscar informações sobre o jogo, pois desconhecia as regras e o funcionamento. Inclusive, infelizmente, precisava se provar o tempo todo. "E por ser uma época em que eram raras as mulheres na redação esportiva, tínhamos que praticamente todos os dias provar que sabíamos o que era impedimento."

Páginas da vida

Outra paixão de Cláudia que se mistura entre hobby e profissional é a literatura. Adora ler e sempre está com uma pilha de livros para colocar em dia, porque tem o hábito de adquirir novas obras para a estante. "Sou devoradora de biografias, especialmente de mulheres. Acho que elas têm sempre a nos ensinar." 

Tem como favorita a autobiografia do ex-tenista norte-americano Andre Kirk Agassi, a qual considera hors concours. Cita ainda a do suíço e também ex-tenista Roger Federer e a de Michelle Obama, assim como todas sobre os Beatles, visto que é muito fã do quarteto britânico e já leu todas as narrativas sobre John, Paul, George e Ringo.

Do outro lado do balcão, já escreveu um livro, sobre esportes, é claro, e narrou a história do Vôlei de Montenegro, chamado 'Vôlei em Montenegro: uma história de paixão e glórias'. Além disso, desde 2018, junto com Carolina Ruwer, abriu a Capítulo 1, agência de Comunicação que trabalha com conteúdo e design editorial.

Em 2022, esteve em Portugal por 15 dias, terra onde o avô, Fernando Coutinho, nasceu e estão as suas raízes. Escolheu a data justamente para acompanhar as Feiras do Livro do Porto e também de Lisboa. Viajar, aliás, está frequentemente nos seus planos, "sempre que o câmbio permite". Entre os roteiros que mais a marcaram, estavam a visita a Paris, para acompanhar durante uma semana o Torneio de Roland Garros, bem como quando foi a Liverpool e fez um tour especial dos Beatles. Para o futuro, tem o desejo de conhecer a África e países como Moçambique.

Entre finanças, investimentos e negócios

Além de ter no currículo também passagens pela área corporativa, quando trabalhou em diversas instituições, como a Fiergs e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, outra faceta da extensa carreira de Cláudia diz respeito à editoria de Economia. Depois de finalizar a graduação em Jornalismo, resolveu voltar à sala de aula, mas dessa vez para cursar Economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). 

Embora nunca tenha se formado, na época surgiu a oportunidade de trabalhar na revista Amanhã. Além disso, não foi somente quando atuou com esportes que integrou o quadro de colaboradores de Zero Hora. Isso porque ocupou vagas na editoria de Economia do veículo, sendo repórter, chefe de Reportagem e editora. 

Hoje, apesar de estar realizada com a carreira, confessa que é uma pessoa muito inquieta, como é o caso de estar sempre se atualizando, por meio de cursos e especializações, além de buscar novos desafios e não se acomodar. "O dia que não tiver mais gana de enfrentar novos desafios, posso ir para outra dimensão, porque aí não sou mais eu", decreta.

Exatamente por isso que, atualmente, pertence à diretoria da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), entidade que considera ser sinônimo de luta pelo respeito à liberdade de imprensa. "Quando recebi o convite, fiquei muito feliz, porque é um reconhecimento dos colegas à minha trajetória."

Outras tantas facetas

Como prestadora de serviços, não tem horário para chegar em casa ou parar de trabalhar. Entretanto, aprendeu a ter um tempo dedicado só para si. Depois da rotina de tomar café e ler jornais - tudo digital, porque papel quase não entra mais em casa -, caminha, pratica yoga e, no verão, ainda frequenta a hidroginástica. "Estou sempre me mexendo bastante. Cuidar da saúde e do bem-estar é fundamental para mim", admite.

Quando o assunto é audiovisual, confessa que a pandemia a tirou um pouco da rotina de ir ao cinema. Por isso, normalmente assiste algo na televisão. Em geral, o que lhe encanta são os documentários, principalmente na área de esportes - e poderia ser diferente? "Não sou dessas que fica maratonando séries e vendo filmes. Prefiro pegar o meu livro e os marcando com minhas canetas marca-textos", diz.

Em relação à música, considera-se muito eclética, pois a playlist selecionada para o dia depende do humor. "O algoritmo do Spotify enlouquece comigo", brinca. Gosta muito de Beatles, assim como da MPB de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e também de samba e pagode, como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Thiaguinho. 

No quesito culinária, confessa ser apaixonada por queijo, alimento que não falta na sua cozinha, apesar de gostar de qualquer tipo de comida, como italiana e ala minuta. Além disso, revela ser "formiga de chocolate", mas só do doce de cacau, pois os outros não conquistam seu paladar.

Sem entrar em detalhes sobre a família, apenas relata que ela e o filho, Thiago, tiveram por 14 anos um cachorrinho que "acabou virando estrelinha" há três anos. Quando questionada sobre características marcantes, revela que é muito autêntica; contudo, isso pode ser uma qualidade em alguns momentos e em outros, um defeito.

Diante de tanta conquista, hoje, olha para trás e se considera uma mulher madura, inquieta e que correu atrás dos seus sonhos. Além disso, alguém que "realizou muitos deles e teve a felicidade de encontrar parceiros de trabalho que sempre lhe deram a mão". Toda uma história descrita em três palavras: autenticidade, liberdade e gratidão.

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