Dannie Dubin: Sempre em família

Executivo revela pontos positivos e negativos de conviver com familiares até mesmo no trabalho

Dannie Dubin - Reprodução

Por Márcia Farias

Pouco mais de uma hora de conversa é tempo suficiente para perceber o que norteia a vida do diretor-presidente da Ativa Mídia Exterior. Dannie Dubin fala na família inúmeras vezes durante a entrevista. Seja para contar sobre a carreira e a convivência com os irmãos, que são seus sócios, seja para falar do clã que formou com a nutricionista Alessandra e os três filhos - Lucas, de 14 anos, Antônia, 11, e Roberta, 7. Se tem outro assunto que o deixa entusiasmado é a paixão pelo Sport Club Internacional. São estes os principais prazeres de Dannie: atuar na empresa, estar com os seus e ser colorado. O nome incomum, segundo conta, "é uma invenção de pais corujas e judeus".

Já são mais de 20 anos trabalhando na empresa fundada pelo pai, José Dubin, da qual orgulha-se de fazer parte. Do início da carreira, ele recorda os desafios de deixar de ser apenas 'o filho do dono', até chegar ao cargo máximo. Apesar da vitória, o executivo revela que foi difícil, pois atuou ao lado de pessoas que estavam havia muitos anos com seu pai e que não o aceitavam. A situação, ele acredita, é padrão em empresas familiares. "Para resolver isso, tem que trabalhar, mostrar capacidade, conquistar espaços. Algumas pessoas vão te aceitar, outras não, e não tem jeito", afirma.

Formado em Direito e pós-graduado em Marketing, estava no terceiro ano de faculdade quando decidiu entrar para a Ativa, que hoje soma 35 anos de atividade. "Comecei no chão de fábrica", conta, para explicar que iniciou em funções de produção para, aos poucos, galgar passos maiores. "Uma força magnética começou a me atrair para dentro da empresa", brinca. O irmão de Régis, que atua no escritório de São Paulo, e de Ana Karina, relações-públicas da Ativa, explica que foi o escolhido para assumir o lugar do pai, há cerca de 10 anos, por ser o primogênito.

Religiões familiares

Além do Judaísmo, o Internacional também é encarado por ele como religião. Ambas são frequentadas por todos, mas a primeira com menos frequência. Para não perder a essência, Dannie faz questão de ir à sinagoga, acompanhado de Alessandra e os filhos, toda sexta-feira, quando ocorre o Shabat - um culto judeu comemorado para representar o aparecimento da primeira estrela. A tradição também é levada no pescoço, onde carrega uma corrente com um pingente, presente da esposa, com a palavra 'saúde' na língua hebraica.

Quer arrancar sorrisos de Dannie? É só falar no Inter, pelo qual é fanático, a ponto de concorrer à sua diretoria. Já foi vice-presidente de Marketing, na gestão 2000/2011, e diretor da mesma área, no biênio 2006/2007. "Não é uma coisa fácil, mas decidi que, se é para tomar meu tempo, que seja com algo que me dá prazer", explica.

A origem da paixão, como não poderia ser diferente, vem de gerações. Desde criança, Dannie acompanhava o pai no estádio. Hoje, faz o mesmo com os rebentos, até mesmo com as 'gurias', como ele chama Antônia e Roberta. Lucas é seu maior companheiro no Beira-Rio. Aliás, não apenas na sede do clube. Em 2006, pai e filho foram para o Japão conferir, de perto, a final do Mundial Interclubes. Apesar de caracterizar a viagem como 'maluca', não há espaço para arrependimentos. "O retorno foi quase em seguida do jogo e a adrenalina estava tão grande que, mesmo que déssemos a volta ao mundo, não importaria", recorda, para logo dizer que este ano não vai a Dubhai (onde o Inter disputa o mesmo título) por questões de trabalho.

A família-empresa

Dannie vive entre o núcleo familiar durante 24 horas do seu dia. Pessoas diferentes em determinados momentos, mas todas com o mesmo sangue. Reconhece que trabalhar com familiares não é uma tarefa fácil, mas garante que há diversas vantagens nisso. "A confiança e o grau de responsabilidade dos sócios são enormes. A visão destas pessoas também é diferente de um funcionário comum. Esta é a parte boa, a cumplicidade entre os donos", diz, confessando que se policia muito para não levar a casa para o trabalho e vice-versa.

Atuar em uma empresa familiar traz também problemas, ele reconhece. A possibilidade da não-profissionalização é um deles. Segundo o executivo, se a organização pensar apenas que o indivíduo é parente e precisa trabalhar, ela está fadada a quebrar. Dentre outros ponto negativos citados, Dannie também fala da terceira geração e afirma estar nela o maior dos perigos. "Já estamos desenvolvendo algumas regras para os próximos familiares atuarem na empresa, como, por exemplo, ter uma experiência de mercado." Este é um fator do qual se ressente: "Praticamente nasci na Ativa. Apesar de ter estudado e estar sempre atento ao que há em volta, hoje eu percebo que seria interessante ter tido outra experiência".

O filho Lucas já expõe vontade de seguir os passos do pai, que considera uma atitude normal da idade. Mesmo percebendo que o primogênito tem tendências às áreas de Administração ou Publicidade e Propaganda, Dannie garante que não vai incentivar a atuação na Ativa. "Se acontecer, maravilha, mas não é um desejo meu", revela.

De pai para filho

Self-made man, esta é a definição dada a Zé Dubin, o pai. A expressão é uma referência às vitórias conquistadas por alguém "sem instrução, mas com grande inteligência". A presença paterna sempre foi constante, mesmo a convivência sendo classificada como 'difícil'. "Temos conflitos normais. Meu pai é um cara muito cobrador, muito detalhista." A relação, garante Dannie, é construída em cima de muita admiração e respeito. Já a dona de casa Bella é o estereótipo da mãe judia: "Ela passou a vida toda cuidando do marido, dos filhos e da casa. Até hoje eu e meus irmãos somos tratados como se tivéssemos 12 anos ainda".

Dannie aponta o avô paterno, Salomão Dubin, como a grande referência de sua vida, pois fugiu da Segunda Guerra Mundial, chegou no Rio Grande do Sul sozinho, sem falar uma palavra em português, e saiu vendendo uma série de objetos. "Ele acabou tornando-se empresário, com uma loja de tecidos, e sempre deu muito valor à família. Acho que herdei isso dele", reflete. A maior lembrança de infância também remete a Salomão. O hábito do avô ter tudo por perto e a casa sempre cheia foi outra herança deixada. "É engraçado, mas não tem um dia que algo não me lembre ele."

Felicidade é ao lado de Alessandra e das crianças. "Me sinto realizado pessoalmente. Estou muito feliz com a família que formei", derrete-se, garantindo que todos os programas ficam melhor se tiver a companhia deles, que dele só recebem elogios. Alessandra e ele se conhecem há muitos anos, pois ela foi colega de Régis, o irmão de Dannie, na infância. O reencontro casual, na saída de um teatro, resultou em um casamento que dura 18 anos.

Lucas, único menino, é o seu grande companheiro, enquanto 'as gurias' são o seu mimo. Garante não ser um pai ciumento, mas sabe que isso pode mudar quando chegar a hora dos namoros. "O Lucas vai namorar quem ele quiser, mas acho que não vou pensar igual em relação a elas", confessa. É dos filhos que ele gosta de ouvir elogios, mas também vêm deles as piores críticas. "Gosto quando ouço que sou um 'baita pai', mas também dói quando escuto que deveria estar mais presente, mesmo achando que fico bastante com eles."

Eu e eu mesmo

Dannie joga tênis uma vez por semana e pratica exercícios físicos todos os dias antes de ir para o trabalho. O futebol, é claro, também está entre as suas preferências, mas este só pela televisão. "Sou daqueles que, se estiver passando o jogo do 15 de Novembro contra o São Caetano, eu vejo. É um negócio meio maluco, mas eu gosto", conta. Longe da televisão, o melhor lazer para ele é o cinema.

Também é apaixonado por música, arte tão presente que, em meados de 1980, teve uma banda de rock junto com o irmão chamada 'Os Eles', em que tocava guitarra e Régis bateria. O sucesso da época rendeu dois discos e uma participação no programa de Fausto Silva, quando ainda estava na Rede Bandeirantes. O dom também foi hereditário: Lucas domina o mesmo instrumento do pai.

Nem só de Ativa, Inter ou música vive o executivo. Em outros anos, ele também achou tempo e disposição para ser diretor do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e da ADVB/RS. Como se não bastasse, atualemente é diretor da Associação Gaúcha das Empresas Exibidoras ao Ar Livre. Apesar das experiências, ele confessa: "A verdade é que, depois da minha empresa e da minha família, nada me motiva mais do que o meu time." Este é o motivo de um sonho para daqui a, mais ou menos, 10 anos: ser presidente do clube. "Não é meta, é sonho mesmo", revela.

Não tem lema de vida, pois não acredita em frases prontas, "dessas que se lê nas revistas", mas sabe se autodefinir: "Sou leal. Se dou minha palavra, eu cumpro. Se marco um compromisso, chego 10 minutos antes. Não enrolo as pessoas. Sou direto e franco." Os amigos ele classifica como 'poucos e ótimos', além de todos serem conservados de longa data. "Não sou um cara que todo mundo gosta, tenho consciência disso, mas esse é o meu jeito. Não consigo ser diferente."

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