Giuliano Thaddeu: Na política, um encontro

Convicto desde a infância do caminho que queria seguir, o publicitário e jornalista encontrou na Comunicação pública uma conexão sem igual

Trabalhar com propósito e com o que se gosta é uma meta desejada por muitas pessoas. Na verdade, nunca se discutiu tanto sobre esse assunto. Mas, enquanto alguns buscam o caminho para atingir esse objetivo, outros parecem se conhecer tão intimamente, a ponto de traçar o destino ainda na infância. É o caso do publicitário e jornalista Giuliano Thaddeu. O hábito, um tanto incomum para uma criança, de assistir ao horário eleitoral foi determinante para o rumo da carreira. "Na maioria das vezes, via por diversão, mas, ao mesmo tempo, ficava encantado." 

De família de dentistas, até cogitou a profissão, mas afirma que nunca sentiu conexão com a área da saúde. Apesar de não seguir o ofício dos pais, Mário e Vera, e do irmão mais velho, Camilo, teve apoio incondicional quando escolheu a Comunicação. Direito e Economia chegaram a fazer parte da lista de possibilidades, mas a Publicidade levou a melhor. Mesmo com a convicção que era na área das humanas que faria morada, ainda não tinha certeza se o curso era a melhor opção, pois "pensava em experimentar, sentir se era o caminho certo". Já nos primeiros semestres, percebeu que era ali o seu lugar.

A confirmação veio quando descobriu que era colega da afilhada do então deputado estadual José Ivo Sartori. Apesar dos pedidos e das tentativas para trabalhar com o político, quis o destino que o encontro acontecesse anos depois. A jornada no universo da política começou quando recebeu o convite de uma professora para trabalhar em uma campanha do PDT para o governo do Estado. Na época, atuava como estagiário da PUC Virtual, que foi uma das primeiras iniciativas da introdução do ensino a distância. Sem pensar, largou tudo e mergulhou de cabeça na oportunidade. 

A partir daí, aquilo que era um desejo de criança passou a ocupar não somente manhã, tarde e noite, mas também arrebatou seu coração. O primeiro desafio maior na comunicação pública chegou aos 22 anos. Quando ainda estudante, assumiu como coordenador adjunto de Comunicação Social da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul. Ainda que muito jovem, a experiência trouxe junto a vontade de se tornar um profissional mais completo. Foi assim que o Jornalismo entrou em sua vida. "Durante a faculdade, já havia percebido que, para chegar aonde queria, precisava das competências que só a graduação poderia me dar. De fato, abri minha mente para muitas coisas."

Peleias das boas

Se tem uma coisa que Giuliano não gosta é ficar parado e, de fato, o embarque no setor público proporcionou a ele fugir diariamente da rotina. São muitos os momentos vividos que marcaram sua trajetória, mas sempre há aqueles que ocupam um espaço maior na memória. Um deles é de quando atuou como secretário de Comunicação de Porto Alegre. Com orgulho, lembra da campanha 'Porto Alegre: Eu curto, Eu Curto!', criada para incentivar os cidadãos a olhar com mais carinho para a Capital. Mas, em meio a isso, iniciava-se um processo eleitoral agitado, que tinha como maior foco a realização da Copa do Mundo de 2014.

Credenciais não lhe faltavam para encarar a peleia. "Era um momento de convulsão social, muito conturbado. As pessoas estavam divididas entre os que queriam a realização da Copa e os que achavam um absurdo." As adversidades em nada o assustaram, pelo contrário, lhe deram gás para assumir a coordenação das ações de preparação e supervisão dos projetos que, posteriormente, foram implantados. Nessa caminhada, faz questão de exaltar colegas como Flávio Dutra, Marcos Martinelli, Maria Luiza Borges e Carlos Bastos, com quem aprendeu muito: "Tive a sorte de trabalhar com gente que tinha muita luz". 

Mesmo diante de incertezas, inclusive se as obras ficariam prontas, a Copa em Porto Alegre não só aconteceu como foi um sucesso. O Caminho do Gol, a FanFest e o Acampamento Farroupilha Extraordinário chamaram a atenção não apenas dos brasileiros, mas igualmente da FIFA. "Dificilmente viverei novamente um desafio de tamanha magnitude." O destino ainda reservava um encontro muito desejado desde o tempo na faculdade, tão importante a ponto de estar no top três dos seus grandes desafios profissionais. A parceria com José Ivo Sartori parecia estar escrita e aconteceu quando o político assumiu o governo do Estado. 

O momento não era bom e o futuro, incerto. A instabilidade financeira e política dominava a pauta, o que levou a um planejamento de comunicação um tanto diferente. "Adotamos o discurso da crise", resume. Era preciso mostrar para a sociedade que as coisas não estavam bem e que, para melhorar, era necessária uma série de medidas duras e impopulares. Giuliano avalia que, apesar do cenário, foi um dos momentos mais ricos e de grande aprendizado da carreira, que também levou a conhecer o jornalista e advogado Cleber Benvegnú, responsável por sua ida para a agência Critério - Resultado em Opinião Pública, onde atua desde 2019. 

Amor incondicional

Cativante é, com certeza, uma boa palavra para descrever a forma como Giuliano fala sobre a paixão pela profissão e pela política. O trabalho no setor público é o grande responsável por sua evolução profissional, mas principalmente pessoal: "Política é gostar de gente". A afirmação tem relação direta com a experiência na prefeitura da Capital, na qual teve a oportunidade de conhecer diferentes realidades. Para ele, não há mudança social e econômica que não esteja presente na política. "Sempre vi nessa área a capacidade de transformar e, na comunicação política, a minha ferramenta."

Exigente consigo mesmo, entregou-se de corpo e alma ao trabalho, quase abdicando da vida pessoal. Lembra, rindo, de uma frase que Flávio Dutra costumava dizer: "Giuliano, em algum lugar dessa cidade, tem alguém fazendo uma grande 'cagada' e nós teremos que responder por isso". Não tinha dia e nem hora, era preciso estar em alerta constante. Olhando para trás, acredita que a falta de maturidade na época colaborou para essa falta de equilíbrio. A ida para o outro lado do balcão veio em um momento de muita reflexão. Acreditava que já havia dado sua contribuição para o setor público e que era hora de escrever novas histórias.      

Há quatro anos, aceitou o desafio de trabalhar para o setor privado, mas, como faz questão de ressaltar, "sem perder o olhar para as pessoas". Na Critério, a mescla de profissionais sêniors, criativos e com experiências de vida e carreira distintas é, na sua visão, a verdadeira comunicação 360º. Entre as vantagens, elenca pelo menos três: a possibilidade de explorar competências até então pouco trabalhadas, a ampliação do leque de clientes e, claro, o nível de estresse. Atualmente como Executivo de Comunicação Política, sente-se valorizado, feliz, mas destaca que quer sempre mais, e todos os dias.  

Um gremista de família

Nascido em Porto Alegre, mas batizado em Alegrete. Espera aí, como assim? Bom, nem ele mesmo sabe o porquê e diz que sempre conta essa história apenas para se exibir. No entanto, a explicação dos pais é que, por ser a terra natal do genitor, a burocracia era um pouco mais "fácil". Um menino querido e extremamente CDF, assim se classifica. Do tipo que os colegas adoravam escolher para fazer trabalho em grupo, o exigente aluno que tinha como régua nota acima de nove. "Tirar oito e meio, pra mim, era um horror. Chegava a ser exagerado." Para orgulho da mãe, na faculdade, recebeu o prêmio de melhor aluno da turma na formatura em Publicidade, e no Jornalismo a distinção foi dupla: a Láurea Acadêmica e o melhor amigo

Há quatro anos, divide a vida com Mariana e o enteado Vicente, de oito anos, por quem nutre um amor sem igual. "Quando a Mari chegou, trouxe com ela a minha família. O Vi é a minha vida. Tudo que eu faço hoje é por eles." A declaração rendeu um momento de muita emoção, algumas lágrimas e uma pausa para respirar. "Esse guri é o amor da minha vida, não posso nem falar que choro. Ser padrasto é uma dádiva." Muito apegado aos pais, Giuliano se mostra muito coruja ao dizer que eles são os melhores e que tenta estar sempre perto quando a rotina permite. "Família é sagrada", completa.

Uma das maneiras de manter os laços é fazendo algo que ama desde pequeno: torcer para o Grêmio. Quando não vai ao estádio, faz questão de assistir aos jogos na companhia do pai, aliás, seu parceiro em algumas loucuras. A mais marcante foi no primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1996. Com a promessa de Denis Abraão, na época dirigente do clube, que ganharia os ingressos, viajou para São Paulo, mesmo doente. Em meio a uma chuvarada e prestes a começar o jogo, nada das entradas. O jeito foi entrar disfarçado na torcida adversária. Para melhorar a noite da dupla, o Tricolor perdeu pra Portuguesa, mas ganhou em casa e levou o caneco.    

Um amor que passou de geração, que o pai ensinou e que hoje Giuliano transmite para Vicente. "Confesso que criei um monstro. Se deixar, vai em todos os jogos. Xinga, chora, é tão fanático quanto eu." Atualmente, a atenção não se dá apenas a Luisito Suárez - atual craque do tricolor gaúcho -, mas igualmente ao projeto do novo lar, que ainda está em reforma. Hoje, os recursos estão direcionados quase que em sua totalidade para a realização de um de seus grandes sonhos, que é a casa. Viajar, porém, também faz parte dos prazeres da família. Um dos grandes desejos, ele realizou quando foi para a África do Sul acompanhar a comissão da FIFA. A ideia era estudar o que havia sido aplicado lá para a Copa que ocorreu em 2010. No passaporte, afirma ter muito menos carimbos do que gostaria e, entre os lugares que deseja conhecer, está Machu Picchu, por toda história que o país peruano carrega.  

Apesar de não ser católico praticante, carrega consigo uma fé cultivada por si. Nas conversas diárias com Deus, costuma agradecer por tudo que conquistou e pedir força para continuar evoluindo. Abençoado. É assim que se sente ao falar sobre as pessoas que ama, o trabalho e a carreira. Ao tentar se definir, sai falando, mas, de repente, para e pede para pensar. Com a mesma leveza que direcionou a entrevista de um pouco mais de uma hora, responde: "Valorizo e me dedico muito às pessoas que amo. Me entrego em tudo que faço, porque faço as coisas que amo". 

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