Gustavo Ermel: Um eterno curioso

É movido pela sede de aprender que o publicitário conduz a carreira, a família e projeta o futuro

Comunicativo e curioso. Assim Gustavo Ermel se define e começa a contar sobre a aventura de ser publicitário. O sócio e diretor de Estratégia e Inovação da SPR pensava que seria jornalista esportivo, já que, além de amante da bola, era jogador da base do extinto clube Esperança, de Novo Hamburgo. No entanto, a fala de um professor o fez desistir na hora. O fatídico momento aconteceu durante a oitava série, época em que já se iniciavam as conversas sobre profissão. Ao explanar o desejo, escutou: "Não fica triste com o que vou te dizer, mas jornalista não ganha nada!". O balde de água fria o fez prestar atenção em outros atributos, como a boa oratória.

Foi então que uma professora lhe disse que o via descendo as escadas do Fórum. Pronto, uma sementinha havia sido plantada. A partir disso, todos os testes vocacionais levavam para o mesmo caminho, o Direito. Convencido, mirou o futuro na toga e iniciou a caminhada como estudante da Unisinos. Porém, o destino sempre dá um jeito de mudar os rumos da história. As aulas eram ofuscadas pela leve atmosfera advinda do prédio vizinho. O centro da Comunicação chamava atenção e não demorou para se tornar o seu recanto. 

Mas por que a Publicidade? Na época, rolava nos bastidores a informação que os rendimentos eram bem mais atrativos. "Éramos muito mal orientados, mas, de alguma forma, me agarrei também a isso para seguir aquilo que acreditava ser a minha cara", destaca.  A escolha, por vezes, foi assunto nas sessões de terapia. Ao longo de 18 anos, buscou entendimento sobre si mesmo, pois sentia que ser diferente dos pais e irmãos, ambos da área de exatas, era um problema. "Sempre fui muito questionador, tagarela e ligado à estética. Aprecio decoração, paisagismo e gosto de cuidar de mim. Acho que sempre incomodei", brinca. 

Contudo, se tem uma coisa que une a família é o amor pelo esporte. O gosto pelo futebol veio do pai, seu Doraci, que jogou na categoria júnior do Esporte Clube Novo Hamburgo. Os irmãos, Cássio Luciano, mais velho, e Carlos Eduardo, o caçula, igualmente tentaram seguir os passos, mas acabaram tomando caminhos bem diferentes. O primeiro é funcionário do Banco do Brasil e mora no Macapá, já o mais novo é engenheiro e reside nos Estados Unidos. A mãe, dona Maria Luiza, foi campeã gaúcha juvenil de natação e recordista de nado borboleta. "Ainda é lindo ver ela na piscina prestes a completar 70 anos." A admiração pela genitora o faz lembrar que ela largou um cargo na CEEE para se dedicar à prole. "Acho que percebeu que ia dar ruim se não cuidasse de perto dos três louquinhos", brinca.  

Das quadras para o banco 

Pode parecer um tanto óbvio dizer que, geralmente, aquele que escolhe a Comunicação é porque é comunicativo, mas no caso de Gustavo foi exatamente esta qualidade que o levou a chegar aonde está. Na faculdade, o transporte era de van, mas por enjoar muito, passou a andar ao lado do motorista, o que os fez se tornarem muito amigos. Da parceria, nasceu uma das tantas histórias do publicitário. Foi durante a condução de um grupo de funcionários do Banco de Crédito Nacional (BCN), para um campeonato de futebol em Caxias do Sul, que surgiu a inusitada oportunidade de trabalhar neste banco. 

Durante uma conversa, o amigo contou aos presentes que conhecia um estudante de Publicidade que estava em busca de um emprego. A instituição não tinha a política de contratar estagiários, mas junto com a negativa, veio a seguinte pergunta: "Ele joga bola?". Assim, as portas se abriram. Passados uns dias, lá estava Gustavo para fazer uma entrevista. O nervosismo tomou conta logo com a primeira pergunta: "O que tu queres ser no banco?". Sem ter a mínima ideia do que responder, soltou com convicção: "Quero ser que nem tu um dia". A estratégia deu certo e rendeu um salário espetacular. 

Porém, abrir uma agência sempre fez parte dos planos e começou a sair do papel na mesma época, em paralelo à recente carreira de bancário. Foi na cara e na coragem que, ao lado de Christian Faria e Plínio Kieling Neto, fundou a Duetto Comunicação Integrada. As prospecções e reuniões eram realizadas na parte da manhã, o turno inverso ao trabalho oficial, em um shopping. Mestre do planejamento, criou um método um tanto engenhoso para chegar aos potenciais clientes.

Em um caderno, que existe até hoje e estava em sua posse no momento desta entrevista, havia uma tabela em que detalhava cada passo para chegar nas empresas e, mais precisamente, na pessoa que tinha a caneta na mão, ou seja, o poder da decisão e o cheque no bolso. Cansado de ser ignorado pelas secretárias, descobriu seus nomes e adotou uma técnica do que podemos chamar de 'fingir costume'. "Quando elas atendiam, eu dizia 'Oi, fulana, tudo bem? Pode me passar o beltrano?." Apesar de, hoje, a história parecer engraçada, Gustavo afirma que cada não que recebia mexia com sua autoestima. 

Aos poucos, tudo foi se encaixando até que, em 2003, convencido pelos sócios a dar mais um passo, largou o banco, afinal a agência precisava de uma sede para chamar de sua. Com uma proposta de locação classificada como ridícula, alugaram uma sala. Lembra com satisfação da sensação de contratar, pela primeira vez, uma arquiteta para fazer o projeto do local. "Paguei tudo com a rescisão que recebi do banco. Parece coisa de louco, mas, para mim, era uma maneira de acreditar que aquilo ia dar certo", justifica. Apostadas todas as energias no negócio, era hora de mergulhar no novo trabalho.

A SPR

Um ano se passou e a agência estava de sala nova, funcionários e dava sinais de que o mercado da Propaganda estava de olho na sua caminhada, inclusive Juliano Brenner Hennemann, fundador e diretor-executivo da SPR. Foi em Gramado o primeiro encontro da dupla. Durante o Festival Mundial de Publicidade de 2005, foi abordado pelo futuro parceiro, que desejava cumprimentá-lo pelo trabalho que estava realizando frente à Duetto. 

Enquanto trocavam uma ideia, cerca de 40 pessoas, igualmente, paravam para saudá-lo. "Isso chamou a atenção dele. Acho que pensou: ele é amigo de todo mundo, então, deve ser gente boa. Na segunda-feira, lá estávamos para conversar." O motivo? Um convite para firmar uma sociedade e unir as agências. Apesar de gostarem da ideia, quiseram valorizar o passe e não aceitaram de imediato, e a resposta foi dada alguns dias depois.

O publicitário foi muito sincero ao falar sobre o cenário que encontrou na época. "Nada estava bem. Foi um processo gigante de crescimento pessoal. Imagina, eu tinha apenas 24 anos e, até então, nunca havia enfrentado situações profissionais complicadas", relata. Logo de cara, a perda de um cliente, que representava cerca de 60% do faturamento, mexeu com as estruturas a ponto de lhe fazer questionar sua capacidade. "Nunca esqueço uma mensagem que o Juliano mandou via SMS: 'Para pular mais alto, antes a gente precisa se agachar e pegar impulso'. Bastou para me deixar seguro e mostrar que ele contava comigo."

Mais do que satisfação pelas inúmeras entregas de sucesso, o publicitário relata também sentir muito orgulho dos períodos complexos vivenciados pela equipe. Deles, dois o marcaram consideravelmente, a ponto de pensar em desistir. O primeiro foi em 2015. O país vivia a crise pós-Copa do Mundo e o telefone tocava seguidamente com a notícia do cancelamento de uma conta. Porém, o panorama desfavorável conectou ainda mais o grupo. "Acredito muito que as pessoas se revelam nos momentos difíceis." Com resiliência, passaram igualmente pela pandemia.  

Após uma reunião para planejar o futuro, os cálculos apontaram que seria possível segurar as pontas por um ano sem demitir ninguém. Durante uma videoconferência interna, citou a história passada e reiterou que precisava do apoio de todos, pois venceriam mais uma vez. "Às vezes, o cara dá a vida, se dedica, torce, chora contigo e, quando a coisa fica ruim, tu manda ele embora? Tenho dificuldade de lidar com isso." Esse senso de responsabilidade faz parte das políticas da agência, que investe constantemente na capacitação dos colaboradores: "Alegria é poder ver as pessoas vivendo bem do seu trabalho", ressalta.

Um guri bom de bola

A infância em Novo Hamburgo foi marcada pelo fascínio pelo esporte, mas também pelo sobrepeso, causado pelo uso de corticoides, decorrentes das crises de asma. A briga com a balança causava desconforto e, por isso, acreditava que era necessário criar estratégias para conquistar aquilo que a sociedade afirmava ser direito apenas dos magros. "Costumava observar muito as pessoas. Exemplo: durante uma festa da escola, percebi que o colega que tocava violão recebia mais atenção das gurias. Então, fui lá e aprendi."

Como lateral-esquerdo, teve a oportunidade de disputar o Campeonato Gaúcho e jogar contra craques como Ronaldinho Gaúcho. Após uma lesão, abandonou os gramados. Acreditava que seria um bom jogador, contudo achava que seria difícil disputar com grandes talentos. Hoje, o filho Lucas, de oito anos, dá continuidade a essa paixão atuando ora como atacante, ora como goleiro, em uma escolinha do clube Paris Saint-Germain, localizado em Novo Hamburgo. Colorados, pai e filho são frequentadores assíduos no Beira-Rio. É também pai da Serena, de três anos, a quem define ser muito parecida com ele. "Ela é irônica e malandrinha. Tem um poder absurdo de sedução. Ela me tem nas mãos", conta, sorrindo. Sobre a criação dos filhos, tem como exemplo os pais, sempre muitos presentes, mas firmes em relação aos limites. 

Rei da comunicação

A relação com a esposa Aline merece um capítulo à parte. Casados há 20 anos, Gustavo parece ainda não acreditar como "aquela guria linda" lhe deu bola. O primeiro encontro aconteceu em Gramado, durante uma reunião de amigos. A dureza e a cara de braba o encantaram, porém a falta de abertura o fez apostar nas piadas como forma de aproximação. E foi com um violão que a história começou a mudar.

Ao som de I'll Be There For You, do Bon Jovi, conseguiu chamar sua atenção. No outro dia, após participar de um jogo de futebol em Caxias do Sul, com o pessoal do BCN, iniciou uma articulação com as amigas da futura amada para reencontrá-la. O destino seria na casa noturna Ibiza, mas ainda no aquece, Aline já havia bebido e, ao chegar ao local, continuou. "Minha baixo autoestima falava: será que ela vai querer ficar comigo?". Algo aconteceu. Após um abraço, ela se aproximou e falou ao seu ouvido: "Tu sabes que um dia a gente vai casar e ter dois filhos, né? Um menino e uma menina". O que poderia assustar o enfeitiçou ainda mais. 

Ainda assim, por um tempo, foi enrolado por ela. Então, traçou um plano para conquistá-la de vez. Intensificou a rotina de esportes e uniu o acompanhamento com uma nutricionista. Com a autoestima nas alturas, deu um jeito de ela ficar sabendo. E não é que deu certo? Professora de inglês, Aline é influenciadora digital e idealizadora do projeto Mãe Bilíngue. Além disso, é autora do livro 'Criando filhos bilíngues', juntamente com Cíntia Ellingham. "Admiro muito ela e a apoio incondicionalmente. Chamo ela de 'a andorinha que faz verão', porque ela acreditou e mergulhou de cabeça."

Gustavo por Gustavo

A rotina esportiva é sagrada. Academia diariamente, futebol às terças-feiras com os amigos, e, como se não bastasse, treinamento duas vezes por semana sob a orientação do ex-jogador do São Paulo e campeão gaúcho pelo Novo Hamburgo, Júlio Santos. "Sou muito competitivo e para tudo, tento me preparar ao máximo." O publicitário afirma que os hábitos saudáveis o ajudam a ter um maior entendimento sobre o corpo e a mente. 

Como leitor voraz, liberalismo, história da medicina e tráfico de drogas no Brasil estavam entre os assuntos das últimas obras devoradas. Um ser inquieto, inconformado por natureza e sedento por conhecimento, Gustavo faz da sua eterna curiosidade a arma para evolução. "Acho que reclamamos demais. Se algo não deu certo, é porque estávamos despreparados. Para entregar mais, é preciso querer mais", finaliza. 

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