Lizemara Prates: Aprender e informar

Com mais de duas décadas dedicadas ao agronegócio, a jornalista Lizemara Prates não se vê em outra profissão

Lizemara Prates - Karen Vidaleti

Lizemara de Araújo Prates é uma mulher de sorriso largo, o que mantém por praticamente todo o tempo, enquanto recorda a trajetória profissional. Quando criança, queria ser professora. Tornou-se jornalista e, hoje, não se enxerga em outra profissão. Deixou Rosário do Sul para cursar a graduação na Capital, mas o interior não saiu dela. Foram as primeiras experiências vividas em Bagé e Pelotas que a colocaram no caminho do jornalismo rural. Hoje editora do núcleo de Agronegócio da Band e com mais de 20 anos dedicados ao segmento, é considerada uma especialista na área. Ainda assim, faz questão de destacar que está em permanente aprendizado. "Sigo aprendendo no dia a dia, trocando informações. É isso que faz a nossa bagagem de conhecimento", defende.

A lista de reconhecimentos inclui premiações como CNI de Jornalismo, Emater, Press, e os troféus Zaida Jarros, da Câmara de Vereadores, e Folha Verde, da Assembleia Legislativa, entre tantos outros. "Alguns foram ganhos com reportagens, outros, como homenagem, mas todos exercem o mesmo peso e colaboram para dar a força que precisamos para continuar", avalia. Para tudo isso, não foi necessário ter família vinculada à agropecuária, estudar veterinária, nem mesmo agronomia. O segredo? Uma oportunidade e uma dose de dedicação.

Assim veio o agronegócio

Foi a decisão de um amigo pelo curso no vestibular que a levou a analisar a profissão e a fez decidir pelo Jornalismo. Queria cobrir uma guerra, viver os riscos e os desafios da profissão, o que, inicialmente, levou os pais ao desespero. Venceu a resistência e, aprovada no vestibular, partiu para a Capital. "Sempre amei Porto Alegre. Vinha para cá visitar minhas tias e achava o movimento muito bacana. Tinha muitas coisas que não existiam na minha cidade, como escada rolante, prédio com elevador - minha cidade só tinha casas", lembra.

Na Famecos, aprimorou o gosto pelo jornalismo e a afinidade com os veículos eletrônicos. Formada em 1984, ano em que o Correio do Povo fechou as portas - o que colocou profissionais reconhecidos e qualificados disponíveis no mercado de trabalho -, foi buscar no interior do Estado a sonhada colocação profissional. Na RBS TV Bagé recebeu a primeira oportunidade, como repórter. Atuou também na rádio local Calandra FM e, mais tarde, passou à RBS TV Pelotas. Em 1990, retornou a Porto Alegre, onde consolidaria a carreira no segmento rural, com 20 anos dedicados ao setor na rádio Guaíba, antes de chegar à Band. "Fui para a Guaíba para cobrir a Expointer, levando o conhecimento que tinha do Interior. Foi por uma oportunidade", esclarece.

A melhor infância

Filha do comerciante Abílio e da dona de casa Zena, Lizemara guarda na memória as recordações da infância no Interior. Viver em casa com pátio enorme, com direito a cachorro, gato, galinha; andar de bicicleta, brincar na rua, ficar na calçada até tarde nas noites de Verão; encher a casa com os amigos. Ir à praia nos fins de semana, ter refeições em família, aproveitar a proximidade com os avós. As lembranças são muitas e até a deixam emocionada. "Acho que os avós são figuras fundamentais, meus pais sempre trabalharam muito, não tínhamos muito tempo para ficar juntos. Penso que se todos pudessem ter infância como a minha, seriam muito felizes."

Ela faz questão de ressaltar a importância dos amigos, que ocupam facilmente a lacuna muitas vezes presente na vida de filhos únicos. "Brinco que tenho um conselho consultivo de amigos muito próximos, que são chamados a qualquer momento para opinar em situações do dia a dia. E, claro, tem os agregados, primos, tios, que ajudam a formar essa pequena grande família", relata. O mesmo vale para o posto de filho. "Tenho sete afiliados que me fazem muito feliz. Já estão maiores, alguns estão casando, outros se formando, e participo bastante da vida deles. São muito importantes para mim", conta.

Para energizar

Viajar é para Lizemara não uma forma de lazer, mas também um investimento. "Acredito que é o melhor presente que posso me dar. A gente conhece outras culturas e, em alguns casos, reencontra pessoas queridas. Faço isso sempre que posso." Assume que aprecia o Verão e se diz uma pessoa que ama o sol, por isso entre os locais visitados mais frequentemente estão as praias. Claro que a ausência desse elemento não elimina um destino. "Fiz uma viagem à Finlândia, em que fiquei oito dias e não vi sol. Não é um lugar para eu viver. Preciso de sol, me energiza", explica. Aproveitar o confortável balanço de uma rede, ficar em casa, ou apenas estar junto de amigos também são situações que aprecia.

Entre uma viagem e outra, acostumou-se a acrescentar na bagagem um pouco da música de cada local. Foi assim que incorporou ao estilo musical o fado, após conhecer Portugal, e a salsa, depois de ir a Cuba. Também gosta de MPB, clássicos, shows e músicas dançantes. "Sou do tempo da discoteca, então, às vezes gosto de ouvir esse tipo de música", revela. Ficam de fora do repertório apenas as canções pesadas, fora isso, considera-se eclética. Mas no cotidiano é o rádio que tem sua atenção e sempre ligado no AM. Conta que, recentemente, ao trocar de carro, deixou como exigência ao vendedor: "O rádio tem que tocar AM", e até ouviu que a modalidade está "em extinção". O resultado, ela conta: "O rádio do meu carro toca AM e eu ouço AM."

O legal e o ilegal

Com a infância e parte da adolescência vivida no Interior, confessa que não desenvolveu o costume de ir ao cinema, o que, por vezes, a incomoda. "Quando vim para Porto Alegre, acabei não cultivando o hábito. Me tornei uma pessoa que não frequenta cinema, vou muito menos do que gostaria", esclarece. Ainda assim, tem alguns gêneros preferidos para assistir, como os filmes que resgatam a história, biografias, suspense, romance e comédia. Para ler, não tem muitas preferências, mas acompanha biografias, leituras de viagem e autores como Isabel Allende e Inês Pedrosa. O livro concluído mais recentemente foi 'Atado de ervas', da escritora gaúcha Ana Mariano.

Culinária é quase um tema proibido para ela, que se diz a rainha do congelado. Para saborear, os pratos preferidos incluem massas, carnes, arroz e suas variações - como risotos e paellas -, e claro, doces na sobremesa. "Sou uma excelente assistente de quem cozinha, de preferência para servir uma taça de espumante ou de vinho", assume, revelando que tem no espumante sua bebida preferida. "Meu lema é que a vida tem que ser celebrada. Momentos bons, alegres, conquistas e vitórias, a gente tem que comemorar. Eu gosto de fazer isso sempre que possível com taça de espumante", conta.

Lizemara considera-se de personalidade conservadora em alguns aspectos, mas garante que não é avessa à modernidade, apenas resistente. Ela assume que até gosta de ficar na zona de conforto, entretanto, compreende que, muitas vezes, enfrentar os desafios é ainda melhor. "Comecei a repensar, achar que as mudanças podem sim ser bem-vindas em todos os sentidos, pessoais e profissionais", afirma.

Coisas de jornalista

Como se sabe, a vida de jornalista também é trabalhar em condições adversas. Pode ser no sol, na chuva, de noite, de madrugada, aos fins de semana ou feriados. Situações como essas já renderam bons momentos na trajetória de Lizemara e a primeira delas está relacionada à área policial. Ainda que atuante no segmento rural, teve a oportunidade de participar da cobertura do motim de 1994 no Presídio Central. Acompanhou de perto os desdobramentos da noite de fuga dos presos, uma situação de risco, mas que, segundo ela, de tão surreal nem causava preocupação. "Isso é bacana no jornalismo: vivemos intensamente o momento", explica. O episódio também é lembrado por receber o que chama de "ingrediente extra". Foi a primeira vez que usou celular em uma cobertura, algo incomum para a época quando ainda se utilizavam aparelhos do tipo rádio.

Em outra ocasião, Lizemara e a equipe da RBS TV foram recebidas a tiros enquanto gravavam reportagem sobre lavouras queimadas pela seca. Isso porque o agrônomo da Emater que acompanhava os profissionais havia garantido que não existia necessidade de pedir autorização ao proprietário para captação de imagens. Surpreendido, o homem que já havia perdido parte de seu sustento não hesitou em disparar contra a equipe, para ele, invasores. "O motorista dizia "a culpa é tua, tenho três filhos para criar e agora vamos morrer aqui". Saímos da lavoura rastejando, nos explicando e tentando desfazer o mal-entendido", recorda.

Para o futuro, quer continuar trabalhando e no segmento agro. "Não sei se na linha de frente, no rádio, na TV, no jornal, posso estar em outra área", avalia. Entre os ensinamentos recebidos dos pais está o de começar e terminar projetos. No entanto, um deles ficou inacabado: a formação em piano, objeto de estudos por oito anos. "Não é algo que me incomode, mas preferia ter acabado", admite. Outro projeto antigo, que acredita que ficou adormecido, é o da docência, na qual também encontra possibilidade de aprendizado e troca de informação. "Daqui a 10 anos, posso estar dividindo conhecimento com estudantes. Quem sabe?"

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