Luiz Figueredo: Chefe por vocação

Com mais de 40 anos de carreira, Luiz Figueredo, hoje assessor de imprensa da Ulbra, assume a dianteira em todo lugar que passa, seja na vida profissional ou pessoal.

Com uma trajetória que abrange quase todos os veículos de comunicação de Porto Alegre e mais um pouco, Luiz Figueredo esteve à frente de projetos e momentos que contribuíram para a história do jornalismo do Rio Grande do Sul. Há dez anos coordenando a assessoria de imprensa da Ulbra, ele apresenta um talento para chefiar que vai além de fatos profissionais - como a façanha de ter sido o mais jovem editor-chefe da Zero Hora, ou a de comandar jornaleiros com apenas 14 anos.


Nascido há quase 60 anos na capital gaúcha, Luiz José Biernfeld Figueredo começou a vida pulando de cidade em cidade. Até os sete, acompanhou a família de Canoas a Fortaleza, antes de voltar ao Estado e estabilizar-se em Esteio. Filho de um militar da Aeronáutica e de uma dona-de-casa um tanto requintada - a mãe estudou até o terceiro ano primário, mas fala francês, espanhol e é artista plástica -, ele é o primogênito, chefiando um exército de dez irmãos. Ruim de bola, mas apaixonado por futebol, no colégio Figueredo se dividia entre algumas peladas, a edição do jornalzinho mensal da escola e a locução de notícias transmitidas pelo alto-falante nos recreios. Nem teve tempo de escolher uma profissão, pois o jornalismo começou a consumi-lo muito antes que pensasse em se preocupar com isso. "Eu aprendi a ler com o Correio Infantil, um suplemento dominical do Correio do Povo", contextualiza, acrescentando que, nas férias, virava noites ouvindo um rádio valvulado do pai adotivo de sua mãe.


Aos 14 anos, já era correspondente e agente de um jornal católico de Esteio, para o qual vendia assinaturas na saída das missas e era chefe dos jornaleiros. "Quando um deles faltava, eu é quem tinha que sair de bicicleta, às cinco da manhã, para entregar os exemplares", recorda. Ele ainda auxiliava nos negócios do pai e dos tios, entregando lenha em carroça e gerenciando um bar no fim da linha de um bonde. Mas foi aos 17 anos que conquistou o primeiro emprego com carteira assinada, como repórter do jornal Última Hora, em Novo Hamburgo e São Leopoldo. Quando a Zero Hora abriu, ingressou na equipe ainda como repórter, na sucursal do Vale do Sinos, mas também como diagramador do veículo, em Porto Alegre. Figueredo relembra que foi o mais jovem editor-chefe da história da Zero Hora, onde exerceu a função com apenas 23 anos. Paralelamente, ainda era repórter, editor e diagramador do Jornal NH, de Novo Hamburgo: "Ah, o NH foi minha primeira grande escola. Hoje eu entendo razoavelmente de jornalismo e posso afirmar isto com convicção".


O jornalista teve breves passagens pelo grupo Diários e Emissoras Associados, em 1969, e pelo Jornal de Santa Catarina, em Blumenau, em 1972. Ao voltar a Porto Alegre, por onde quer que passasse Figueredo assumia uma chefia. Na Rádio Gaúcha, não só foi chefe de jornalismo e jornalismo esportivo, como foi um dos principais responsáveis por uma grande reformulação de posicionamento e programação da rádio. "Um dos períodos mais importantes da minha vida. Foi aí que apareceram os noticiários de meia em meia hora, o Sala de Redação, o Chamada Geral e vários outros programas jornalísticos", lembra, orgulhoso. Resumindo: na RBS TV, também foi chefe de jornalismo, duas vezes. Na Rádio Guaíba, novamente chefe de jornalismo. No Correio do Povo, editor-chefe. Na TVE, diretor de programação. Ele ajuda: "Quando surgiu a Rede Pampa, fui gerente de programação e de jornalismo da primeira rádio. Depois, voltei a Santa Catarina, para ser editor-chefe do Diário Catarinense". E tem mais: no meio disso tudo, trabalhou como assessor de imprensa na Assembléia Legislativa, como assessor do Banrisul, teve um programa na Rádio Cultura, voltou para a TVE, voltou para o Correio do Povo - "fui diretor do veículo quando o jornal ganhou o formato tablóide!" -, participou da maior reforma gráfica do Diário Catarinense,? Ufa!


Chefe de família, chefe de si mesmo


Já faz dez anos que Figueredo trabalha para a Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), onde coordena a assessoria de imprensa no país todo, a partir do campus em Canoas. Como chefe de família, é um pai vendo a ninhada buscar o próprio rumo. Tem cinco filhas - Maria da Graça, Ana Luiza, Maria Isabel, Maria Inês e Ana Clara -, todas do primeiro casamento, com Terezinha. A mais nova, de 21 anos, mora com ele. "A Ana Clara trabalha na assessoria de imprensa do prefeito Fogaça, faz curso de manhã e faculdade de Fotografia à noite. Então, durante a semana, temos nos contatado mais por telefone e e-mail", lamenta, mas com orgulho da caçula. A filha do meio, de 28 anos, conhecida como Bela Figueredo, estreou em julho uma coluna no site de música Showlivre.com, do UOL (Universo Online), e mora em São Paulo.


"Aprendi a viver sozinho, sabe? Gosto muito da minha própria companhia", conta o jornalista, que é divorciado, luterano, apaixonado pelo time do Internacional e dono do Jimmy: "É um pastor belga que a minha filha trouxe para casa com cinco dias de vida". O cão dorme dentro de casa, passeia de carro e, às vezes, até o acompanha na torcida pelo Colorado, na frente da TV. Embora adore assistir a partidas de futebol, Figueredo é completamente avesso à prática de esportes: "Pois é, inclusive considero um dos meus maiores defeitos ser gordo". Prefere convidar a si mesmo para freqüentar o culto, na Igreja, e pegar um cinema nos fins de semana. Três vezes por ano, viaja ao Centro-Oeste e ao Norte do país, em função das unidades da Ulbra. Mas é apaixonado mesmo pelo Nordeste e, quando sai de férias, faz questão de sempre passar uma boa parte do verão por lá - quase sempre sozinho também. "Tenho o sonho de trabalhar no Nordeste um dia", revela Figueredo, que parece ser um belo chefe até na relação consigo mesmo.


O jornalista não esconde que pretende voltar aos veículos de comunicação, e é incisivo ao analisar o jornalismo no Rio Grande do Sul. Considera a falta de competitividade atual um fato vergonhoso. "Não existe uma TV fazendo frente à RBS, não existe uma rádio fazendo frente à Gaúcha e, no máximo, um único jornal faz frente à Zero Hora. Na minha época, a concorrência era rica. E é isso o que incendeia a nossa área", avalia, concluindo que o cenário estimula um jornalismo conformista: "No meio de toda essa crise política, não houve sequer uma notícia gerada por um veículo gaúcho! Estamos sempre ?a reboque? do que é produzido no centro do país. Isso me chateia muito", lastima, relembrando que, na época em que era chefe de veículos, a coisa não funcionava assim.

Imagem

Comentários