Luiz Magalhães: Desenhar a vida

Com quase 30 anos de carreira, Luiz Magalhães mantém a mesma paixão pelo Design de quando se formou

Por Márcia Farias - 05/04/2013
Definir Luiz Magalhães pode requerer uma vasta lista de características e muitas delas devem, inclusive, parecer contraditórias. É possível dizer que é um cara tímido, mas muito sorridente; contido, mas que fala bastante (talvez porque passe muito tempo pensando na resposta, medindo as palavras e tentando ser o mais claro possível); convicto de suas posições, mas sem fechar a cabeça para novas ideias. O fato mais evidente é ser apaixonado pela profissão. Arquitetura e Urbanismo foi o curso escolhido (concluído em 1985, na Unisinos), mas, na prática, optou pelo Design e, mais especificamente; para a criação de ponto de venda (PDV). "Sou muito feliz pelas minhas escolhas. Sou apaixonado pela Arquitetura e pelo Design. Acho que a opção veio desde pequeno, pois sempre gostei muito de desenhar", conta.
Por cinco anos, Luiz dedicou-se exclusivamente à Arquitetura, mas confessa que sempre teve um olhar mais voltado ao Design. A área de atuação, segundo ele, é o exercício de mudar um pouco a escala, pois, a metodologia e as técnicas são as mesmas aprendidas na formação acadêmica. "O resultado final é baseado em resolver situações, problemas, fazer o cruzamento de condicionantes físicos, que não podem ser mudados, alternativas financeiras, e que o resultado final impressione. Este é um assunto superapaixonante", reflete.
Aos 53 anos, sendo quase 30 de carreira, Luiz também se especializou cursando Pós-Graduado em Desenho Industrial - Projeto de Produto. Foi nessa época que surgiu a oportunidade de trocar de área e trabalhar em uma agência. Na DCS, o desafio era desenvolver, desde o começo, um departamento específico de ponto de venda (PDV). "Foi uma oportunidade muito bacana. Em contato com a área da Comunicação, aprendi muito e intensifiquei o gosto pelo Design", lembra, destacando que gostou tanto da área que a parceria durou quase 20 anos (de 1989 a 2006).
Tudo é experiência
A DCS trouxe mais do que o contato com o mundo da Propaganda, deu a Luiz a experiência de ser dono de empresa, como ele explica: "Acho que estava há três anos lá quando criamos uma empresa dentro da agência. A ideia era fazer um canal entre o que era produzido para a comunicação de massa, traduzido no ponto de venda". Foi assim que surgiu a M.A. Design, que atuava em parceria com a americana Frank Mayer. Foi nesse tempo que atendeu a marcas como Azaléia, Bis Lacta, Brastemp, Olympikus, Uncle Ben's.
Em 2007, decidiu se aventurar como empresário e ter seu próprio espaço: fundou a L.M. Grupo Design. Considera sua empresa pequena, do ponto de vista de estrutura e número de funcionários (que são apenas sete) - mas tamanho não é documento. Que o diga o seu portfólio, com clientes como Bibi Calçados, Tramontina, Sony e Panvel. Para Luiz, o resultado da decisão de seis anos atrás dá bons resultados. "Não aprovamos o projeto apenas, nós produzimos ele. Gosto de ir à fábrica, ver as alternativas, custos, etc. Isso nos dá um perfil diferente do mercado", orgulha-se.
Antes de deixar a DCS, mais uma oportunidade nova, a de ser professor do curso de Design, da Ulbra, na disciplina Introdução ao Desenho Industrial. "Foram seis anos (de 1994 a 2000) de desafios. Sempre busquei levar para a sala de aula minhas experiências de mercado", conta. A transição do colaborador para o empresário também é vista como um dos grandes desafios da carreira. "A DCS foi uma escola, mas estou muito feliz com o que tenho hoje. Acho que tudo é experiência", ensina.
E depois?
Três décadas de trajetória deram a Luiz não apenas bagagem e experiências: como reforça a todo momento, ele também é um profissional muito premiado. Foram distinções como Popai-USA, Popai-Brasil, Bornancini, About, Salão da Propaganda, Prêmio Colunistas, entre muitos outros. E sobre as distinções, não tenta ser modesto: "É sempre bom receber prêmios. Mais do que um reconhecimento, é o carimbo de estar fazendo da maneira certa", classifica. Hoje, porém, confessa não estar mais tão preocupado com troféus, prefere pensar nos desafios diários, de sempre fazer melhor e diferente.
O pensamento de empresário, claro, é sempre crescer, mas Luiz diz que não ambiciona grandes conquistas. O que quer mesmo é, por exemplo, produzir coisas novas e atuar em outras áreas do Design, ainda pouco exploradas. Por outro lado, pondera: "Sou muito exigente com o resultado final, mas tento tornar o dia a dia mais leve, mais divertido". Daqui a 10 anos? Não, ele não se imagina muito diferente do que é hoje, o único sonho atual é que a empresa se torne cada vez mais ligada a Design, e não apenas especializada em ponto de venda.
Em família
Natural de Pelotas, onde nasceu em 1959, Luiz é o filho caçula de seu Francisco e dona Aida - completam a família os irmãos Elisabeth, José Francisco, Heloísa e Lígia. Também vem da família o motivo pelo qual escolheu a Arquitetura, pois o avô, trabalhava com desenhos em vidros, os chamados vitrôs. "Quando criança, preferia ficar desenhando, do que escrever. Até hoje, faço projetos e traço ideias a partir de um desenho." Engana-se quem pensa que o assunto Arquitetura tem fim na sua vida. Ele ainda é casado com uma colega de profissão há 17 anos. Tatiana, porém, é voltada a projetos comerciais.
O mercado, aliás, foi responsável pelo encontro do casal. Em uma necessidade da agência que trabalhava, precisou contratar alguém que fizesse uma maquete para uma concorrência e foi Tatiana quem realizou o trabalho. "Não ganhamos a concorrência, mas ganhei um casamento", conta, com um largo sorriso estampado no rosto. A Tati, como chama carinhosamente a esposa, é muito diferente dele, já que ela é mais "imediata". "Ela é mais pronta para as coisas. Eu sou mais reflexivo, demoro mais para tomar decisões. Então, ela é meu equilíbrio", resume. Segundo ele, o casamento também é uma experiência, pois nada existe, então, precisa ser construído, e assim acontece com o matrimônio.
Da relação, nasceu Eduardo, de 12 anos, que, segundo Luiz, tem proporcionado uma fase de aprendizado mútuo na família. Para ele, é muito bom ver o crescimento do herdeiro, pois, como qualquer adolescente, tem suas dúvidas, suas chateações, mas também mostra "um certo equilíbrio legal". E diz mais: "É difícil ensinar, mais ainda saber se está sendo eficiente. Então, perceber um pequeno sinal positivo é extremamente gratificante". Luiz perdeu o pai muito cedo, vítima de infarto, mas tem boas recordações ao contar que seu Francisco prezava pela intensidade dos momentos que tinha com os filhos. "Hoje, minha convivência com meu filho é um modelo muito diferente, até por ter mais flexibilidade de horário e poder ficar mais ao lado dele", compara, ao contar que, às vezes, acompanha um treino de futebol de Eduardo, que ocorre no meio da manhã.
De filho para pai
Se tem alguém capaz de fazer Luiz falar sem parar, mesmo sem estar presente, seu nome é Eduardo. Unidos pelo esporte, pai e filho praticam tênis. "Nunca fui muito de esportes coletivos. Não sei jogar futebol, por exemplo. O tênis é que tem muito a ver com o meu perfil", diz, para explicar que incentivou Eduardo a seguir seus passos, pois acredita que o esporte proporciona um aprendizado fantástico. E não para por aí. Eduardo também joga futebol. "Sempre achei que era uma forma bacana de aprender coisas como dividir, compartilhar, saber que sempre tem um que é melhor em algo, que ele mesmo é melhor que outros. Esporte é lição de vida."
O ensinamento ao herdeiro deu tantos frutos que Luiz se deixou influenciar pela paixão tricolor de Eduardo, como conta: "Recentemente, me tornei um gremista mais ferrenho. Sempre torci pelo Grêmio, até por uma questão familiar, mas nunca da forma como faço hoje. Vou ao estádio, vejo pela TV, leio primeiro as notícias de esporte no jornal", afirma, explicando que esta é mais uma forma de acompanhar o filho. "Gosto de vibrar com a vitória do meu filho em diferentes momentos no esporte", finaliza.
O verdadeiro negócio
Para quem faz projetos, monta estratégias e resolve problemas, só podia resultar em uma coisa: mania de organização. Apesar de assumir a característica, ele diz que apenas gosta das coisas nos seus lugares. E mais, nem é tanto assim: "Apenas me organizo na minha desorganização. Sou fiel aos meus hábitos", resume. Para relaxar gosta de ler, ouvir música e ver filmes, muito, aliás. Entre os livros preferidos estão os técnicos e as biografias. As mais recentes foram de Tim Maia e Steve Jobs, dois mundos completamente diferentes, mas os dois muito ricos em suas experiências, na opinião de Luiz. A verdade é que ele pode ser considerado eclético, já que também gostou muito de ler 'O Nome da Rosa', de Umberto Eco. Sem contar que diverte-se apreciando a revista Piauí, por exemplo.
Para ouvir a regra é a mesma, a variedade de estilos. Nisso, entram Eric Clapton, U2, Rolling Stones e BB King, até Jota Quest, Ed Mota, Frejat, Luis Melodia, Nei Lisboa? o que vale é gostar do que se ouve. E para comer? Nada de preferência também. Luiz vai da comida árabe - especialidade da mãe - à culinária italiana - preferência de Tati. Estar rodeado de mulheres de mãos cheias o faz passar longe do fogão. "Não tenho a menor habilidade. No máximo, um bom omelete, bem feito, com direito a viradas no ar, e só", brinca, revelando que, recentemente, aprendeu a fazer iogurte e está fascinado pela habilidade descoberta.
Quando o assunto é cinema, se empolga mais. Diz que o hábito não é apenas o ritual de sair de casa, entrar em uma grande sala e se envolver muito - experiência que adora -, vale também ver em casa, na TV, no computador e até no tablet, se for o caso. Não valoriza demais as produções perfeitas, ganhadoras de Oscar, gosta apenas de ser impactado pela história. Não bastasse gostar, também há momentos de inspiração e olhar técnico. "Gosto de reparar na fonte, na trilha, na iluminação. Gosto de perceber a produção toda com outros olhos, os de designer".
Como empresário, logicamente Luiz precisa pensar como líder, mas a verdade é que essencialmente o verdadeiro negócio dele é desenhar, por prazer e como forma de expressão. Do que ele gosta? De celebrar tudo de bom, criativo e bonito que o cerca todos os dias, sem esquecer de agradecer o esforço, a educação, apoio e dedicação que sempre teve da e para a família. "Se tiver que me definir, digo que sou alguém que tem a insatisfação como forma de reavaliar, pois quer e pretende sempre o melhor."
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