Nádia Freire: Exemplo de determinação

Com uma trajetória cheia de idas-e-vindas, a diretora da Segmento Pesquisas venceu e curtiu cada momento, sempre lutando por suas conquistas pessoais e profissionais.

Acostumada a entrevistar e descobrir o comportamento das pessoas, Nádia Freire confessa que trocar os papéis não é tarefa fácil. "Como é difícil falar da gente mesmo, nem sei há quanto tempo não falo de mim", revela com enorme simpatia. Sócia-diretora da Segmento Pesquisas, uma das principais empresas do gênero no Estado, Nádia Maria Schuch Freire nasceu em dia de festa, 25 de dezembro de um ano que prefere não revelar. "Não tenho problemas com a idade, mas as pessoas sempre acham que tenho menos do que realmente tenho, então deixa assim", diz entre risos.


Filha de pai descendente de alemães e mãe descendente de italianos, conta que teve uma educação rígida, mas que não impediu de usufruir de uma total liberdade na infância. "Sou de uma geração privilegiada, que teve uma infância muito solta", comenta. Outra característica de imigrantes é a família numerosa, com a casa sempre cheia. "Tenho quatro irmãs mais velhas e um irmão mais novo, de quem eu sempre fui mais companheira por causa da pouca diferença de idade. Por isso fui muito moleca, brincava de bolinha de gude, carrinho de rolimã, gostava de subir em árvore", conta, relembrando a época em que morava numa casa no bairro Higienópolis, quando algumas ruas ainda não tinham nem calçamento.     


Para o caminho profissional, Nádia escolheu a Sociologia. Formou-se pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mas assim que terminou a faculdade sentiu a dificuldade do mercado de trabalho e resolveu adiar a carreira para acompanhar o marido que foi transferido para Curitiba (PR) e posteriormente para Vitória(ES). Ela é casada com o advogado José Olimpio Freire há 36 anos. "Minhas amigas me encontram no supermercado de mãos dadas com meu marido e ficam surpresas por eu ainda estar casada com o mesmo homem; respondo: graças a Deus".

Uma pausa para ser mãe

Como toda mulher, ou boa parte delas, Nádia passou pela hora de decidir entre batalhar a profissão ou se dedicar a um momento muito especial: ser mãe e cuidar dos filhos. "Tive a trajetória da legítima mulher que passa pelo momento da vida em que precisa decidir se coloca os filhos numa creche e vai trabalhar ou se fica em casa cuidando deles. Eu disse: agora vou ser mãe, depois eu retomo".


Foi ela mesma quem cuidou dos três filhos. Ramiro, o mais jovem, é publicitário e mora em Santa Catarina; Rodrigo, o do meio, é ator e mora em Porto Alegre; Lucila, a mais velha, foi mais longe. Saiu de casa aos 18 anos para passar uma temporada em Londres e nunca mais voltou a viver na casa dos pais. "Na época foi uma experiência muito dolorosa por ela ser mulher e única filha. Mas no fundo, como sou da geração de 69, 70, também tinha o sonho de sair do Brasil, ter liberdade. Ela sempre foi muito batalhadora, parecida comigo, percebi que tudo o que ela estava fazendo era o que eu gostaria de ter feito também", orgulha-se a mãe. Depois de passar por Portugal e Espanha, Lucila casou-se com um dinamarquês e hoje trabalha como relações públicas nas Ilhas Canárias.


O tempo passou, os filhos cresceram e deram bons motivos para Nádia orgulhar-se: os quatro netos. "Três são filhos de Lucila e um do Rodrigo. Eles são meus anjinhos maravilhosos, a razão da minha vida", revela.  Uma vez por ano a família toda se reúne e aproveitam cada segundo de um tempo precioso."Minha filha vem pra cá com meus netos e nos reunimos todos em alguma praia de Santa Catarina, por uns 15 dias. Desligo celular e não trabalho mesmo, só aproveito, porque sei que depois de um mês ela vai embora e aí só no próximo ano", lamenta.     

Missão cumprida, hora de retomar

Sete anos depois, de volta a Porto Alegre e com os filhos criados, a socióloga resolveu investir em um mestrado na UFRGS. "Pensei: agora chegou a minha hora. Fiz o curso achando que ia abrir portas, mas não foi o que aconteceu. Apesar de minha tese ter se destacado, continuei sem oportunidades."Mas Nádia não desistiu. Surgiu então uma chance no departamento de pesquisas da RBS, e aos 28 anos ela conseguiu o primeiro emprego. "Fazíamos pesquisa para todos os veículos do grupo, como a mudança editorial da Rádio Gaúcha, quando decidiram que o foco seria notícia, além de todo o planejamento do Diário Catarinense. Foi uma experiência ótima", garante. "Depois de cinco anos de trabalho, numa daquelas conhecidas ?levas?, a RBS decidiu extinguir o departamento de marketing ao qual a pesquisa estava vinculada. E fomos todos demitidos", recorda.


Aproveitando a experiência e os contatos adquiridos, Nádia apostou num negócio próprio. "Na minha vida sempre veio o momento certo, na hora certa, tem que decidir e tem que ser por aqui", garante. Em maio de 1987 ela decidiu abrir a Segmento Pesquisas, empresa especializada em pesquisas mercadológicas. "Nossos clientes são na maioria grandes e médias agências de publicidade e empresas. Infelizmente, existe um conceito de que pesquisa é um investimento caro, mas muitas vezes não se conhece o quanto ela pode evitar que o risco seja grande", explica. "Através do nosso trabalho, o cliente pode ver o que as pessoas pensam de determinada marca ou produto, o que se espera, qual é o diferencial e quem são os concorrentes", completa. A Segmento está há quase vinte anos no mercado e é reconhecida pelo trabalho que oferece nos mais diversos tipos de pesquisas.

Saúde é o que interessa

Nas horas de folga Nádia gosta de curtir a casa. "Tenho muitas plantas e adoro cuidar delas", diz. E gosta também de cozinhar. "Vou para a cozinha porque me desestressa. Gosto de preparar uma boa massa, uma carne, uns molhinhos especiais para peixe, comida italiana", revela. O que não entra no prato da empresária são miúdos. "Não suporto moela, rim, fígado nem mondongo", diz.


O tempo livre também é aproveitado para uma boa leitura. "Prefiro os livros de ficção. Agora estou lendo A cura de Schopenhauer, de Irvin Yalon, uma ficção romântica", conta. Lamenta não ter tempo para freqüentar mais vezes o cinema. "Quando posso, escolho um filme de acordo com a crítica que acompanho nos jornais e revistas, só não gosto de comédia," afirma. Para ouvir, Nádia prefere MPB e Jazz.


Sua maior qualidade é também o seu maior defeito. "Sou muito exigente, isso por um lado é bom, mas acho que tem muita gente que não gosta", acredita a empresária. Ela diz ser também muito honesta e ética, mas não define isso como qualidades e sim obrigação."Acho que isso deveria ser comum a todas as pessoas", diz. Outra qualidade que ela utiliza como filosofia de vida é ser ela mesma, sempre. "Não tenho máscaras, sou o que sou", garante.


Com esses princípios, a empresária vai tocando a Segmento e a vida e, com a experiência que tem, garante que o sucesso só é alcançado com muito trabalho.


"É preciso correr atrás, toda ação gera uma reação. Também é preciso ter fé porque ela te segura nos momentos difíceis, além de muita dedicação, sonhos e planos", aconselha.  E um dos sonhos da empresária é ter pesquisas regulares e atualizadas sobre os mais diversos setores. "Chego a imaginar um arquivo com várias gavetas e quando alguém pedir tal pesquisa lá está um relatório atualizado," conta ela, que hoje realiza pesquisas quando solicitada pelo cliente.


Como toda boa empresária, o trabalho também faz parte dos planos pessoais."Só peço a Deus que eu possa ver minha família crescer com saúde e que eu tenha pique para pelo menos mais 30 anos de trabalho. Acho que ter saúde e trabalhar no que se gosta, não há nada que pague", finaliza com a tranqüilidade de quem passou com serenidade pelos obstáculos e chegou onde queria.  

Imagem

Comentários