Nubia Silveira: Entusiasmo que não acaba

Manter relações saudáveis com as pessoas que estão ao seu redor é o segredo para tanta disposição

Alegre, divertida e alto-astral são algumas das características do perfil da jornalista Nubia Silveira. Não poderia ser diferente, já que ela tem uma infinidade de histórias engraçadas para contar. Com passagens por veículos e assessorias de comunicação, ela carrega uma bagagem profissional sólida, graças a suas atuações na Caldas Junior, Grupo RBS, TVE, Jornal do Comércio e O Sul, além da Agência Estado, esta em Brasília, e assessorias como a da Secretaria Estadual de Turismo, na época Epatur, e Palácio Piratini. Atualmente, soma mais um degrau em sua carreira, atuando como coordenadora da área de jornalismo da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Aos 61 anos, falta de entusiasmo definitivamente não é com ela. "Outro dia, uma colega minha me disse "ah, eu vejo que tu sempre te entusiasmas tanto com as coisas E é verdade. Eu gosto tanto da minha profissão, eu gosto tanto de fazer isso?", revela Nubia. Ela é daquelas pessoas que têm a mania de ficar rabiscando no papel, o tempo todo, enquanto conta suas histórias, explicitando sua disposição para tudo que lhe for proposto.

Nubia Salette Marques Silveira é natural de Butiá. "Meu pai sempre foi uma pessoa muito solidária. Então eu achava nos meus sonhos, nas minhas fantasias de menina-adolescente, que eu tinha que fazer alguma coisa pra mudar o mundo. A minha primeira idéia foi ser advogada criminalista", conta. Aos 16 anos, a garota que pensava em fazer Direito mudou de idéia. "Resolvi fazer jornalismo porque parecia ser uma coisa mais ampla. Eu pensei: em vez de eu mudar o mundo com uma pessoa de cada vez, eu posso mudar o mundo atingindo mais pessoas de uma só vez!", relembra Nubia sobre seus ideais que vêm desde a adolescência. Então fez vestibular para jornalismo e entrou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul com esta idéia, em busca deste ideal. "Muitos amigos meus dizem que eu tenho o jornalismo como uma missão, e eu tenho mesmo, até hoje."

Uma missão, um ideal

Como deixou bem claro, Nubia não se arrepende de ter escolhido o jornalismo. "Às vezes eu fico pensando? eu acho que eu sou uma privilegiada. Eu dei muita sorte na vida, pois encontrei pessoas maravilhosas", diz ela. Entre elas, cita Celito De Grandi, seu diretor na Assembléia; o capitão Erasmo Nascentes, que dirigiu a Folha da Manhã de 1969 a 1972; e os jornalistas Carlos Bastos ("Que é esse meu amigo que está sempre por aí"), o Nelson "Mola" Ferrão, Valter Galvani e Pedro Maciel. "Todas essas pessoas foram muito minhas amigas e sempre me ajudaram muito", fala, agora revelando emoção na voz e na face. Não por acaso, assim como a família, ela considera os amigos muito importantes em sua vida. "Eu tenho muitos conhecidos, mas poucos, leais e queridos amigos. Então a minha vida é basicamente a minha família e os meus amigos. E eu acho que isso me ajuda a viver, a me conhecer e a crescer", considera Nubia.

Apesar de considerar-se impaciente e ansiosa, a Nubia perseverante, solidária e dedicada se sobressai. Não mede esforços para realizar suas tarefas e ainda dar atenção aos iniciantes. "Às vezes o pessoal de faculdade me liga e diz "muito obrigado por nos atender", e eu não acho que seja obrigada, pois as pessoas foram tão boas comigo que eu faço questão de ajudar. Uma vez encontrei uma moça que me disse "tu não te lembra mais de mim, né?", daí eu fiquei pensando? E ela disse: "Uma vez quando tu trabalhavas na Zero Hora, nós ligamos e deixaste a gente acompanhar os repórteres. Isso foi super importante pra mim e eu consegui me definir na vida". Daí eu disse: bom, que maravilha!". E completa, pensativa: "Então é engraçado, por que eu nunca nego essas coisas, e acho que não tem porque negar. E ela tinha achado que eu tinha feito uma coisa extraordinária? Daí eu penso que isso é o normal, que a gente tem que fazer isso pelos outros".

A jornalista é solteira e mora com a mãe e duas irmãs. Todas as noites, quando chega do trabalho, costuma ler até a uma da manhã. "Fim de semana eu vou ao cinema, encontro com amigos. Segundo uma amiga minha, eu já marquei tanto cafezinho com as pessoas que não tem mais horário na minha agenda", diz Nubia, brincando com o hábito de tomar café. Responsável como só ela, mesmo nos finais de semana também dedica algumas horas ao trabalho. "Faço matérias pra uma revista de um amigo meu que se chama Atitude e circula em Florianópolis. É uma revista trimestral de assuntos variados, como literatura e música", explica.

Em busca de um novo projeto

Nubia formou-se em jornalismo em 1968, mas sua primeira experiência na área foi pouco antes disto, já como repórter no Diário de Notícias, do grupo Diários Associados. Em seguida, em 1969, foi convidada a trabalhar no novo projeto da Caldas Júnior, o jornal Folha da Manhã. "Comecei a trabalhar uma semana antes de sair a primeira edição do jornal", conta. Lá, ela encontrou uma pessoa que sempre lembrará com grande admiração e respeito, José Erasmo Nascentes. O Capitão Erasmo, como era conhecido, era o diretor de redação do jornal e formou uma geração de profissionais, como relembra Nubia.

Logo depois, surgiu a proposta para trabalhar na sucursal do Correio da Manhã, época em que o diário carioca era um dos mais importantes no país. O convite partiu do jornalista Celito De Grandi, seu primeiro e atual chefe, como superintendente de Comunicação Social da Assembléia Legislativa. Nessa época, Nubia trabalhava de manhã da Folha da Manhã, e à tarde na sucursal do Correio da Manhã. "No final da tarde eu ainda voltava pra Folha da Manhã pra ajudar o pessoal a baixar o material", lembra. Em 1971, ela ganhou uma bolsa de estudos em Madri, na Espanha, para fazer uma especialização em jornalismo no Instituto Ibero-americano de Comunicação e Turismo. Quando voltou, ainda tinha os empregos garantidos no Correio da Manhã e Folha da Manhã, onde ficou até 1973, quando foi trabalhar na TV Gaúcha (antiga denominação da RBS TV) por apenas alguns dias.

Desta vez ela foi para Quito, Equador, fazer especialização em jornalismo no Centro de Estudos de Comunicação para a América Latina (Ciespal). Quando retornou, voltou para a TV Gaúcha novamente, permanecendo até o final de 1975. Em 1976 registra outro retorno, agora para a Folha da Manhã, onde ficou até o jornal deixar de circular, em 1980. Nesse período, Nubia ficou desempregada por um tempo, mas não se deixou abater, pois estava sempre arrumando novas possibilidades. Fez assessoria de imprensa para a Epatur e dava aulas na PUC. De 1980 a 1983, voltou a trabalhar na TV Gaúcha. Depois foi ser chefe de reportagem e editora de Geral na Zero Hora. Por um período ela conseguiu conciliar o trabalho na Zeho Hora com a assessoria para a Epatur. "Então era muito engraçado, porque chegava a época de Carnaval e eu praticamente não dormia", lembra. Em 1987, recebeu a proposta de ficar só na Zero Hora com um novo cargo que estava sendo criado: Sub-chefe de Redação.

A jornalista também atuou na Agência Estado, em Brasília, em 1989 e 1990. Depois disso foi convidada para ser editora Executiva do Diário Catarinense, em Florianópolis, onde permaneceu até 1996. "Resolvi aceitar porque era um projeto novo, tinha muita coisa pra fazer e também porque poderia ficar mais perto da família", conta. Em 1996, voltou para a RBS TV como Chefe de Redação e editora, onde ficou até 1998, quando passou a dedicar-se a alguns trabalhos autônomos. "Editei um livro, fiz assessoria de imprensa, fiz campanha pra prefeitura de Piracicaba", recorda. Quando voltou, em 2000, foi trabalhar no Jornal do Comércio, e em menos de um ano foi convidada para trabalhar na implantação do jornal O Sul. Depois, de 2002 a 2004, foi editora do Jornal da TVE Segunda Edição. Em 2004, foi novamente chamada pelo amigo Celito para assumir a coordenação da assessoria de comunicação do Palácio Piratini. "Na saída de lá, o Celito foi trabalhar na Assembléia, então ele me convidou pra ir trabalhar com ele", conta Nubia. 

Na década de 70, Nubia chegou a lecionar na Unisinos e na PUC.  "Eu estou sempre procurando novas coisas para fazer. Às vezes eu me entusiasmava com os projetos, e saía dum lugar pra ganhar menos no outro porque eu achava que o projeto seria interessante", lembra. Atualmente, ela também edita livros com um grupo de amigos jornalistas. Seu grande projeto seria dedicar-se única e exclusivamente a este trabalho. "Mas como isso não dá dinheiro, eu vou ter que procurar alguma outra coisa pra fazer. Então uma coisa é o sonho, que eu pretendo tocar", comemora a jornalista.

Histórias e desafios

"Quando se está na faculdade, a gente tem uma visão de como as coisas funcionam. Mas aí, quando se começa a trabalhar num jornal, a visão é outra. Então, tem coisas que a gente vai aprendendo", reflete Nubia, contando sobre os desafios que enfrentou no início da trajetória profissional. Ela conta que, quando começou no jornalismo, mulher em redação ainda era uma figura rara, que precisava se mostrar competente e profissional o suficiente para impor-se. "Quando íamos entrevistar homens, eles ficavam meio desconfiados? Ficavam imaginando se a gente estava lá pra realmente entrevistar, ou se era alguém que eles podiam "cantar". Então, foi um período em que fizemos boas fontes, boas amizades, mas que logo no início tivemos que mostrar que estávamos ali pra trabalhar e não pra brincar", assegura a jornalista. E também cita a audácia que ela e as colegas da época tinham ao entrar na oficina, como era conhecido o local em que o jornal era produzido industrialmente.

"Entrar na oficina também era malvisto, mas no Diário de Notícias a gente foi quebrando isso e ia muito lá. Era um local sempre muito quente, mas íamos pra ver como estava. No início, o pessoal da oficina ficava meio assim, primeiro porque era o setor deles, mas depois foram aceitando essa nossa intromissão", diz Nubia. "Lá no Diário de Notícias, tinha a Ione Vieira, a Vera Zílio, a Helena Rouennau e eu. Daí o chefe de redação, que era o seu Olinto Oliveira, não sei se ele não gravava o nome da gente ou se fazia de propósito. Mas ele acabou nos numerando. Então ele gritava lá: ei, moça! Número tal! Tinha a um, a dois, a três e a quatro, que era eu", conta, divertindo-se com as situações pelas quais passou.

"No O Sul também aconteceram coisas muito engraçadas. Quando começamos a selecionar pessoal, aparecia um monte de gente lá e um dia eu disse assim: enquanto estiver aparecendo filho de amigo, tá tudo bem. Mas se um dia aparecer neto, eu vou ter um "chilique"!", brincava Nubia. E se diverte ainda mais ao contar que um dia apareceu por lá mais uma jovem candidata. "Daí você se pega fazendo aquela pergunta clássica: "por que resolveu fazer jornalismo?" Ela disse "ah, porque o meu pai é da área, meus avós também" e eu perguntei "mas quem são teus avós?", e ela disse: "ah, a Marta Azevedo", daí eu dou um berro!". Segundo ela, a redação parou. "Perguntaram o que havia acontecido, e solenemente eu comuniquei que havia aparecido a neta que eu disse que ia aparecer."

O segredo de Nubia estar sempre tão de bem com a vida? "Conviver o melhor possível com as pessoas que estão ao meu redor, conquistando sempre novos amigos", garante. Sempre emotiva e "chorona", como ela mesma se define, Nubia gosta de incentivar as pessoas. "Eu choro sempre por qualquer coisa, vou chorando e vou trabalhando, vou chorando e vou trabalhando. Mas é muito legal sentir quando estão alegres contigo. Poder trabalhar bem com as pessoas é essencial. Pra mim, isso é uma conquista através dos anos. Eu não sei se isso é sucesso, mas me realiza profundamente."

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