Gustavo Mini: O equilíbrio de tudo

Com duas décadas de Publicidade, Gustavo Mini se divide entre a profissão, a música, a produção digital e o dia a dia em família

Ele não sabe ao certo como se decidiu pela propaganda, mas é provável que a escolha tenha sido orientada pelas inúmeras possibilidades da área, um mix de texto, vídeo, áudio, artes, cultura. Assim como a opção profissional é Gustavo "Mini" Bittencourt, ou Mini, como o chamam aqueles que o cercam, desde que ganhou o apelido da 5ª série escolar. Publicitário freelancer e head de Criação da DZ Estúdio, vocalista e guitarrista da banda Walverdes, dono do blog O Conector e sócio do portal O Esquema, com incursões pelo rádio como apresentador, é dono de um perfil que perpassa a propaganda.
Aos 39 anos, acumula duas décadas de trabalho na publicidade, com passagens por agências como MPM Lintas, Matriz, Escala e Competence. Nesse tempo, foi de estagiário e redator a diretor de Inovação e Planejamento. Há pouco mais de um ano, trocou o cotidiano em agência por um pequeno período sabático de três meses, para apostar em um modelo de trabalho diferente. "Me inseri numa onda dos últimos anos de pessoas tentando trabalhar um modelo diferente, com outros horários, outras remunerações. É tudo uma experiência, até agora tem funcionado bem." Desde fevereiro do ano passado, trabalha como freelancer, atendendo a agências e escritórios de design, na área de Criação, Conteúdo e Planejamento; e, em maio último, passou a integrar a equipe da DZ Estúdio.
Uma vantagem, ressalta, está na flexibilidade de horários, na possibilidade de decidir quando fazer e quando parar. "O tempo de criação não é um tempo industrial", adverte. "Nem sempre quatro horas de trabalho rendem o mesmo produto. Quando tu transformas o trabalho de agência em industrial, ele tende a ficar mais pobre e as pessoas começam a se desgastar. Agora, quando acho que não estou em condições de trabalhar, seleciono outro período para fazer aquilo."
Fazer e aprender
A vida profissional teve início cedo, ainda aos 15 anos, quando passou a acompanhar o pai em shows de humor, operando som e ajudando a escrever alguns textos. Já a história com a propaganda começou na agência Eficácia, onde teve o primeiro estágio ainda quando estudante de Publicidade da Fabico. De lá, seguiu para a MPM Lintas, SLM, Exitus, Matriz, Escala e Competence. O envolvimento com o mercado, que exigia disponibilidade durante quase todo o dia, o impediu de concluir a graduação. Por outro lado, rendeu uma formação prática. Na MPM, conheceu Beto Philomena, "que funcionou como um mentor por oito anos". Durante esse período, aprendeu muita coisa: "Trabalhei na conta do Zaffari, que é emblemática para o Rio Grande do Sul, e contribuí para a renovação da imagem do Zaffari: criei junto com o Beto o slogan "Economizar é comprar bem"".
Já o período de sete anos na Escala, além da experiência com outro modelo de trabalho, visão de propaganda e mais aprendizado, rendeu-lhe a transição da posição de redator para gestor. De um projeto apresentado por ele, surgiu a área de Conexões, focada em trabalhar todas as mídias em desenvolvimento, não apenas as tradicionais. "Lá, eu cresci, porque me tornei gestor, participei de projetos de reformulação e processos da agência, uma experiência nova e impactante, que mexeu com toda a agência", recorda.
Tornou-se um dos gestores da área de conexões, posição na qual permaneceu por três anos, até que um novo convite o levou à Competence como diretor de Inovação e, depois, vice-presidente de Planejamento. Na Competence, ganhou maturidade. "Gostei muito do ano em que passei lá", enfatiza. E não foram poucas as pessoas que deixaram marcas e contribuições em 20 anos de carreira. Alessandro Jacoby, André Takeda, Claudio Franco, Daniel Martins, Luís Giudice, Marcelo Peresin, Pedro Damasio, Ricardo Lima e Ricardo Soletti, além de Roberto Philomena e Eduardo Axelrud, estão na lista de referências. Assim como a esposa Lúcia Xavier, também publicitária. "Ela foi uma pessoa que incentivou muito esse meu lado de inovação, sempre", registra.
No palco, na web, no rádio
De repente, o que podia ser apenas uma brincadeira, transformou-se em uma carreira. Era 1993 quando, com uma turma de amigos do bairro Menino Deus, fundou a banda Walverdes. Não imaginava que, acompanhando o crescimento do cenário de rock independente brasileiro, subiria aos palcos de diversos estados, aí incluídos Rio de Janeiro e São Paulo. "A banda está chegando aos 21 anos e é uma parte superimportante da minha vida, porque começou como um hobby, mas se tornou uma carreira paralela", considera.
E não é só com a música que a propaganda divide espaço. Desde 2005, acostumou-se a compartilhar textos e, há sete anos, mantém o blog O Conector. Em pauta, assuntos relacionados à cultura contemporânea. "Coisas que estão acontecendo e que acho que mereçam um pouco mais de penso. Gosto de escrever sobre o agora", sintetiza. Também é um dos proprietários do portal de blogs O Esquema, que surgiu em 2008, com apenas os quatro sócios e hoje reúne 29 blogs. A intenção agora é profissionalizar e lucrar com o portal. "No ano passado, tivemos alguns clientes, implantamos projetos e vimos que temos um caminho a trilhar. São 400 mil visitas mensais e queremos explorar isso", explica.
A temática da cultura digital também inspirou o programete de comentários Minimalismo, que foi apresentado por ele na Oi FM durante três anos, até 2012. A experiência, que contribuiu para a abertura de outras portas, tem espaço especial na memória. "Além de fazer rádio, que é uma coisa que eu gosto, pude estudar semanalmente cultura digital e recebi muito feedback de pessoas do Brasil inteiro, que adoravam o programa." No rádio, ainda apresentou o programa Ligado, Plugado, Amplificado, na Ipanema FM, entre 2006 e 2007, dedicado a novas bandas.
Pelo coletivo
Natural de Porto Alegre, o filho mais velho dos professores Alice Maria e João Walmir Bittencourt recorda a infância como um misto de rua e leituras. Isso porque foi parte de uma geração que soube aproveitar as brincadeiras ao ar livre pelo bairro Menino Deus, ao lado da turma de amigos do prédio e dos irmãos Guilherme e Ana Clara - hoje relações-públicas e procuradora do Estado, respectivamente. Dos tempos de menino, lembra das partidas de futebol, reuniões dançantes e também do gosto pela literatura, alimentado durante os estudos no Colégio de Aplicação. "Era um lugar com uma abordagem diferente da leitura, de mais autonomia dos alunos, voltada ao pensamento crítico, onde pude desenvolver o gosto pela literatura e fui muito incentivado a escrever."
Casado há seis anos com Lúcia, que hoje presta consultorias em Planejamento, vive agora uma nova experiência em família, a convivência com João Gabriel, o filhote de dois anos. Quando o casal se uniu, a enteada Estela estava com seis anos. "Vivi primeiro a experiência de uma família com uma menina um pouco mais velha, o que foi muito bacana e ela é superimportante na minha vida. Agora estou vivendo essa experiência de filho pequeno, um outro estilo de vida, uma novidade pra mim", admite.
Para inspirar
Ler, ir ao cinema, aproveitar a piscina com a família, passear por Porto Alegre, encontrar amigos ou andar de bicicleta são as atividades com as quais Mini curte o tempo livre. Na literatura, os livros favoritos são os romances e ensaios sobre cultura contemporânea. Os mais recentes foram "A Possibilidade de uma ilha", de Michel Houellebecq, "Present shock", de Douglas Rushkoff, e "Marvel Comics: A história secreta", de Sean Howe, este sobre a editora norte-americana e o mercado de histórias em quadrinhos. E deve-se incluir aí a retomada de leituras sobre psicologia e teorias da comunicação.
Ficção científica e as produções contemporâneas estão entre os preferidos do cinema, embora afirme assistir a um pouco de tudo. São exemplos a comédia "A vida secreta de Walter Mitty", o drama "Azul é a cor mais quente" e a ficção científica "Another Earth". Na música, não é preciso dizer que o rock, especialmente o inglês e o norte-americano, é o estilo que mais o agrada.
Diz não fazer planos a longo prazo, mas adianta que quer dedicar mais tempo a outros trabalhos. Mini se define como alguém interessado nas questões humanas e que gosta de trabalhar com criatividade. Reconhece a importância das questões financeiras, mas garante que não é o que o move. "Sou a típica pessoa que foi trabalhar com publicidade porque tinha a ver com cinema, literatura? Sou uma pessoa das humanidades. Não gosto de trabalhar só pelo trabalho, me interessam as consequências que um trabalho tem", conclui.
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