Que discurso nossas imagens estão contando?

Questionamento foi feito pela norte-americana Vernã Myer, no SXSW

Por Letícia Duarte

Autora de livros sobre diversidade, a norte-americana Vernã Myer estava pegando um voo certo dia quando soube que a piloto era mulher. "Espero que ela saiba pilotar", pensou, temendo o risco de uma turbulência. Em seguida, se deu conta de como estava sendo preconceituosa. "Quantas turbulências enfrentamos e ninguém questiona se o piloto é homem ou mulher? Por que achamos que só homem pode ser piloto?", questionou-se.

A reflexão fez com que percebesse o quanto estava reproduzindo preconceitos que costuma criticar. Verna foi uma das palestrantes do painel Responsabilidade no Discurso Visual da Mídia, no SXSW, em Austin. E lembrou o púbico sobre o quanto as imagens funcionam subconscientemente para informar a nossa compreensão do mundo. "Nosso cérebro inconscientemente busca por padrões, e isso é baseado em estereótipo. Geralmente, as pessoas dizem: 'eu gosto de negros'. Mas os testes de resposta instantânea com associação de imagens mostram que quase sempre pessoas brancas são associadas com palavras positivas e negros com negativas", analisou, observando que o cérebro precisa ser estimulado e constantemente lembrado do que foge ao padrão.

Obviamente, a cobertura jornalística tem grande responsabilidade nesta construção. Também presente ao painel, a diretora editorial da revista National Geographic, Susan Goldberg, falou sobre a edição especial de abril da publicação, que se dedica ao tema de raça. "Descobri que, por décadas, nossa cobertura foi racista. Até o início do movimento pelos direitos civis, mostrávamos negros de duas formas: como trabalhadores domésticos ou criaturas exóticas. Já melhoramos muito, mas há um longo caminho", observou.

A capa da edição de abril mostra duas irmãs gêmeas, de nove anos, que nasceram com cores de pele diferentes, em uma família inter-racial. Uma é branca e outra negra. "Infelizmente, todos os estudos e estatísticas mostram que elas têm grande chance de ter uma vida muito diferente, baseada em sua cor de pele", disse.

Por mais que, hoje, exista mais consciência social em relação ao tema, grandes companhias de Comunicação ainda escorregam em representações racistas, o que reforça a necessidade de uma permanente vigilância para combatê-las. Vernã lembrou que, no início deste ano, a rede de lojas HM foi extremamente criticada depois de lançar um anúncio publicitário em que um menino negro estampava um moletom com a frase: "O macaco mais legal da floresta". Como reação, lojas da marca chegaram a ser depredadas. Algumas acabaram fechadas na África do Sul.

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