Uma nova (necessária) função chamada consultoria de Diversidade e Inclusão

Estimular o contraditório, a pluralidade de ideias e a criatividade no ambiente de trabalho está entre os desafios do cargo, que visa auxiliar as empresas na construção de práticas mais conscientes

Como um reflexo da sociedade, a intolerância e o preconceito se fazem presentes no ambiente de trabalho. Mas com a visão de que essas práticas precisam cessar e de que a diversidade e a inclusão devem imperar, hoje as empresas contam com o serviço de Diversidade e Inclusão (D&I). Com isso, a discussão sobre o tema da diversidade e inclusão nas empresas vem ganhando novas perspectivas nos últimos anos. Apesar de complexa, a pauta passou a ser vista como necessária e imprescindível. Pessoas diversas trazem visões de mundo e capacidades analíticas distintas, o que contribui para a melhoria do clima organizacional.  

A adoção de práticas de diversidade e inclusão tende a ser motivada como forma de se posicionar contra qualquer tipo de discriminação e preconceito, já que é papel fundamental de todos, sejam indivíduos ou instituições. Um segundo ponto tem relação diretamente com o negócio, pois há o entendimento de que investir em ações de D&I oferece vantagem competitiva. Conforme a pesquisadora e estrategista em diversidade e culturas inclusivas e Founder da Casa Girassol, Daniela Maria Medeiros, "as pautas das diversidades no ambiente organizacional configuram como um exemplo da contemporaneidade".

Colaboradores motivados tendem a oferecer contribuições mais criativas, encorajando um ambiente de inovação. O resultado pode ser percebido na qualidade dos produtos e serviços oferecidos pela empresa. Diante deste contexto, as empresas estão cada vez mais atentas e cientes de sua responsabilidade, o que culminou no surgimento do chamado consultor de Diversidade e Inclusão. 

 

Entendendo os conceitos de Diversidade e Inclusão

Embora importante, somente no início dos anos 2000 a discussão sobre diversidade passou a ganhar força. Esse movimento consistia em reconhecer a identidade para entender as diferenças entre os grupos sociais e as desigualdades originadas delas. 

Na sociologia, a minoria se refere a um grupo social - que é, inclusive, muitas vezes, a maioria -, o qual vive à margem da sociedade e dos núcleos de poder. São pessoas com deficiência, pessoas da comunidade LGBTQIAP+ , profissionais idosos, índios, pardos e negros, além das mulheres e de outros perfis que sofrem discriminação e travam uma luta diária para conseguirem ocupar espaços de destaque na sociedade e na área de trabalho. 

Uma vez reconhecidos, é preciso refletir sobre quanto o ambiente corporativo está aberto e preparado para acolher essas pessoas, de maneira que todos se sintam seguros para desenvolver todas as suas potencialidades. A promoção de práticas e políticas que promovam um ambiente saudável e estabelecem o conceito de inclusão. 

Conforme Daniela, para se gerar resultado, é preciso planejamento, processos, recursos e inserir a pauta na estratégia dos negócios. Porém, ainda de acordo com a consultora, o entendimento que diversidade se dará de maneira orgânica dificulta o andar das pautas inclusivas. "O tema não é tratado muitas vezes com todo o rigor do que qualquer outro, como segurança do trabalho ou inovação, por exemplo, recebem", opina.

A segunda edição da Pesquisa Benchmarking: Panorama das Estratégias de Diversidade no Brasil 2022 e tendências para 2023, realizada pela Blend Edu (empresa que desenvolve soluções de treinamento, consultoria e inovações tecnológicas para colocar a diversidade em prática nas empresas) apontou avanços na temática. No levantamento, 81% das empresas afirmaram destinar recursos específicos para ações de diversidade e inclusão, enquanto 67% relataram o mesmo em 2020. A pesquisa entrevistou 117 empresas de 34 áreas de negócio. Outro dado positivo é o aumento de companhias que dizem possuir uma área dedicada à gestão de políticas e práticas específicas, avançando de 64% para 71%. 

Papel do consultor D&I

Diante de um cenário em evolução, a figura de um consultor em Diversidade e Inclusão se mostra um caminho efetivo na construção de ambientes inclusivos e equipes mais diversas. Grande parte das empresas não consegue implantar internamente programas efetivos, por isso, buscam consultorias especializadas para ajudar na definição de estratégias de D&I que atendam às necessidades da empresa.

O consultor, que pode ser colaborador de apenas uma empresa ou trabalhar com as mais diversas organizações, atua com foco na adequação de processos, auxílio na formação e treinamento de gestores e equipes, melhoria da comunicação e do posicionamento de mercado. Todas as etapas são desenvolvidas em conjunto com os líderes e colaboradores, tendo como base o conceito de aprender a fazer. "Precisamos entender que diversidade e cultura inclusiva são um campo que merece e precisa ser tratado como qualquer outro nas empresas", afirma Daniela.

De acordo com a pesquisa Diversity Matters: América Latina, realizada em 2020 pela empresa de consultoria global McKinsey, as organizações que adotam políticas da diversidade têm a tendência de apresentar mudanças na relação com os colaboradores. Entre elas, 152% maior de propor novas ideias e tentar formas diferentes de executar tarefas, 72% maior de afirmar que a organização melhora sua forma de fazer as coisas e 80% maior de concordar que seus líderes promovem confiança e diálogo aberto.

Uma mudança de cenário muito necessária

Mudar a realidade em relação à gestão de pessoas no ambiente organizacional se mostra imprescindível. De acordo com o estudo 'Indicadores sociais das mulheres no Brasil', realizado em 2019, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 37,4% das mulheres ocupam algum cargo de gerência e recebem até 38,1% menos quando ocupam a mesma função. O cenário das pessoas negras é ainda mais alarmante, conforme indica a pesquisa do site Vagas.com, visto que apenas 0,7% dos cargos mais altos de empresas é ocupado por elas.

Apesar de a lei trabalhista garantir o direito ao emprego formal para pessoas com deficiência, somente 1% é contratado em regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), segundo dados 

da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2018, realizada pelo Ministério Público do Trabalho. Já em relação à comunidade LGBTQIAP+, 74% sentem falta de estar em um ambiente de trabalho mais inclusivo, de acordo com dados de pesquisa realizada em 2021, pela consultoria Mais Diversidade.

Além disso, pessoas com deficiência que têm emprego formal no Brasil representam apenas 1% dos profissionais contratados em regime CLT, conforme dados da RAIS, bem como 74% das pessoas sentem falta de um ambiente de trabalho mais inclusivo, de acordo com dados da pesquisa consultoria Mais Diversidade.

A sociedade é uma grande aliada nesta busca por mais igualdade. Conduzido pelo Instituto Locomotiva, o estudo 'Diversidade no século 21: breve contexto sobre a relevância da diversidade no Brasil', de 2021, identificou que 74% dos brasileiros acreditam que seja papel das marcas e empresas apoiarem a diversidade. Ainda, dois em cada três consumidores brasileiros preferem marcas ou empresas que tenham valores parecidos com os seus. Embora levem em conta o custo-benefício de um produto ou serviço, 55% afirmam buscar nas marcas o equilíbrio desse ponto com o propósito que defendem. 

Mesmo que a passos lentos, a mudança vem acontecendo. Entretanto, ainda está longe de convencer os brasileiros. Segundo o mesmo estudo, 79% acreditam que muitas marcas se aproveitam do combate ao preconceito apenas para fazer propaganda e que não promovem ações efetivas para mudar essa realidade.

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