Coopítulo 13 - O jornal dos jornalistas

Por José Antonio Vieira da Cunha

A hora do Coojornal chegou, exatos dois anos após a criação da Coojornal. Estávamos ansiosos, nervosos, cheios de expectativa e temores. Poucos dias antes, em 9 de outubro de 1976, a Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre realizara sua assembleia geral para analisar as contas e bater o martelo: chegara o momento de colocar nas bancas o boletim que, nascido para divulgar assuntos internos - e por isso levara como nome a sigla da entidade -, tornara-se um sucesso de leitura, aguardado com forte curiosidade inclusive nas redações de jornal no Rio e em São Paulo, quem diria. 

A cooperativa estava sólida, distante de seus primeiros passos, quando funcionava em uma sala alugada onde operava apenas uma secretária. Estava agora ocupando duas casas com dois andares, editava 17 publicações e tinha um quadro social com 270 cooperativados, dos quais pelo menos 30 trabalhavam diretamente nela e outros 50 prestavam serviços como freelancers. 

Ali concretizávamos um sonho, mas ninguém tinha a dimensão que esta realidade alcançaria, tornando-se uma das principais publicações da imprensa nacional a dar voz e espaço a momentos históricos e a figuras de relevo da intelectualidade nacional. E atraindo a simpatia e adesão de figuras como os editores do Pasquim, que davam sempre algum destaque ao Coojornal em suas páginas, a Elis Regina, que quando esteve em Porto Alegre apresentando seu show Falso Brilhante apaixonou-se pela ideia a ponto de levar um carnê de venda de assinaturas do jornal. Havia em cada carnê 50 cupons - que em menos de um mês ela devolveria para nós, todos vendidos. 

O sonho, verdade seja dita, era termos um jornal semanal, mas a dura realidade mostrou que o mais sensato era manter a periodicidade mensal. E em 14 de outubro surgia nas bancas, não só do Rio Grande do Sul como nas principais capitais do país, graças a uma rede de jornalistas colaboradores, o mensário Coojornal. Que, superando mesmos os espíritos mais otimistas, viria a tornar-se uma das mais importantes publicações da imprensa alternativa brasileira, na avaliação feita pelo jornalista e estudioso Bernardo kucinski. Em seu livro 'Jornalistas e Revolucionários - Nos tempos da imprensa alternativa', ali está o Coojornal, ao lado dos históricos O Pasquim, Bondinho, Versus, Movimento e Opinião. Isto é, ao lado dos grandes entre os nanicos que faziam diferentes formas de resistência ao regime ditatorial. 

A Nota do Editor da primeira edição a chegar às bancas - e que na numeração já era a nona, pois as oito primeiras haviam circulando enquanto era apenas um boletim interno - diz tudo sobre os objetivos e as pretensões daquele grupo. Seus principais tópicos: 

    1. Este Jornal, de nome um pouco estranho, pertence a 300 jornalistas gaúchos. De uma certa forma, ele é o primeiro resultado de um trabalho que começou há dois anos, quando um pequeno grupo de profissionais da imprensa fundou a Coojornal. Nestes dois anos, a cooperativa gastou suas energias tentando dar forma a uma ideia que no início soava um tanto romântica: envolver um bom número de jornalistas numa empreitada que além de muito trabalho exigiria um pouco do escasso dinheiro de cada um.

    2. A Coojornal tomou corpo. Fazendo jornais e revistas para empresas, para entidades de classe, para cooperativas, para times de futebol foi crescendo e ganhando confiança no meio jornalístico (...) e hoje pode colocar o seu primeiro jornal nas bancas.

    3. Além do nome, ele mantém a sua principal característica que é dar uma atenção especial à imprensa, entendida como o conjunto dos meios de comunicação de massas. A razão é simples: paradoxalmente, há poucas áreas neste país sobre as quais se tem tão poucas informações como a imprensa, apesar de ter-se tornado moda falar dela nestes últimos tempos.

    4. Quanto ao tom eventualmente crítico que possa aparecer em alguns artigos ou comentários, ele decorre de uma constatação também mais ou menos simples: se é lícito reclamarmos de uma fábrica ou de uma loja que nos venda maus televisores, geladeiras, ou outra coisa qualquer, por que não seria lícito reclamar de um jornal que forneça notícias erradas, distorcidas ou nos sonegue notícias importantes?

A primeira edição em bancas já não deixava nenhuma dúvida quanto a estas boas intenções, como veremos a seguir.

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Esta edição histórica tinha em Elmar Bones da Costa o editor, secundado na editoria por Rosvita Saueressig, Jorge Polydoro, Osmar Trindade, Fraga e eu. Na equipe de repórteres, o expediente trazia Renato Pinto da Silva, Carlos Mosmann, Vera Costa, Lenora Vargas, Gilberto Rocha, Tânia Faillace, Pedro Maciel, Luiz Fonseca, Elaine Lerner, Marina Wodtke, Valdoar Teixeira e Luiz Cláudio Cunha. Na fotografia, Jaqueline Joner, Guto Cruz, Ricardo Kadão Chaves, Sílvio Ferreira e Eneida Serrano. Na arte, Lilian Bem David, Edgar Vasques, Santiago, Ferré e Dirceu Zaremsky. Nilson Figueiredo e Carlão Rios respondiam pela coordenação técnica, Eládio Vieira da Cunha pela gerência e Gabriel Mathias pelo comercial. E os primeiros correspondentes lá estavam: Gilberto Pauletti e Roberto Manera no Rio, Luiz Grassi em Brasília e Jorge Escosteguy e Caco Barcelos em São Paulo.

A primeira edição e sua receita: muita informação sobre comunicação

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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