A Busca de Si: O Mercado Existencial e a Construção do Eu-Negócio
De Edgar Powarczuk, para o Coletiva.net
A busca de si é uma aspiração antiga. Desde os tempos das cavernas, o ser humano busca transcender a vida ordinária. Onde posso chegar? O que vim fazer aqui? No que realmente posso contribuir? Que sentido tem tudo isso?
Essas questões existenciais, no entanto, permaneceram por muito tempo restritas aos religiosos e filósofos, até o clarear das trevas há cerca de 200 anos.
Desde o Romantismo, movimento que libertou nosso Eu e nos deu autonomia em relação às predestinações bíblicas comandadas pela Igreja, nunca tivemos tanta liberdade para sermos quem quisermos ser.
Hoje, as redes sociais demandam identidade singular. Para atender à exigência de produção de conteúdo e competir por alcance e engajamento nas redes, as pessoas criam representações de si mesmas, destacam diferenciais e aplicam filtros para moldar uma imagem, uma personalidade incomum.
Por coincidência, há uma popularização dos mecanismos de autoconhecimento. Um exemplo comum e divertido são os questionários disponíveis online. Testes psicológicos gratuitos, como o Teledipity, que combina numerologia, horóscopo, inteligência artificial e outros recursos, oferecem descrições de personalidade e previsões futuras.
Essa tendência é impulsionada pelo big data, que, ao processar milhões de perfis, refina cada vez mais suas previsões comportamentais. Além disso, temos os algoritmos-espelhos, os mesmos que organizam recomendações no Spotify, ajudando a criar uma identidade musical ou cultural.
Hoje, ferramentas como o GPT já podem constituir um modelo único e personalizado que represente o indivíduo, oferecendo uma versão aprimorada (ainda que temporária) de si mesmo. A combinação de tecnologias embarcadas em dispositivos comuns, como filtros anti-rugas e moduladores de voz, com substâncias como cogumelos ou Venvanse, cria uma potência exógena que torna as pessoas mais competitivas, mais capazes, melhores.
Divãs e Filósofos Pop Stars
A crescente demanda por autoconhecimento tem lotado divãs e impulsionado atendimentos de psicólogos, terapeutas e mentores. Vivemos uma era em que filósofos se tornam pop stars, conquistando espaço em podcasts e redes sociais.
A pandemia intensificou essa busca, funcionando como um catalisador. Para os jovens, a pressa histérica pelo sucesso. Para os mais velhos, a urgência de tirar projetos da gaveta enquanto ainda há tempo.
O Mercado Existencial e o Eu-Negócio
A busca por autoconhecimento é a base do que o filósofo Luís Pondé chama de "mercado existencial", onde se transacionam bens de significado e as pessoas consomem aquilo que podem se tornar.
No meu livro, Eu-Negócio, exploro como o trabalho se tornou uma extensão do Eu, o principal caminho para dar sentido à vida e buscar realização pessoal. O trabalho não é apenas uma fonte de sustento, mas também o meio pelo qual queremos ser vistos e reconhecidos no mundo, aproximando-nos de nós mesmos.
Edgar Powarczuk
Jornalista, Mestre em Administração, com pós-graduação em Psicanálise e Filosofia. Mentor de Empreendedores e autor do livro "Eu-Negócio: Ferramentas para Empreender no Mercado Existencial".