A busca por representatividade negra dentro do movimento cultural
Por Carine Brazil, para Coletiva.net, em especial Diversidade e Comunicação
Cresci na Vila das Placas, zona leste de Porto Alegre e no Projeto Sociocultural Afrosul/Odomode Lugar. Foi nesse lugar em que aprendi desde cedo a educação do letramento racial. Quando mais jovem, saí de casa e vim morar no centro de Porto Alegre. Foi quando tive acesso a outros movimentos culturais majoritariamente brancos e elitistas.
A partir disso, sofri com situações raciais pelo qual somente havia escutado e nunca vivenciado. Entendi como essas vivências mexeram comigo e, ao mesmo tempo, me amadureceram. Esses conflitos me fizeram construir uma rede de apoio genuína para que pudesse disseminar as minhas informações. Atualmente, sou regente, junto com outra menina, do bloco Não Mexe Comigo que Não Ando Só. É claro que como pessoa preta e periférica, precisei aprender a expressar meus limites de forma clara e saudável porque nem todo mundo tinha a mesma realidade que a minha. Hoje, vencidos e vencendo obstáculos, tenho orgulho do que todos nós conquistamos com o bloco.
Aprendi também que quase sempre branco só escuta branco. Em geral, eles vão ter somente a visão deles porque não viveram o que nós, pessoas não-brancas, vivemos. Uma pessoa preta ao ser chamada no aeroporto, acha que vai sofrer racismo, o branco acha que é um procedimento normal. O que eu aprendi é que a gente não ganha o pão falando manso. O que eu faço dentro do bloco é engajar quem quer ser ativo na luta.
Então, a rede de apoio me ajuda nessa questão de me comunicar. O que também foi essencial no processo de sobrevivência quando me sentia mal por estar vulnerável foi voltar para as minhas raízes e me fortalecer, nunca esquecer de onde vim, pois é neste lugar que sempre pude ser eu puramente. Hoje, um pouco mais madura, consigo enxergar o resultado de ressignificação do todo. Saber o quanto foi importante resistir e saber que estou abrindo caminhos para gente como eu também ocupar lugares de liderança dentro do movimento cultural majoritariamente branco. A valorização das nossas origens e a busca por representatividade dentro do movimento cultural são passos significativos para promover a diversidade e a inclusão.
Não é à toa que tenho grande influência de Ogum na minha vida!
O senhor da abertura dos caminhos! Ogunhê meu pai, salve!
Carine Brazil é regente do bloco de Carnaval Não Mexe Comigo que Não Ando Só, multi-instrumentista do grupo de música e dança Afrosul-odomode e engenheira de Produção