Não sei como funciona com vocês, mas no meu WhatsApp todas as conversas eu ouço na velocidade 1,5x. Tem gente que ouve no 2x. O tempo é nosso maior poder. Poder ter tempo é uma dádiva. Tem um filme extremamente interessante chamado "O tempo do amanhã" estrelado por Justin Timberlake que nos remete a uma reflexão sobre o tempo e o preço dele. Em um mundo de ficção tudo é pago com o tempo. Desde a passagem de ônibus, alimentação, carros, hotéis, tudo. Pra mim, particularmente, fez todo sentido refletir sobre o tema e onde eu coloco a minha energia e o tempo que tenho na minha vida, que como todos nós, não sabemos até quando o teremos. Recomendo assisti-lo. Mas o que tem tudo isso a ver com o jornalismo televisivo ou pelas mídias?

Tudo.

Hoje a grande luta e concorrência está pela atenção. Pelo tempo das pessoas. Quanto mais tempo alguém assistir ao meu conteúdo, mais eu ganho. Tudo está a um clique ou um arrastar de tela. Os maiores concorrentes dos tradicionais televisão e rádio estão em nossas mãos no Instagram, no Facebook e no TikTok. Se conteúdo em menos de 1 minuto me chama a atenção eu vou buscar saber mais e se não interessar em 5 ou 10 segundos, tchau. Troquei de tela e segui buscando muitas vezes um conteúdo que nem mesmo eu sei, mas, que quando chamar a minha atenção eu vou parar e vou consumi-lo.

Qual foi a última vez que com excecão de um jogo importante do teu time do coração você marcou o horário para assistir algo na televisão ou no rádio? Quando? Pensa aí?

Pois é. A geração 2x que quer tudo rápido e na hora nunca vai entender o que é esperar uma conexão discada encontrar a estabilidade e conceder o sinal para acessar o conteúdo que você procura na internet. Ou chama a atenção em poucos segundos ou você vai buscar em outro perfil, outro canal ou daqui um tempo.

A impressão que tenho é que a geração 2x descobriu o valor do tempo que temos não sabemos até quando. Se por um lado mostra algo óbvio, uma vez que todos somos mortais e sabemos disso, ela está nos ensinando que estar em todas as plataformas ou a disposição na hora em que ela quiser é o segredo de buscar a atenção plena do nosso "cliente". Hoje, as pessoas estão escolhendo o que assistir no sentido de entender que aquele conteúdo irá somar algo de fato nas vidas delas, até mesmo o entretenimento que vai fazer com que ela esqueça momentaneamente todos os problemas que a vida na velocidade 2x também impõem.

Em cima disto tudo o Streaming chegou em uma velocidade maior que os 2x que a geração está vivendo e transformou-se numa realidade sem volta. Não são mais as emissoras, canais ou produtores de conteúdo que estabelecem os horários nos quais eu assisto aquilo que me interessa, mas sim, eu que escolho a hora em que se eu quiser vou assistir a atração que me chamou a atenção e com um detalhe: Se eu assistir cinco minutos e não for aquilo que eu esperava lá estará o meu celular mostrando uma notificação de algo que foi publicado naquele canal que já havia demonstrado interesse. Não é fácil.

É comum hoje em dia que durante grandes eventos, estreias, jogos ou shows, as pessoas comentarem e publicarem simultaneamente tudo aquilo que está acontecendo. "Cobertura ao vivo em tempo real!" Todo mundo assiste televisão ou streaming com o telefone na mão em sua rede social favorita comentando e dando suas impressões enquanto tudo está acontecendo. Tudo multi-telas.

No POA Streaming TV, temos programas de 27, 50 e 90min. O tempo médio de audiência de uma única pessoa é de 11min 45seg. E eu considero excelentes números dado justamente a competição pela atenção que hoje vivenciamos.

O Streaming hoje é quase um sinônimo de liberdade quando nos referimos a produção de conteúdo seja ele local ou não. Um caminho sem volta onde todos os dias aprendemos algo novo em busca da ATENÇÃO em um mundo de velocidade 2x e a batalha PELA ATENÇÃO será daqui pra frente cada vez mais acirrada a ponto de fazer com que cada um tenha a consciência de não estar perdendo TEMPO.

Fica minha reflexão destes tempos modernos.

Volto a qualquer TEMPO para falar sobre como eram nossas distrações nos não tão distantes anos 90 e 2000?

Fabiano Brasil é diretor-geral do Grupo F. Brasil e comunicador da Band RS