A Inovação está em risco
Por Luciano Nunes Suminski, para o Coletiva.net
O que levará a sociedade a aceitar ou rejeitar inovações? Essa foi uma relevante pergunta elaborada pelo Edelman Trust Institute na última pesquisa publicada em 2024, que sondou a confiança nas organizações em 28 países. Os dados foram coletados entre 03 e 22 de novembro de 2023 com mais de 32 mil entrevistados, em média 1.150 entrevistados por país.
Os resultados das pesquisas do Edelman Trust Institute são considerados referência no mundo corporativo nos últimos anos. Como no ano de 2021, quando apontou, num cenário pós-pandêmico, que as empresas inspiravam mais confiança do que os governos, ONGS e a mídia. No relatório de 2021 a pesquisa ainda indicou que a pandemia acelerou o medo das pessoas com a perda de trabalho, cenário que se repete agora no relatório de 2024.
De acordo com o Relatório Brasil, do Edelman Trust Barometer 2024, a inovação está em risco. O avanço do desenvolvimento tecnológico, principalmente da Inteligência Artificial, acelerou também o medo das pessoas. O medo de serem substituídas, de perderem suas condições financeiras, suas atividades profissionais e, principalmente, sua identidade profissional, pois no meio de tantas incertezas cresce também o imaginário coletivo de que o homem poderá sucumbir com a ascensão das máquinas.
O Relatório Brasil da pesquisa global aponta que os medos relativos à sociedade se igualam aos medos pessoais relativos à economia, e que, assim como as pessoas confiaram mais nas empresas pela primeira vez em 2021, agora confia-se mais nas empresas para integração de inovações na sociedade. Mas, se as pessoas estão com medo de perderem seus empregos, então não se enxergam tão participativas neste processo de integração da inovação na sociedade. Quando as instituições gerenciam mal as inovações, a percepção individual sobre as transformações se torna negativa.
Os principais vetores da inovação aplicada à vida das pessoas estão diretamente relacionados com o impacto econômico, como a energia limpa, a medicina genética, os alimentos geneticamente modificados e, depois de 2023, a insondável IA. Em janeiro de 2023, mais de 100 milhões de pessoas entraram no Chat GPT nos primeiros dois meses da plataforma, demonstrando o impacto revolucionário dessa tecnologia. Em maio do mesmo ano, o mundo presenciou um dos primeiros sinais globais do medo atrelado ao avanço da IA, quando os roteiristas e atores de Hollywood fizeram greve contra o uso de tecnologias de streaming e IA pelos estúdios. Este medo só tem aumentado, principalmente diante de outros fenômenos medievais que assombram a sociedade global, como a extrema desigualdade social, a fome e as guerras. As guerras que estão em curso e as que estão às vésperas.
Existe uma tendência atualmente que banaliza o conceito e a instrumentalização da palavra inovação. As organizações se apropriam desta palavra mágica em campanhas publicitárias e em ações de curto prazo, que são incapazes de transformar processos e gerar resultados, quem dirá impactar a vida das pessoas. A inovação deve ser um processo de transformação social, e se a inovação não melhora a vida das pessoas, não é uma inovação. Os resultados das práticas de inovação devem ser medidos pelo impacto positivo criado para as pessoas e, infelizmente, a maioria das organizações não está preparada ainda para desenvolver e medir resultados dentro dessa premissa.
O ambiente de criatividade e inovação criado na cidade de Porto Alegre nos últimos anos, principalmente com a ascensão do South Summit Brazil, realizado no Cais Embarcadero, e a revitalização do Quarto Distrito da cidade como polo criativo, têm sido incapazes de impactar positivamente a comunidade gaúcha. Isso porque 95% das cidades do Rio Grande do Sul foram afetadas pela enchente do mês de maio de 2024, incluindo Porto Alegre. Se os debates que pretendem mudar o mundo não estão transformando o entorno, qual impacto positivo na vida das pessoas esse tipo de inovação pretende?
Luciano Nunes Suminski é relações-públicas e professor universitário