A morte da resposta

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Comprar Mercedes e não ter grana pra gasolina é trágico. Servir costela pra desdentado também. Ao fazer estas inferências vulgares - poderiam ser muitas outras deste tipo, introduzo minha revolta. Absoluta revolta com a comunicação interpessoal destes tempos virtuais. Elas, as redes sociais, falam muito sobre você.

Muitas rusgas, embates e até guerras foram criadas pela comunicação truncada. Poderia ser um código mal traduzido na batalha, poderia ser uma mensagem errada na espionagem da Guerra Fria. Poderia ser o telefone vermelho não atendido no Kremlin e mísseis atômicos teriam sido disparados em 1962.

Nossa quanto exagero! Verdade. Mas eu prefiro pintar em tintas negras algumas regras básicas da boa educação. Ou melhor, quando elas são deixadas de lado.

Claro que ansiosos, como eu, não suportariam viver em séculos passados, quando se esperava até meses por uma resposta de carta, que vinha por navio ou a cavalo. Ou não vinha.

Para mim, admito que possam existir opiniões em contrário - ainda que erradas, é o fim dos tempos alguém ler uma mensagem no zap, o bicho indicar dois tickets azuis, e a resposta não existir. Nem no momento, e nem 48 horas depois. É o cúmulo da falta de consideração. Da falta de educação. Da falta de senso social. É pedante, presunçoso, arrogante. Mas como eu leio uma mensagem de alguém e não respondo? Não dou importância, cago e ando?

E o que dizer daquele que configura pra não ter os tais sinais azuis? É um vouyer: leio tudo o que me mandam, mas eles não sabem que eu sei o seu teor. "Nunca vão saber que eu sei, que eu vejo, que eu sei o que eles querem, mas não quero que eles saibam que eu sei". Final dos tempos.

Alguém dirá que é preciso empatia para entender que, do outro lado, alguém talvez esteja impedido de responder. Então, não olha o zap no meio da reunião, ora!

Este comportamento já vinha acontecendo no velho e-mail. Mas, nele, não tinha os azuizinhos e, por isto, sempre tinha o salvador "ué, não chegou", ou "vou olhar na caixa de spam".

Sabe quando as pessoas reclamam desesperadamente quando precisam resolver um problema com operadora de TV a cabo, de telefonia celular, ou o que seja, e vai de um lado a outro, espera minutos ouvindo a musiquinha, e ninguém resolve? Ninguém lhe dá atenção? Para mim, é a mesma coisa que você querer falar e a pessoa fingir que te atende e tu apenas te irritas. Pô, tô vendo que tu leu! Responde, cac*t*! Ou diz que não pode agora, ou que não pode nunca mais. Me tira da lista, então. Mas fala!

Não fui eu quem inventou um método de aproximar as pessoas através de uma fórmula rápida. Mas a educação não foi abolida no whatsapp ou qualquer outro aplicativo. E se tem uma coisa que incomoda, decepciona dependendo de quem é o interlocutor, irrita conforme a urgência do assunto, é saber que o outro leu - ou não ter a certeza de que o vouyer tá lendo. É o cúmulo da falta de educação.

A antiga bina no aparelho fixo ou mesmo no celular, hoje em dia, dá a liberdade de não atender. Mas é diferente. Não quero atender. Quero até me esconder, não quero ser encontrado. Que seja. Mas se disser que está em casa, abre a porta. Se disser que vai ir, apareça. Se não puder, diga que não vai dar. Mas não trate o outro com desdém. Não tente fazê-lo de idiota. 

Seja condescendente, magnânimo, humano. Leu, responda. É o mínimo que quem está do outro lado merece. Você não é tão ou mais importante assim. Ou saia do aplicativo. Mas não leve para ele a sua péssima educação. E não se faça de extremamente ocupado, que não tenha 30 segundos para dizer "falo depois".

Mal educados existem em todos os cantos. Alguns de punhos de renda. Outros, comendo caviar. Outros, de Iphone, e outros na favela mesmo. A diferença entre eles, em alguns casos, é nenhuma.

Pronto, falei.

Iraguassu Farias é diretor Comercial de Coletiva.net.

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