A resiliência da tribo dos 50+

Por Laura Glüer, para Coletiva.net, em especial Diversidade e Comunicação

Laura Glüer - Arquivo pessoal

Os sinais são sutis. Primeiro, os olhares críticos. Depois, as portas começam a se fechar sem explicação. Quando percebe-se, em poucos anos, por mais competente que você seja, de repente, virou "old fashion". O etarismo na comunicação existe, sim. Como em muitas outras áreas. Você estuda e trabalha um tema por décadas. Vira um especialista naquele assunto. Mas, os rostos e termos novos que chegam no mercado e no meio acadêmico (nem tão novos assim!!!) passam a ganhar mais destaque e você se torna uma peça obsoleta. 

Não tem sido fácil surfar nesse cenário nos últimos anos. Posso dizer que sou resiliente e sobrevivo, de cabeça erguida, alternando tombos e momentos de sucesso. No meu caso, o etarismo ainda é discreto, pois acabei de completar 50 anos. Algumas vezes, sutil, outras vezes com requintes de crueldade. E, a questão é que essa não é uma percepção isolada. Converso com colegas da minha faixa etária (50+) que compartilham dos mesmos sentimentos. 

Tem também a gordofobia. Estar acima do peso é um passaporte "ao contrário" para muitos ambientes. Mesmo que sua taxa de colesterol esteja ok, as formas agigantadas parecem não circular com muita aceitação em alguns espaços da comunicação. O estranho é que o preconceito nem sempre vem dos bem jovens. Aliás, quase nunca. O preconceito parte de colegas que têm quase a mesma idade que você, mas fazem um esforço tremendo para esconder isso. 

A diversidade é um caminho que proporciona uma grande troca de vivências em todos os ambientes - corporativo, acadêmico, familiar e comunitário, e essa troca é de uma riqueza imensa. Recentemente, levei jornais impressos para uma aula do curso de Jornalismo e foi uma experiência incrível. Meus alunos millenials adoraram poder folhear as páginas, se encantaram com o encadeamento das notícias pelas editorias e se apaixonaram pelas palavras cruzadas ao final!

Tenho certeza que posso produzir e contribuir para a comunicação por pelo menos mais uns 20 anos. Vontade e energia não me faltam. Sinto imenso orgulho do legado que construí nessas três décadas como comunicadora e professora. Cultivo com humildade a curiosidade constante para nunca deixar de aprender.  

Há muita gente boa no nosso mercado na faixa dos 50+. Não somos jovens para sempre, mas podemos ser joviais a vida toda. Resta saber se haverá espaço para a nossa tribo daqui para frente. Vencer os preconceitos e a resistência envolverá muito debate sobre esse tema, mas felizmente a sociedade parece estar acordando para essa discussão.

Laura Glüer é jornalista e doutora em Comunicação.

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