A trend da diversidade de 2013 a 2023

Por Rodney Silva, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Rodney Silva - Arquivo pessoal

As trends do Instagram sempre surgem com alguma novidade que tem o objetivo de incentivar os usuários a publicarem fotos de diferentes momentos. Entre as mais recentes está a trend que faz a comparação de imagens de 2013 e 2023. 

Fiquei curioso e acompanhei as fotos das diferenças entre 10 anos de amigos e conhecidos virtuais. Porém, nem cogitei publicar a minha versão. Além de estar sem imagens daquela época no meu celular - e desorganizadas em nuvens, o motivo principal é que não consigo me identificar com a pessoa que eu era em 2013.

Embora se aborde cada vez mais as questões da sexualidade, especialmente depois de Stonewall e outras conquistas do público LGBTQIAP+, abro parênteses aqui: até mesmo a sigla de inclusão foi se alterando desde então. Enfim, tratar sobre diversidade em 2023 é totalmente diferente da última década. Os ambientes corporativos não traziam a temática abertamente. Os gays que conheci profissionalmente naquele período, não raramente, eram alvos de brincadeiras veladas, chacotas diretas ou simplesmente nem falavam da sua vida íntima. 

E cito minha experiência pessoal/profissional. Em 2013 atuei como coordenador de Comunicação de uma instituição do segmento jurídico. Por mais que a entidade tivesse sua comissão de advogados pela diversidade, isso não se refletia no dia a dia corporativo. Infelizmente, faltava o amadurecimento e a evolução dessa cultura organizacional de diversidade que existe hoje na maioria das instituições privadas e públicas, alinhadas com o novo momento social de inclusão. 

Nesse sentido, as empresas de tecnologia foram responsáveis por essa transformação além do digital, sendo pioneiras em incentivar a diversidade como pilar fundamental da cultura interna. E não sejamos inocentes aqui: é um setor que possui falta de mão de obra especializada desde sempre. Garantir um ambiente seguro e verdadeiramente acolhedor para todas as pessoas foi uma forma de trazer profissionais mais engajados com a cultura institucional, pois uma empresa com responsabilidade social é melhor vista pelo mercado.    

Voltando para 2013, ao começar o dia no cafezinho presencial, por exemplo, era incomum um gay comentar sobre o final de semana com o namorado, enquanto isso seria um assunto natural entre os heterossexuais. Hoje, os processos de seleção de profissionais buscam cada vez mais diversidade. É assim a cultura de pessoas da Be220, empresa de desenvolvimento de aplicativos que sou sócio e diretor de negócios. 

Em 2019, a Be220 tornou-se integrante do Pride Connection, uma organização sem fins lucrativos que promove a diversidade nas empresas. Com as trocas dos encontros do grupo, percebi que muitas das dores de aceitação da sexualidade que tive até me identificar abertamente como homem gay em qualquer ambiente da sociedade, eram comuns a outros LGBTs. O receio entre muitos nem era o ambiente familiar - como é geralmente, mas sim o profissional, como exclusão de vagas, enfrentar dificuldades no relacionamento com colegas, o medo de não ser respeitado em opiniões e até mesmo ser preterido em promoções. 

Em 2013, isso tudo que descrevi realmente poderia ocorrer. Ainda bem que a trend do Instagram de 2023 mostrou diversos amigos gays bem posicionados como profissionais, seguros, empoderados e contribuindo para promover ainda mais diversidade em seus ambientes corporativos, mas principalmente, felizes sobre as pessoas que são hoje. Esse também sou eu.

Rodney Silva é Jornalista e sócio diretor de Negócios da Be220

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