ChatGPT, receios e oportunidades

Por Grégory Parisotto Reichert, para Coletiva.net

Grégory Parisotto Reichert - Arquivo Pessoal

O ChatGPT é um modelo de linguagem treinado pela OpenAI, capaz de responder a uma ampla gama de perguntas e tarefas. Suas respostas são baseadas nas informações aprendidas durante seu treinamento. Sem personalidade ou opiniões próprias, tem como objetivo fornecer informações precisas e úteis para ajudar as pessoas a aprender e resolver problemas.

O parágrafo acima poderia ter sido escrito por mim, mas foi uma resposta do próprio ChatGPT à pergunta: "o que eu deveria escrever em um artigo sobre você?". Com uma precisão impressionante, a ferramenta desenvolvida pela companhia OpenAI vem chamando atenção, assim como o Dall-E 2, um sistema que cria imagens realísticas a partir de uma instrução simples.

A API da empresa foi capaz, por exemplo, de dar dicas para quem tem em ter seu emprego substituído por uma máquina no futuro: "desenvolva habilidades de solução de problemas inovadoras para ajudar seu empregador a evitar a automação", "invista em você mesmo tomando cursos para ficar à frente da concorrência" e "torne-se um especialista em seu campo para que você seja inestimável para a empresa" foram algumas das recomendações - todas elas assertivas.

A inovação trazida pela inteligência artificial tem oferecido contribuições valiosas para o mundo, ajudando-nos a resolver problemas, ter soluções ágeis e abrindo caminhos para novas tecnologias. Porém, seus avanços também trazem dilemas e receios de ordem profissional e ética.

Tem se tornado cada vez mais simples gerar imagens, áudios e até vídeos que simulam situações reais com enorme acurácia. Se isso ajuda, por exemplo, a recriar vozes para projetos audiovisuais (como a de James Earl Jones para Darth Vader na série "Obi Wan Kenobi"), também é um risco nos "deepfakes", onde uma pessoa pode se ver acusada de algo que não fez, ao ter seu rosto inserido digitalmente num vídeo quase perfeito.

O modelo do ChatGPT, capaz de dar respostas precisas a questões elaboradas, já ligou o sinal de alerta no próprio Google, que vê seu modelo de negócio ameaçado e planeja um contra-ataque - seu sistema, chamado Bard, deve ser apresentado em breve. Se a gigante das buscas tem essa preocupação, imagine um profissional que vê seu emprego como algo substituível pela IA num futuro não tão distante.

É um cenário que realmente assusta à primeira vista, mas deve ser observado - como tantas outras inovações da história - como uma oportunidade. Antes era fundamental aprender datilografia; hoje, quanto mais avançados forem nossos conhecimentos nas tecnologias existentes, mais preparados estaremos para os desafios do presente e do amanhã.

Se algumas funções podem ficar obsoletas com o avanço tecnológico, outras também se abrem a partir deste. A IA ajuda, mas não substitui dimensões como o raciocínio, análise, a criatividade e a capacidade decisória inerentes ao ser humano. Cabe-nos estabelecer diretrizes para o uso ético e responsável dessas ferramentas que, queiramos ou não, serão cada vez mais parte de nosso dia a dia.

Fundamental é que não fiquemos parados no tempo. Evoluir é próprio da condição humana - e devemos nos preparar, atualizar e acompanhar os avanços da tecnologia. Foi assim em cada nova revolução industrial - e estamos vivendo exatamente isso agora. Entender isso é crucial para não temer a realidade e as mudanças de nosso mundo.

Grégory Parisotto Reichert é CEO da Razor Computadores.

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