Comunicação empática é a pesquisa pelo outro

Por Cleiton Chiarel, para Coletiva.net, em especial Diversidade e Comunicação

Cleiton Chiarel - Arquivo pessoal

Gostaria de falar sobre a afetividade na relação entre a Comunicação e a coleta de dados primários. Para alguns, pode parecer um tema enfadonho. Mas ele é um sinal da importância da humanização dos processos interpretativos e investigativos em um mundo hiper conectado e em profusão de informações. A comunicação é a chave para o sucesso de qualquer atividade, na minha área de atuação não poderia ser diferente, como pesquisador, vejo sendo o principal diferencial sobre a qualidade durante o momento do processo investigativo. 

Não importa se é realizando uma ou mil entrevistas, a forma de se comunicar com o entrevistado faz toda a diferença para se obter respostas sinceras e espontâneas. Vivemos em um mundo cada vez mais digital e impessoal, onde todos têm sua própria plataforma para se comunicar e a geração de diagnósticos acontece constantemente, seja analisando hábitos de consumo e de mobilidade, seja analisando o que cada um está falando nas redes sociais no momento. Em muitos casos, estas informações são estratégicas e bastam para sacramentar o destino de uma marca, um produto, de uma figura pública como um artista ou político ou mesmo do cidadão comum, que tanto pode viralizar como ser imediatamente "cancelado" dependendo da forma de expor suas opiniões. 

São inúmeras as possibilidades, mas algo que a IA (Inteligência Artificial) não consegue reproduzir é a empatia da entrevista olho no olho, é o analisar da subjetividade de cada resposta, seja pela entonação da voz, seja pelas expressões corporais. Trabalhar esse momento de abordagem faz toda a diferença e possibilita ao entrevistador construir um elo momentâneo com seu entrevistado, pois está exercendo a arte da escuta, que a cada dia que passa se encontra mais abandonada, relegada em prol do falso sentido de urgência que se impregnou em nossas vidas a partir desta segunda década do novo milênio.

É preciso deglutir as informações, não as engolir, aproveitar aqueles minutos em que o entrevistado dispõe de seu tempo para poder fornecer suas opiniões em primeira mão. Sei que o tempo é relativo, assim como a maneira de coletar as informações. E sei também que uma pergunta feita pela web ou por telefone não pode ser comparada com o olho no olho da presença física ou mesmo digital, se considerarmos as chamadas de vídeo como alternativa viável. Falo de exercermos mais a escuta empática. Ela é uma habilidade de comunicação que envolve ouvir atentamente a outra pessoa e tentar compreender seus pensamentos, sentimentos e perspectivas. Ela envolve prestar atenção total ao que a pessoa está dizendo, sem julgamento ou interrupção, e tentar se colocar no lugar dela para compreender sua perspectiva. Aprender a ouvir, não apenas ser ouvido.

Na coleta de dados durante uma entrevista, a escuta empática pode ter um papel importante em aumentar a qualidade e a quantidade de informações coletadas. Quando o entrevistador a utiliza, ele se concentra nas respostas do entrevistado e tenta entender completamente suas ideias, experiências e opiniões que estão sendo compartilhadas. Isso ajuda a criar um ambiente de confiança e respeito mútuo, fazendo com que o entrevistado se sinta mais à vontade para compartilhar informações importantes e detalhes que poderiam ter sido omitidos se ele se sentisse desconfortável, incompreendido ou estivesse respondendo o questionário sozinho. O que o limitaria a simplesmente fazer uma descrição fria e muitas vezes descompromissada do tema a ser pesquisado.

Mas resumindo tudo que eu escrevi: qual a importância da comunicação para a coleta, geração e análise de dados e como tudo isso está interligado?

Neste momento de predominância das redes sociais e no simplismo predatório e belicoso com que a comunicação trafega nestes ambientes, ela é uma forma de resgate essencial para o convívio pessoal, se contrapondo às interações virtuais. A conexão pessoal e as interações face a face são fundamentais para o desenvolvimento de nossas habilidades sociais e emocionais. Estas habilidades são a fonte primária para desenvolvermos empatia e compaixão, nos aproximando dos demais cidadãos, sobretudo daqueles que ainda não alcançaram as condições mínimas para viverem com dignidade. 

Cleiton Chiarel é comunicador formado em Ciência Política e Chefe da Divisão de Desenvolvimento Profissional da Superintendência da Educação Profissional do Estado do RS (Suepro).

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