Comunicação, transparência e desenvolvimento

Por Malu Macedo, para Coletiva.net

Sem jornais e emissoras de rádio e televisão, não havia como se alcançar um público expressivo no passado. Conseguia-se no máximo chegar ao entorno, à comunidade mais próxima. Em pequenas localidades, o bar da esquina abrigava o fervo das novidades, os sinos das igrejas alertavam sobre a ocorrência de algo grave, as praças viravam o centro do mundo.

Nos últimos anos, a profunda digitalização dos processos e o surgimento de uma variedade de artefatos e plataformas deram a qualquer pessoa a possibilidade de falar ao mundo. Não interessa se for a partir da solidão de um quarto numa cidade escondida na dobra do mapa ou de um escritório em uma metrópole que nunca dorme. Agora qualquer um dispõe de recursos para projetar sua voz, seu pensamento.

No princípio dessa profunda transformação provocada pela internet e pela digitalização da comunicação, projetava-se uma realidade de mais conexão e liberdade. Esperava-se que as ferramentas digitais fossem aliadas da democracia, em um mundo onde houvesse mais conectividade, participação, transparência e ampliação de direitos e liberdades. Apostava-se que mais acesso a informações impulsionaria um cenário de politização e consciência.

Essa pretensão toda desmoronou porque a internet e as plataformas digitais são apenas ferramentas, e o teor e a qualidade do que é feito e disseminado depende de quem está por trás das ações, incluindo pessoas e grupos que não tinham acolhida na mídia tradicional para seus discursos radicais, nem para o ódio e as inverdades que protagonizam. O resultado é que, em retrospecto, percebe-se um agravamento da realidade em nível mundial.

Mentiras, ultimamente chamadas de fake news, circulam em velocidade e proporção gigantes. Ódio e preconceito são disseminados com a rapidez de um clique. Linchamentos virtuais se tornaram comuns. Golpes e crimes se apossaram também da dimensão virtual das vidas. O mundo online é uma projeção do offline, para o bem ou para o mal.

Neste contexto delicado, a comunicação no âmbito do governo do Estado assume uma dimensão de grande importância na busca de transparência, na ampliação do acesso a serviços públicos e no combate a mentiras e desinformação.

O Estado é uma dimensão da sociedade presente na vida de toda a população. Se isso não ocorrer, ele falha em seu propósito. E se a vida em sociedade vem passando por profundas transformações, o aparato estatal precisa acompanhar esse fluxo dinâmico, irreversível e crescente.

Vamos olhar alguns dados. Em 2019, o número de usuários de internet no Brasil chegou a 134 milhões, ou seja, três a cada quatro brasileiros com mais de dez anos (pesquisa TIC Domicílios 2019, do Comitê Gestor da Internet no Brasil). O mesmo estudo revelou que, pela primeira vez desde que esse levantamento é feito, mais da metade da população rural (53%) declarou usar internet. Entre todos os usuários, o celular é o principal meio de acesso à rede (99%). E em 71% dos domicílios brasileiros há acesso à internet - situação que não ocorre em mais de 20 milhões de residências.

São números expressivos, fruto de mais acesso a formas de conexão, mas que ao mesmo tempo revelam o quanto ainda há um contingente considerável de pessoas alijadas dos processos de digitalização. Os desafios da gestão pública, portanto, precisam dar conta dessas realidades distintas, para que todos sejam contemplados pelas ações de comunicação do Estado.

A internet é usada para envio de mensagens, busca de informações, produtos e serviços, atividades educacionais, compras, atividades culturais e uma gama infinita de possibilidades. Nesse universo em permanente expansão, os governos também estão presentes, e aqui cabe uma menção ao Rio Grande do Sul.

O governo é um só, seja na experiência concreta da vida cotidiana nas ruas ou no território virtual. Portanto, o Estado deve estar presente onde sua atuação é prevista ou necessária, sempre comprometido com o interesse público e a transparência de suas ações.

A importância desse papel cresce durante emergências ou tempos de crise. A Defesa Civil, ao enviar para celulares um alerta meteorológico para que a população se prepare ante a chegada de um temporal, está se valendo de ferramentas de comunicação. E se mirarmos a gravidade e a complexidade de uma situação como a pandemia do novo coronavírus, fica mais evidente ainda a importância da comunicação pública.

Ações foram promovidas para dar transparência aos atos do governo, manter a população informada acerca da realidade e divulgar protocolos que deveriam ser adotados pelos cidadãos e os diversos segmentos da economia.

A estratégia do Rio Grande do Sul compreendeu, por exemplo, lives diárias conduzidas pelo governador do Estado e a equipe que esteve e ainda está à frente do combate à Covid-19, a fim de garantir atualização sobre a situação epidemiológica e prestar contas da atuação do governo. Outra ação de comunicação foi o desenvolvimento de um site que reuniu dados para se acompanhar os dados relativos à pandemia e aos investimentos públicos.

Em outro âmbito, a Secretaria de Comunicação promoveu campanhas publicitárias e mobilizou as suas equipes jornalísticas para a produção de conteúdo em texto, áudio, foto e vídeo que alimentaram suas plataformas e redes sociais com informações sobre a pandemia. Esse conjunto evidencia a importância da comunicação pública em tempos de crise.

Transparência deve ser uma obsessão da comunicação pública, e essa perspectiva é respaldada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que afirma no documento Diretrizes políticas para o desenvolvimento e a promoção da informação governamental de domínio público: "Quanto maior for a quantidade de informação disponível abertamente pelo governo e sobre o governo, menor será a possibilidade de este governo conseguir ocultar atos ilegais, corrupção e má administração".

Mais do que isso, o uso da comunicação para ampliar a transparência em torno das ações do governo e o acesso da população a serviços públicos traz benefícios para áreas fundamentais como educação, saúde e segurança. E é este o caminho que estamos adotando para contribuir com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

 

Malu Macedo é secretária interina de Comunicação do governo do Estado do RS.

Comentários