Comunicação turística: conexões que transformam experiências

De Paolla Vitaca, para o Coletiva.net

O turismo, em sua essência, é uma jornada de descobertas e conexões. Como especialista em comunicação turística, proponho refletir sobre o papel fundamental que a comunicação exerce na formação das experiências de viagem e na criação de vínculos entre os viajantes e os destinos. Hoje, vamos compreender como esses elementos se entrelaçam, especialmente no contexto da Costa Doce, uma região rica em potencial turístico, mas frequentemente esquecida.

A conexão com o imaginário

Os lugares que habitam nosso imaginário são frequentemente acessíveis apenas através da dimensão online. Com o advento das redes sociais e blogs de viagem, viajantes compartilham suas experiências, criando uma tapeçaria de narrativas que instigam o desejo de exploração. Como aponta Guy Debord em A Sociedade do Espetáculo (1997), a representação da realidade muitas vezes substitui a própria realidade, levando os indivíduos a consumirem experiências mediadas por imagens e narrativas. Assim, nos perguntamos: como essas narrativas influenciam a escolha de destinos? O que faz um viajante escolher um lugar que nunca viu?

Essas questões nos levam a considerar a importância da comunicação turística. Seguimos a lógica de que o viajante é um consumidor em busca de satisfação e emoção. Quando uma conexão é estabelecida, seja por meio de uma bela fotografia ou uma descrição vívida, o desejo de visitar esse lugar se intensifica. É crucial lembrar, porém, que o turismo não deve se restringir à zona de conforto; as experiências devem provocar tensionamento, levando o viajante a sair de sua rotina e explorar novas possibilidades.

Por isso, o turismo é uma experiência transformadora que se conecta através da comunicação turística, estimulando os viajantes à exploração, ao lazer e, sobretudo, à felicidade. Ao rompermos com as obrigações do cotidiano (casa, família e trabalho), a viagem nos permite reconectar com nossas emoções e com a cultura local. É essencial "turistar", estar presente no espaço do viajante e vivenciar todas as sensações que o lugar tem a oferecer.

O poder simbólico e a Costa Doce


Entendendo esse ponto de vista, vamos falar sobre a Costa Doce. Esta região, que abrange 20 municípios, incluindo Pelotas, Rio Grande, São Lourenço do Sul, Camaquã, Arambaré e Tapes, é um verdadeiro tesouro a ser explorado em termos de cultura e beleza natural. No entanto, quando mencionamos turismo no Rio Grande do Sul, as respostas geralmente se restringem a destinos como Gramado e Canela.

Eis algumas questões: por que a Costa Doce não é reconhecida? O que falta para que sua riqueza cultural e paisagens sejam devidamente divulgadas?

O papel da comunicação na valorização do destino é crucial para potencializar o turismo em qualquer região. O sucesso de Gramado e Canela deve-se à criação de um mito, ritos e uma atmosfera que encantam e atraem visitantes. Max Weber (2014), em sua análise sobre a sociedade moderna, enfatiza como a construção de significados sociais influencia a percepção de realidades, o que nos leva a refletir: como a Costa Doce pode criar uma narrativa singular que atraia visitantes?

Aqui, o conceito de poder simbólico, conforme discutido por Pierre Bourdieu, nos ajuda a entender como certos destinos conseguem se afirmar na imaginação coletiva. Bourdieu (1989) argumenta que o poder simbólico é a capacidade de influenciar percepções e comportamentos através da construção de significados, algo que Gramado e Canela conseguiram fazer com maestria. As praias, cachoeiras, monumentos históricos e a culinária da Costa Doce esperam por viajantes dispostos a se deixar encantar. Porém, como podemos disseminar esse conhecimento? Se o turismo é visto como secundário, como podemos movimentar o setor e torná-lo atrativo?

A administração pública enfrenta um grande desafio. A falta de mobilização para promover o turismo na Costa Doce é alarmante. O que vemos nas placas de sinalização da BR 116 não é suficiente para despertar o interesse. Essa comunicação precisa ser elevada a um nível de prática e influência, resgatando a importância da história local e fazendo com que as pessoas queiram vivenciar o turismo na região.

É preciso dialogar com quem realmente trabalha com turismo e comunicação turística. Os destinos precisam passar por um planejamento e ser engajados por pessoas que conhecem o assunto e queiram falar sobre isso, entendendo que a relevância do turismo da Costa Doce não é uma questão de popularidade, mas de conhecimento e entendimento.

A comunicação eficaz é essencial para transformar destinos esquecidos em experiências inesquecíveis. Portanto, convido você, leitor, a refletir sobre sua própria conexão com os lugares que visita. O que faz um destino ser significativo para você? E como podemos, juntos, garantir que o turismo da Costa Doce não seja apenas uma lembrança, mas uma realidade vibrante e acessível?

O turismo se torna irrelevante apenas quando não compreendemos seu impacto e seu potencial. Então, convido a administração envolvida na região a resgatar a magia da Costa Doce e torná-la um destino de encantamento e descoberta.

Referências:

- Bourdieu, P. (1989). O Poder Simbólico.
- Debord, G. (1997). A Sociedade do Espetáculo.
- Weber, M. (2014). A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

Paolla Vitaca é especialista em Comunicação turística, mentora de Comunicação Estratégica, doutoranda e mestra em Comunicação, professora de Comunicação e Marketing e roteirista de Audiovisual.

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